18 abril 2025

Thiago Modenesi opina

Trump volta atrás, mas a história não
O recuo de Trump não desfaz o dano: a confiança global nos EUA desaba, e o custo político e econômico pode ser irreversível.
Thiago Modenesi/Vermelho 

Trump recuou do seu absurdo “tarifaço” depois de uma inédita destruição de valor nos mercados do mundo inteiro. Destruição que ele causou, e segue sem admitir, fruto de sua tática de estar sempre no ataque e não reconhecer nunca quando se equivoca.

Os mercados imediatamente voltaram a subir fruto do recuo do autocrata, mas o estrago já foi feito, provavelmente sem volta, a perda de confiança no tesouro estadunidense como um porto seguro para os investidores é uma realidade. Perda também na condução geopolítica das nações alinhadas a partir da Casa Branca, países aliados tratados como inimigos, taxados, nem Israel escapou.

Esse caos causado por Trump não foi calculado, nem era uma estratégia construída e posta depois em prática, ou tática de negociação, mas sim o mais relevante caso da História Contemporânea de um suicídio político cometido pelas elites dos EUA e setores raivosos da classe media, e mesmo da massa mais pauperizada, desacreditada da política de Joe Biden e do seu Partido Democrata, que não conseguiu comunicar os avanços econômicos ou distribuir renda, e que içou de volta ao poder o que havia de mais tosco, reacionário e irresponsável, sem medir as consequências.

Mesmo setores da elite ligados ao Partido Republicano, inclusive Elon Musk, braço-direito do neofascismo emergente, hoje elevam o tom e discordam dos caminhos que tem gerado em curtíssimo prazo uma instabilidade como nunca visto antes nos EUA.

Isso tudo foi causado por um combo que juntou a ignorância, em todos os sentidos possíveis da palavra, com um roteiro marcado pela incompetência e arrogância. Cometendo um suicídio em nome deste eleitorado já aqui citado, que apontou que hoje os EUA passam celeremente a não valer mais o que representaram para grande parte do mundo desde o fim da 2ª Guerra Mundial, foram 80 anos de dominação econômica, política e cultural que agora é posta em xeque nestas 3 esferas, fruto do tarifaço.

É destruição sem rumo, sem perspectiva, sem a clareza do que vai ser edificado no lugar, a ideia da “reconstrução” da indústria dos EUA é uma ilusão em curto prazo. Como fica a economia do país e as relações internacionais deste depois de um desastre sem precedente deste tamanho? Analistas de mercado chegam a apontar que as medidas de Trump podem gerar indicadores econômicos internos para o país piores dos que os vistos na pandemia.

O cenário é de incerteza, inflação e redução do crescimento econômico, tudo em plano mundial, e um cenário em que a China vai se mostrando capaz de se reposicionar e buscar novos parceiros, mesmo com as medidas de mais de 100% de taxação dos produtos do país. O isolamento da China não se concretizou e os seus prejuízos são muito menores dos que os EUA vem colhendo nas mais variadas esferas.

Um reflexo deste desastre trumpista claro foi a saída dos EUA da posição de principal país dos G7, o autocrata conseguiu acabar com isso em apenas 3 meses. Essa terceira grande crise cíclica que o capitalismo vive parece longe do fim, além de demonstrar desesperança e descrédito das camadas médias e populares com os políticos de sempre, gerando apostas irresponsáveis, que tem desumanizado e agudizado as contradições dentro das próprias nações e entre elas, calcadas na pauta moral e de costumes.

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