Ciência para a grandeza do Nordeste
Aldo Rebelo*, no Jornal do Commercio
A História é controversa, pois se diz que foi o
donatário Martim Afonso de Sousa que trouxe o engenho de cana para a capitania
de São Vicente, já em 1532, mas há registro seguro de que o Nordeste é o berço
da indústria no Brasil. Coube ao homem de visão Duarte Coelho implantar em
Igarassu, por volta de 1535, a primeira de uma série de fábricas do açúcar que
faria a riqueza do Brasil no século XVI. O feito histórico permanece como um
testemunho eloquente de que o Nordeste e a tecnologia caminham juntos desde o
início da formação social brasileira.
Indo ao ponto atual dessa linha do tempo, o
estereótipo da paisagem nordestina marcada pela dicotomia entre as riquezas do
litoral e as insuficiências do semiárido vem sendo revisado por uma pujança
geral, atestada pela presença e expansão da indústria automobilística, química,
naval, e de refinarias e siderúrgicas, além de setores dinâmicos da indústria
de transformação, como o de calçados, têxtil e tantos outros. No magro ano
nacional de 2014, quando o Produto Nacional Bruto cresceu apenas 0,1%, o PIB do
Nordeste subiu 3,5%.
Os números são indicadores certeiros do enorme
potencial que Duarte Coelho já identificou há quase cinco séculos. Como o
revolucionário banguê de 1535, trata-se agora de introduzir um amplo plano de
desenvolvimento científico, tecnológico e de inovação para o Nordeste, como parte
insubstituível do projeto nacional brasileiro.
Nesse sentido, o Ministério da Ciência, Tecnologia
e Inovação reuniu em Brasília governadores da região com vistas à construção de
uma agenda regional de progresso, em benefício de seus 54 milhões de habitantes
- brasileiros da gema que clamam por equidade nas iniciativas do Estado
nacional.
A Ciência e a Tecnologia, como forjadoras do
conhecimento que gera o progresso da Nação e o bem-estar de sua população,
terão de desdobrar uma vertente que, integrada ao conjunto nacional, possa
superar desigualdades já amenizadas no Sudeste e Sul do País. Cada um dos nove
estados nordestinos tem a capacidade operacional e recursos humanos para
diagnosticar as necessidades e apontar as soluções que já estão disponíveis ou
ainda podem ser geradas pela pesquisa científica e tecnológica.
Toda a estrutura do Ministério da Ciência,
Tecnologia e Inovação será posta à disposição desse programa, garantindo
permanência e continuidade às ações de órgãos já atuantes na região, como a
Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), o Conselho Nacional de
Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e a Empresa Brasileira de
Pesquisa e Inovação Industrial (Embrapii). Vale ressaltar a atividade
direcionada do Instituto Nacional do Semiárido (Insa), criado em 2004, com sede
em Campina Grande (PB), para irrigar o progresso cientifico e tecnológico nesse
mundo seco maior que a Venezuela (982.563 km²), onde, transpondo a música do
baiano Waldeck Artur de Macedo, o Gordurinha, na maior parte do tempo "só
existe água nos olhos do povo".
* Ministro da Ciência e Tecnologia
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