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Luciano Siqueira |
Meados de 1981, durante a Residência Médica, que fazíamos no Projeto Vitória de Saúde Comunitária da Universidade Federal de Pernambuco, coube-nos avaliar o desempenho de postos de atendimento situados na área rural. Num deles, no Engenho Galiléia, berço das Ligas Camponesas, poucos eram os homens que freqüentavam as reuniões organizadas pelo pessoal da Assistência Social. Qual o motivo? Procuramos saber do velho Euclides, que encontramos na roça, em plena labuta, sol a pique: - Doutor, pra ser sincero, os homens daqui só vão
comparecer se for uma coisa de proveito. É que o temário das reuniões, centrado na
educação sanitária, quase nada tinha a ver com a tradição de lutas do lugar.
O Programa teria que ser alterado. As pessoas curtidas na luta pela sobrevivência
são assim, querem saber o sentido das coisas. Como o motorista que nos
interpelou, dias atrás, a propósito do 11º Congresso do PCdoB, que se inicia
hoje, em Brasília, com solenidade que deve contar com a presença do
presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva; do presidente da Câmara
dos Deputados, Aldo Rebelo, de ministros, personalidades e dirigentes de
partidos e entidades; onde 1.200 delegados de todos os estados do Brasil,
debatem orientações políticas e organizativas que nortearão os comunistas nos
próximos quatro anos, sob as vistas de cerca de 50 delegações estrangeiras. Respondemos afirmativamente, o Congresso tem tudo
a ver com a vida do nosso povo. Porque trata de grandes problemas teóricos e
políticos que conformam a essência da atual situação do mundo e do Brasil,
com o sentido de lançar luz sobre os desafios conjunturais e a luta
cotidiana. Procura encontrar alternativas que nos permitam superar entraves
determinados pela atual correlação de forças mundial adversa e pelos impasses
do governo Lula, dentro de uma visão estratégica – ou seja, na perspectiva da
acumulação de forças tendo em vista a luta maior em favor de uma nação
efetivamente soberana, democrática e progressista, no seio da qual possam
emergir, adiante, condições para alcançar o socialismo. Em outras palavras: os comunistas procuram
extrair toda a compreensão possível da correlação entre a luta cotidiana,
travada em diferentes trincheiras, e a conquista de um poder político apto a
encetar as grandes transformações que a sociedade reclama. Algo de real
proveito - como diria seu Euclides da Galiléia. |
*Crônica de 2005 publicada no livro ‘O
Vermelho é Verde-Amarelo’, Editora Anita Garibaldi.
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Os muitos reencontros no Encontro do PCdoB https://lucianosiqueira.blogspot.com/2025/03/minha-opiniao_23.html
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