Tarifas recíprocas de Trump não são bem o que parecem
Metodologia aplicada pela equipe norte-americana não tem ligação com taxa tarifária imposta por países estrangeiros aos EUA
Tatiane Correia/Jornal GGN
As tarifas impostas pelo presidente norte-americano Donald Trump a dezenas de parceiros comerciais foram apontadas como “recíprocas”, quando na verdade a metodologia empregada para tal não tem nenhuma relação com a taxa tarifária imposta aos EUA pelos países estrangeiros.
Segundo a CNN norte-americana, a administração Trump fez um cálculo “grosseiramente simplificado” que, segundo ele, levou em conta um amplo conjunto de questões, como investimento chinês, uma suposta manipulação de moeda e regulamentações de outros países.
O cálculo da administração dividiu o déficit comercial de um país com os EUA por suas exportações para o país vezes 1/2. Ou seja: basicamente Trump está “pegando uma marreta para lidar com uma ladainha de queixas, usando o déficit comercial que outros países têm com os EUA como bode expiatório”, diz a publicação.
Ao que tudo indica, os números reais provavelmente estão próximos da chamada “taxa tarifária média aplicada pela Nação Mais Favorecida (NMF)”, um teto de encargos de importação que mais de 160 países que integram a OMC (Organização Mundial do Comércio) concordaram em cobrar uma das outras, embora possam variar de acordo com o setor.
E para países com acordos comerciais vigentes, pode haver tarifas menores ou nenhuma tarifa. E Trump frequentemente afirma que sua política comercial tem como base o tema “eles nos cobram, nós cobramos deles”.
Além disso, é preciso ter em vista que muitos países possuem déficit comercial com os Estados Unidos: dados comerciais mostram que os EUA têm US$ 230 bilhões a mais em importações do que exportações para a UE e quase US$ 300 bilhões a mais para a China.
Mesmo assim, o governo de Trump apontou tarifas voltadas para a correção de déficits comerciais como uma fonte potencial de receita para pagar a estrondosa dívida nacional,e financiar os cortes de impostos. Contudo, essa aposta soa por demais arriscada e pode ser desastrosa caso os países se unam em medidas de retaliação.
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