Trump volta atrás, mas a história não
O recuo de Trump não desfaz o dano: a confiança
global nos EUA desaba, e o custo político e econômico pode ser irreversível.
Thiago Modenesi/Vermelho
Trump recuou do seu absurdo “tarifaço” depois de uma inédita destruição
de valor nos mercados do mundo inteiro. Destruição que ele causou, e segue sem
admitir, fruto de sua tática de estar sempre no ataque e não reconhecer nunca
quando se equivoca.
Os mercados imediatamente voltaram a subir fruto do recuo do autocrata,
mas o estrago já foi feito, provavelmente sem volta, a perda de confiança no
tesouro estadunidense como um porto seguro para os investidores é uma
realidade. Perda também na condução geopolítica das nações alinhadas a partir
da Casa Branca, países aliados tratados como inimigos, taxados, nem Israel
escapou.
Esse caos causado por Trump não foi calculado, nem era uma estratégia
construída e posta depois em prática, ou tática de negociação, mas sim o mais
relevante caso da História Contemporânea de um suicídio político cometido pelas
elites dos EUA e setores raivosos da classe media, e mesmo da massa mais
pauperizada, desacreditada da política de Joe Biden e do seu Partido Democrata,
que não conseguiu comunicar os avanços econômicos ou distribuir renda, e que
içou de volta ao poder o que havia de mais tosco, reacionário e irresponsável,
sem medir as consequências.
Mesmo setores da elite ligados ao Partido Republicano, inclusive Elon
Musk, braço-direito do neofascismo emergente, hoje elevam o tom e discordam dos
caminhos que tem gerado em curtíssimo prazo uma instabilidade como nunca visto
antes nos EUA.
Isso tudo foi causado por um combo que juntou a ignorância, em todos os
sentidos possíveis da palavra, com um roteiro marcado pela incompetência e
arrogância. Cometendo um suicídio em nome deste eleitorado já aqui citado, que
apontou que hoje os EUA passam celeremente a não valer mais o que representaram
para grande parte do mundo desde o fim da 2ª Guerra Mundial, foram 80 anos de
dominação econômica, política e cultural que agora é posta em xeque nestas 3
esferas, fruto do tarifaço.
É destruição sem rumo, sem perspectiva, sem a clareza do que vai ser
edificado no lugar, a ideia da “reconstrução” da indústria dos EUA é uma ilusão
em curto prazo. Como fica a economia do país e as relações internacionais deste
depois de um desastre sem precedente deste tamanho? Analistas de mercado chegam
a apontar que as medidas de Trump podem gerar indicadores econômicos internos
para o país piores dos que os vistos na pandemia.
O cenário é de incerteza, inflação e redução do crescimento econômico,
tudo em plano mundial, e um cenário em que a China vai se mostrando capaz de se
reposicionar e buscar novos parceiros, mesmo com as medidas de mais de 100% de
taxação dos produtos do país. O isolamento da China não se concretizou e os
seus prejuízos são muito menores dos que os EUA vem colhendo nas mais variadas
esferas.
Um reflexo deste desastre trumpista claro foi a saída dos EUA da posição
de principal país dos G7, o autocrata conseguiu acabar com isso em apenas 3
meses. Essa terceira grande crise cíclica que o capitalismo vive parece longe
do fim, além de demonstrar desesperança e descrédito das camadas médias e
populares com os políticos de sempre, gerando apostas irresponsáveis, que tem
desumanizado e agudizado as contradições dentro das próprias nações e entre
elas, calcadas na pauta moral e de costumes.
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