Minha opinião

Na tela da sala de espera

Luciano Siqueira 
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Na clínica oftalmológica, após o credenciamento no balcão de atendimento a gente aguarda numa sala de espera onde se acomodam em filas de cadeira ao estilo auditório, pacientes e acompanhantes, diante de uma tela de TV e de um painel onde aparecem sucessivamente o nome do paciente a ser atendido e o número da sala a que deve se dirigir. 

Enquanto aguardo a minha vez, rejeito a chatice de uma tal Ana Maria Braga, na TV Globo, e me concentro no painel de chamada, onde se sucedem prenomes para mim surpreendentes, nada convencionais.

Alguns traduzem evidente homenagem a ascendentes familiares: junção de pai e mãe, tia ou tio, avós: Jaciclésia, Karycesar, Suzymary, Francinaldo, Jacycleide, Gloriane, Marivaldo, Rosevalter...

Surpreendentemente, poucos José, Antônio, Lúcia, Rosa, João, Matilde e que tais.

Havia um Agerbonio que superou a minha imaginação. 

Já Armagedon, provavelmente evangélico, se plenamente consciente do significado do seu pronome deve se sentir poderoso ou, no mínimo predestinado. Afinal carrega na assinatura o termo bíblico que se refere ao local que sediará a batalha final entre o bem e o mal. Tormentosa, épica, definitiva.

Parece que há uma lei, não tenho certeza, que reprime a criatividade espontânea na hora do registro de nascimento em cartório. Justamente para coibir atitudes como a de um incrível fazendeiro do Sul do Piauí, tio de um colega de turma meu na Faculdade de Medicina, visivelmente exagerado na dose: além de Jurema Flor do Nordeste, Índio Tupinambá Guerreiro, Irapuã Índio do Piauí... o último da prole fora registrado simplesmente Décimo Primeiro Filho.

Pior: quando o latifundiário vizinho o convidou para padrinho de uma filha recém-nascida, não se inibiu ao sugerir o nome da futura afilhada - Vaqueta Pau de Resistência -, naturalmente recusado pelo compadre. 

Cá com meus botões, eu que tenho o duplo Luciano Roberto, bem que poderia ser simplesmente Luciano Rosas de Siqueira. Mais simples de assinar e de dizer.

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