A grande travessia
Rafaele Ribeiro*
Seu Gaspar acordou naquela terça-feira, véspera de São João, com uma fome insuportável e, rapidamente, bateu suas frágeis asas até a copa do flamboyant, árvore de flores lindas e avermelhadas, considerada uma das mais lindas do mundo.
Se observássemos com atenção, precisamente, entre 6 e 7 horas da manhã, o flamboyant que fica na área militar, às margens da BR 232, em Recife, se enche de inúmeras borboletas, tão lindas quanto seu Gaspar.
São espécies de diferentes tamanhos, cores, asas... todas lindas, se alimentando do néctar das flores, rico em nutrientes.
Só tinha um problema para seu Gaspar que o deixava infeliz: ele não tinha família.
Dona Cigarra já estava distribuindo os convites do forró que aconteceria naquela noite; seguia toda animada conversando com um, conversando com outro... insistindo com aqueles amigos, os quais, sempre diziam que compareceriam, mas, na verdade, nunca iam à festa alguma.
Seu Gaspar resolveu ir, afinal precisava de distração... Dona Sabiá, seu Sapo, dona Rã...todos no back vocal enquanto dona Cigarra, toda metida, cantava Santana ao som da sanfona do seu Grilo; entre uma música e outra, seu Gaspar confiou à dona preguiça sua tristeza por não ter família, pois morava em um único flamboyant, onde todos já tinham seus amores.
Dona Preguiça viajou durante muitos anos pelo entorno da área militar e confidenciou ao amigo choroso que morou há alguns anos no Jardim Botânico e que, justamente, no caminho do jardim de cactos, dentro do Botânico, tinha uns quatro flamboyants, com muitas flores e borboletas.
- Quem sabe, amigo, lá você não encontra seu grande amor e se casa de vez?!
Nessa noite seu Gaspar não dormiu.
Seu Gaspar acordou naquela terça-feira, véspera de São João, com uma fome insuportável e, rapidamente, bateu suas frágeis asas até a copa do flamboyant, árvore de flores lindas e avermelhadas, considerada uma das mais lindas do mundo.
Se observássemos com atenção, precisamente, entre 6 e 7 horas da manhã, o flamboyant que fica na área militar, às margens da BR 232, em Recife, se enche de inúmeras borboletas, tão lindas quanto seu Gaspar.
São espécies de diferentes tamanhos, cores, asas... todas lindas, se alimentando do néctar das flores, rico em nutrientes.
Só tinha um problema para seu Gaspar que o deixava infeliz: ele não tinha família.
Dona Cigarra já estava distribuindo os convites do forró que aconteceria naquela noite; seguia toda animada conversando com um, conversando com outro... insistindo com aqueles amigos, os quais, sempre diziam que compareceriam, mas, na verdade, nunca iam à festa alguma.
Seu Gaspar resolveu ir, afinal precisava de distração... Dona Sabiá, seu Sapo, dona Rã...todos no back vocal enquanto dona Cigarra, toda metida, cantava Santana ao som da sanfona do seu Grilo; entre uma música e outra, seu Gaspar confiou à dona preguiça sua tristeza por não ter família, pois morava em um único flamboyant, onde todos já tinham seus amores.
Dona Preguiça viajou durante muitos anos pelo entorno da área militar e confidenciou ao amigo choroso que morou há alguns anos no Jardim Botânico e que, justamente, no caminho do jardim de cactos, dentro do Botânico, tinha uns quatro flamboyants, com muitas flores e borboletas.
- Quem sabe, amigo, lá você não encontra seu grande amor e se casa de vez?!
Nessa noite seu Gaspar não dormiu.
Pensava, pensava, pensava... já
se via casando...vestido de terno ao lado da sua noiva: uma linda e encantadora
borboleta, com direito a daminhas, bolo e música!
Agora surgia outro grande problema: como fazer aquela travessia? O Botânico ficava no outro lado da BR 232. Carros voavam, ferozmente, nessa via e ele não passava de uma miúda borboleta.
Agora surgia outro grande problema: como fazer aquela travessia? O Botânico ficava no outro lado da BR 232. Carros voavam, ferozmente, nessa via e ele não passava de uma miúda borboleta.
O dia amanheceu e ele foi logo
se perfumando, bem como fazendo as malas. Precisava tentar. Despediu-se dos amigos, dos
vizinhos e partiu feliz para a BR 232.
Era uma travessia muito
arriscada para qualquer pessoa, que dirá uma borboleta?
Ele tentava de todo jeito, mas cada vez mais que batia as asas para atravessar, um carro na maior velocidade, cruzava sua frente! Ele esperava, esperava... as motos passavam... caminhões imensos com cargas pesadas... o sol estava forte demais, seu Gaspar suava horrores, faminto, olhava para todo os lados e não via uma flor sequer... não via néctar. Nada. Estava fraco. Frustrado, pensou em desistir.
Ele tentava de todo jeito, mas cada vez mais que batia as asas para atravessar, um carro na maior velocidade, cruzava sua frente! Ele esperava, esperava... as motos passavam... caminhões imensos com cargas pesadas... o sol estava forte demais, seu Gaspar suava horrores, faminto, olhava para todo os lados e não via uma flor sequer... não via néctar. Nada. Estava fraco. Frustrado, pensou em desistir.
Como ele poderia atravessar? O
que deu na cabeça dele para achar possível ser mais rápido, voando, que um
carro na BR?
Começou a chorar, desesperado. Pousou na grama e ficou parado,
enquanto soluçava.
De repente, ele olha para sua
direita, não acredita no que vê! Será verdade? Meu Deus, ele se levanta
e esfrega os olhos...e não é que é verdade?! Sim, lá está ela! Seus olhos não
estavam errados. Ele avista uma passarela. Isso mesmo: uma enorme passarela!
Ali, estará salvo!
Ali, estará salvo!
As passarelas são como enormes
pontes por cima das BRs e foram construídas para que todos cruzassem a via de
forma segura, sem risco.
Animado, mais uma vez,
atravessou a BR 232, completamente seguro e esperançoso do que ia encontrar no
Botânico.
Não demorou muito, seu Gaspar
realizou seu sonho: casou com uma linda borboleta azul.
Hoje, eles têm vários
filhos, são todos felizes e vivem colorindo o jardim. Quando for ao Botânico,
fique atento, pois qualquer parente de seu Gaspar pode passar por você. Você sabe como reconhecê-los? Todos são borboletas azuis.
*Rafaele Ribeiro (Rafinha) integra a Brigada Ambiental da Prefeitura do Recife
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Um comentário:
No meu imaginario eu nao so cruzo com borboletas azuis, mas, leio suas cronicas, ofereço meu nectar(doces cocadas), lhe venero sua beleza interior, ás vezes chego até desconfiar que seja teatral. O meu desejo um dia é ser seu amigo e ganhar sua confiança.
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