Mesas nas tão fartas neste São João
Luciano Siqueira
É da nossa tradição, nesta parte
do Brasil – o Nordeste: o ciclo junino – a noite de São João, dia 23, sobretudo
– é comemorado pelo nosso povo com mais amplitude e paixão do que mesmo o
Carnaval.
Não apenas no interior, mas
também nas capitais, especialmente nos bairros periféricos, a noite é
engalanada por fogueiras, quadrilhas e “palhoções” armados para o bom forró.
No Recife, a Prefeitura dá
suporte a extensa programação, envolvendo artistas da Região.
Segunda-feira última, 22, ocorreu a 9ª
Exposição da Culinária Afro-Brasileira, no Pátio de São Pedro, promovida pelo Núcleo
da Cultura Afro-Brasileira em parceria com Mãe Elza de Iemanjá. Uma celebração
da culinária africana, com cantos e rezas alusivos ao orixá Xangô e ao santo católico
São João. Expressão da miscigenação, uma das marcas da formação do nosso povo.
São João é sinal de mesa farta. Este ano,
tem tanto.
A crise econômica e a escassez de chuvas
concorrem para o aperto também à mesa. Nem tudo o que se quer é possível. Infelizmente.
O que chama a atenção para o combate à
fome em sua dimensão, digamos, universal.
Mundo afora, a fome sempre existiu. Fatores diversos
como causas – de calamidades naturais e climáticas à exploração e à iniquidade
sociais.
O paradoxo é que, nas condições de hoje, tamanha a evolução da
ciência e da tecnologia e da capacidade do homem explorar a natureza com
eficiência e bom senso, é possível produzir alimentos em dobro do necessário
para alimentar toda a população do Planeta, conforme assinala José Graziano da
Silva, diretor-geral da FAO (Organização das Nações Unidas para a Alimentação e
a Agricultura).
Daí ser significativo que, recentemente, fruto de políticas públicas
articuladas, a ONU proclamou o Brasil fora do Mapa da Fome.
Uma conquista extraordinária, verificada no transcorrer das transformações
em curso desde 2003, nos governos Lula e Dilma, em que mais de quarenta milhões
de brasileiros e brasileiras superaram as condições de existência abaixo da
linha da pobreza ou de extrema pobreza.
Conquista em certa medida ameaçada pelas graves incidências da crise
econômica global sobre o nosso País e pelo atual ajuste fiscal rigoroso. Inflação
e desemprego são irmãos gêmeos da subalimentação.
Em termos globais, a fome atinge 870 milhões de seres humanos.
O que
reclama, segundo Graziano, a correta compreensão de que “a economia é capaz de
lançar a pedra do futuro o mais longe possível. Cumpre à ética cuidar de sua
trajetória”.
Que os
festejos juninos reforcem em todos nós o melhor de nossa tradição cultural e
também reavivem a consciência de que é preciso seguir na luta pela erradicação
da fome no mundo.
Arte: Militão dos Santos
Arte: Militão dos Santos
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