03 abril 2025

Cai a aprovação de Lula

Quais as reais causas da queda da aprovação de Lula nas pesquisas?
Há quem atribua esse resultado à comunicação, porém, há muito mais do que isso, inclusive a falta de politização da sociedade, a ascensão do neofascismo e a subestimação da luta de ideias
Aldo Arantes/Vermelho  

A imprensa noticiou, nesta quarta-feira (2), os resultados da pesquisa realizada pela Genial/Quaest, concluindo que a desaprovação do governo Lula aumentou sete pontos, chegando a 56%, enquanto a aprovação caiu para 41%. Com isso, houve um aumento de 13 pontos na desaprovação desde julho do ano passado. Se trata da quarta queda nos índices de aprovação.

A pesquisa indica que essa redução ocorreu em todo o país, com destaque para o Nordeste, onde houve um aumento na desaprovação de 37% para 46%. Também aumentou em 64% entre os jovens e eleitores de baixa renda.

Entre as razões do aumento da rejeição, a pesquisa destaca o desgaste com o cenário econômico e o sentimento de decepção com retorno de Lula ao Planalto, ressaltando que 71% dos pesquisados acham que o presidente não tem conseguido cumprir as promessas de campanha.

Outra questão diz respeito ao aumento do custo de vida. A pesquisa constata que 88 % dos entrevistados relataram aumento no preço dos alimentos, 65% ressaltaram a alta nas contas de água e luz, 70% o aumento dos combustíveis e 81% disseram conseguir comprar menos com o dinheiro que têm atualmente do que há um ano.

A pesquisa deixa clara a queda continuada das taxas de aprovação do governo Lula. Mas, pesquisa do mesmo instituto divulgada nesta quinta-feira (3) mostra que Lula ganharia de todos os demais candidatos na próxima eleição.

Considerando ambos os resultados, torna-se essencial fazer uma análise para identificar as reais causas da queda da aprovação do governo Lula.

É fato que uma das causas da queda na popularidade reside no aumento de preços. Todavia, o governo tem adotado medidas para combater essa alta. Zerou o imposto de importação de itens como carne, café, açúcar, milho, azeite de oliva e sardinha; o Plano Safra terá como foco a cesta básica e os financiamentos do programa de estímulo à agricultura devem priorizar a produção de itens que compõem a cesta básica, com mais impulso a produtores rurais que abastecem o mercado interno.

Se é verdade que tem havido um aumento no custo de vida, é verdade, também que o PIB cresceu duas vezes mais que a média registrada entre 2019 e 2022, indo para 3,2% em 2023 e 3,4% em 2024.

E em 2024, o Brasil registrou a menor taxa de desemprego nos últimos 12 anos, 6,6%. Desde 2023, mais de 3,2 milhões de empregos formais foram gerados.

O salário mínimo voltou a ter crescimento acima da inflação. O programa Pé-de-Meia, criado para garantir a permanência de estudantes de ensino médio em sala de aula, chega a 4 milhões de jovens.

O Novo PAC prevê mais de 20 mil obras e ações com investimentos que superam R$ 1,8 trilhão. O governo federal isentou do Imposto de Renda 10 milhões de pessoas com renda até dois salários mínimos. E foi enviado ao Congresso um projeto para isentar os que ganham até R$ 5 mil a partir de 2026, além de uma gama de outras medidas.

Por que tais fatos não têm repercutido entre os entrevistados? Um dado que não pode ser menosprezado é a influência, na pesquisa, da força da ideológica da extrema direita junto a milhões de brasileiros.

Tanto assim que, entre os pesquisados, 43% manifestaram a opinião de que o governo Bolsonaro foi melhor do que o governo Lula e 39% achavam que o governo Lula é melhor.

Outro fator importante é a aliança entre a grande mídia e as redes sociais da extrema direita no combate a Lula, particularmente em relação à política econômica. É a união dos defensores da política neoliberal que negam os direitos sociais e absolutizam a questão da inflação, menosprezando o desenvolvimento do país. É evidente que isso impacta na opinião pública.

Por outro lado, a pesquisa destaca as dificuldades do governo Lula de colocar o seu projeto em prática. Todavia, há que se levar em conta a composição altamente conservadora do Congresso.
O senador Ciro Nogueira (PP-PI) nos ajuda a entender o que está ocorrendo. Em evento com investidores promovido pela Legend Investimentos, no dia 31 de março, o senador destacou o papel atual do Legislativo como fator de contenção do governo até 2026 e que o Congresso está funcionando como um dique. Evidentemente, dique contra as proposições do governo Lula. Trata-se de um evidente boicote ao governo e seu projeto.

Todavia, o “tarifaço” de Trump fez surgir uma nova realidade no Congresso com a união do governo e oposição para aprovar medidas de resposta à política do governo norte-americano. E Bolsonaro, ao manifestar apoio a essa política se colocando contra os interesses do País, mostrou, mais uma vez, sua real face de traidor da nação, deixando clara a mentira de que a pátria está acima de tudo.

Tenho lido e ouvido opiniões segundo as quais a causa principal da queda nas pesquisas diz respeito à comunicação. Penso que é muito mais do que isso.

Na verdade, há uma série de razões para explicar o que ocorre, entre elas o abandono do processo de politização da sociedade, o crescimento do neofascismo e a subestimação da luta de ideias.

A extrema direita “politizou” com ideias negacionistas de ódio e violência, formando uma corrente neofascista. Valorizou as redes sociais e investiu pesadamente na luta de ideias.

Tenho a opinião de que a questão mais importante para explicar a queda na aprovação do governo Lula diz respeito à guerra cultural. Ela conquistou as mentes das pessoas para uma visão de mundo reacionária e negacionista, que manipula a fé dos fiéis. Através da guerra cultural, a extrema direita, usando os algoritmos, conseguiu fidelizar milhões de pessoas.

Essa situação se torna mais grave com eleição de Trump e o papel exercido por Elon Musk. Esse declarou que as eleições mais importantes do mundo, em 2026, serão as presidenciais do Brasil e que ele tudo fará para derrotar Lula.

Assim, cabe ao governo, aos partidos políticos e aos movimentos sociais desenvolverem uma intensa luta ideológica democrática em torno de um programa de luta de ideias que, com base nos fatos, demonstre o negacionismo da extrema direita e suas mentiras, visando reconquistar a hegemonia das ideias democráticas e progressistas na sociedade.

Além disso, é necessário o governo dar respostas mais audaciosas como a cobrança de impostos aos mais ricos, a criação de uma alternativa de redução das horas de trabalho, entre outras medidas.

Outra questão importante, que envolve os partidos políticos e os movimentos sociais, é a necessidade da retomada do trabalho de base, nas periferias, nas fábricas e nas escolas. Há uma série de razões que explicam esse distanciamento. Não cabe aqui analisar essas causas, mas constatar o problema e adotar providências.

A situação é complexa. É necessário que cada democrata e defensor dos direitos sociais faça sua parte. Não é correto colocar toda responsabilidade em cima do governo.

As eleições de 2026 serão decisivas para o futuro do Brasil. Por isso mesmo, a análise rigorosa da situação e a adoção de medidas é fundamental para que tenhamos êxito.

Hoje, o governo lança a Campanha “Brasil dando a Volta por Cima”, em que faz um balanço dos dois anos da gestão Lula. Boa inciativa, que certamente será acompanhada de uma ofensiva de Lula no contato com o povo, seja através de manifestações explicando o que está ocorrendo, seja em viagens pelo país.

Estou convencido de que medidas serão adotadas. Além das já citadas é essencial a formação de uma ampla frente em torno de Lula.

A vitória nas próximas eleições é decisiva para assegurar o aprofundamento do processo de democratização da sociedade brasileira e derrotar o neofascismo.

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Leia também: Lula em queda? Comunicação não é tudo https://lucianosiqueira.blogspot.com/2025/04/minha-opiniao_3.html 

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