É NA ALMA
Ana Bailune
É só na alma,
Na branca paz da alma,
Na calma,
Ou na calda quente,
Fervente da alma,
Que desabrocham,
Ascendem,
Revelam-se…
É só no sangue,
No vermelho mais rubro,
No escuro,
Na luz viva
E ativa
Da alma,
Que eu me desaguo.
Não é o número
Dos meus passos,
Ou de minhas sílabas
Que determinam
O que me determina!
É só a alma,
Aquela parte de mim
Que está entre o ir
E o ficar,
O dizer
E o calar,
O morrer
E o viver,
O acordar
E o sonhar.
Sempre no meio,
Um pé no chão,
Outro na lua,
Um pensamento cúbico,
Outro pensamento súbito,
Uma nesga de treva
E outra nesga de luz.
E tudo vem da alma,
Esse lago que não seca,
Que não seca jamais.
É de lá que eles vem:
Os meus poemas,
E de nenhum outro lugar
Que tu ou qualquer
um Queiram nomear!
[Ilustração: Montez Magno]
Poema de Paulo Mendes Campos com ilustração de Helena Wierzbicki https://tinyurl.com/2jw642tm
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