Dois gênios e suas obras em domínio público
Enio Lins*
2024 alvoreceu com uma dupla notícia muito importante para a Cultura (com maiúscula) brasileira: as obras de Graciliano Ramos e de Jorge de Lima entraram para o badalado “domínio público”, findando o prazo para pagamento de direitos autorais, posto terem-se completado 70 anos do falecimento de cada um.
Isso quer dizer o que qualquer pessoa – física ou jurídica – pode fazer o que der na telha com os trabalhos dessas duas estrelas radiosas da cultura universal. Sim: tanto Graciliano quanto Jorge são artistas de relevância mundial, apesar do reconhecimento pelas metrópoles lhes ser, a ambos, muito inferior ao papel de cada um.
GÊNIOS UNIVERSAIS
Graciliano Ramos e Jorge de Lima foram dignos do Nobel. Jorge chegou a ser indicado por Arthur Lundkvist, da Academia Sueca, para Nobel no ano de 1957, mas morreu antes. Zeferino Coelho, descobridor e editor de José Saramago, fã de Graciliano, declarou, à Folha de São Paulo, que o autor de “Vidas Secas” merecia o Nobel de Literatura.
Pode conferir as (notáveis) obras de quem tenha recebido o Nobel de Literatura. Sem demérito para ninguém que levou a medalha de ouro mais disputada no mundo, os escritores de Quebrangulo e União dos Palmares são superiores, ou do mesmo nível – literariamente falando – a boa parte das genialidades laureadas nesse item.
FAZER O QUE?
Nobel já era. Fica como registro, por mera provocação, pois nem a Academia Brasileira de Letras reconhece adequadamente, até hoje, os méritos de Jorge de Lima e de Graciliano Ramos. Graciliano sempre desdenhou academias. Jorge candidatou-se por cinco vezes a uma cadeira no sodalício fundado por Machado de Assis – sem sucesso.
Cabe a Alagoas, a terra natal, em primeiro lugar, valorizar os méritos e manter viva a memória sobre essas duas fantásticas personalidades culturais universais. Desgraçadamente, a alagoanidade tem militância débil, e o nefasto “sentimento de vira-lata” termina prevalecendo mais das vezes. Mas sempre é hora de mudar isso.
PARA NÃO ESQUECER
Em 1992, o governo de Alagoas promoveu uma iniciativa única, até agora: publicou as Obras Completas de Graciliano Ramos. Geraldo Bulhões era governador, José Marques, Secretário da Fazenda, José Justo presidente do Produban – e assinaram essa histórica edição, pela Editora Record, em quatro volumes, capas duras e sobrecapas.
No Marketing do Banco da Produção, o popular Produban, estava Ciro Porto, com DNA na área, filho da escritora Ilza Porto. Sob a batuta de Bulhões, Alagoas bancou a impressão, inclusive custeando os direitos autorais, junto a Dona Heloísa Ramos, de acordo com a Lei, posto ser então apenas o 39º ano da morte do Mestre Graça. Aplausos!!
(RE)PUBLICAÇÃO JÁ!
Passados os septuagésimos aniversários das mortes de Graciliano e Jorge, muitas editoras estão na lide para ganhar dinheiro com o uso – nem sempre meritório – de qualquer obra desses dois gênios. Estão dentro da lei. E o que impede o governo de Alagoas a investir recursos públicos com a finalidade pública, absolutamente meritória, de espalhar e popularizar os escritos de Ramos e de Lima?
É hora do governo alagoano, via Imprensa Oficial, patrocinar a republicação das obras completas de Graciliano Ramos e de Jorge de Lima. É investimento cidadão, justíssimo, para tiragens capazes de abastecer todas as bibliotecas públicas alagoanas, todas as escolas no Estado (públicas e privadas), todas as instituições culturais.
Governador Paulo Dantas, a pena está na sua mão e a história à sua porta – aponha seu autógrafo numa valorização real de Jorge e Graciliano.
*Arquiteto, jornalista, cartunista e ilustrador
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