“Ho Chi Minh: Vida e obra”,
livro de Pedro de Oliveira, é premiado pelo povo vietnamita
Blog do Renato
Ao brasileiro Pedro de Oliveira foi conferido o primeiro prêmio nacional
de comunicação externa, na categoria de livro, da República Socialista do
Vietnã, pela obra “Ho Chi Minh: Vida e obra do líder da libertação nacional do
Vietnã“, publicado pela editora Anita Garibaldi.
O prêmio foi anunciado pelo Conselho Nacional de Prêmios de Comunicação
Externa, órgão do Partido Comunista do Vietnã, e será entregue no dia 5 de
novembro, na Casa da Ópera de Hanói.
Pedro de Oliveira é um dos intelectuais mais sérios do nosso país. Em
suma, um intelectual revolucionário, profundamente identificado com o povo – e,
portanto, com a humanidade, em mais de um sentido desta palavra.
Por esta razão, seu livro, tanto na apresentação que ele – e, com destaque, também Renato Rabelo – fazem do herói, dirigente, poeta e fundador do Vietnã moderno (isto é, do Vietnã independente), quanto na seleção de textos de Ho Chi Minh, são de uma sensibilidade fundamental. Sente-se, nestes trechos, a identificação de seus autores com o homem que liderou seu povo no levantamento de sua nação.
Lembro-me de um pequeno poema de Ho, escrito em 1947:
Paisagem na noite avançada
Os arroios sussurram como cantos longínquos,
a lua se projeta sobre as grandes árvores
e a sombra faz ressaltar as flores.
A paisagem na noite avançada parece
desenhada por uma pessoa que ainda não dorme,
pensando no destino futuro de seu povo.
(Poesia Vietnamita, Editorial Arte Y Literatura, La Habana, 1984, p.
378)
Este é Ho, em sua grandeza, por inteiro. O homem que lutou, praticamente
desde criança pela libertação de seu povo – escravizado, humilhado,
vilipendiado pelo colonialismo francês, e, depois, pelo imperialismo
norte-americano, numa guerra feroz, cruel, desigual, mas, enfim, vitoriosa.
O homem que, em 1968, em plena Ofensiva do Tet, escreveu:
Há muito não faço nenhum verso.
Volto a tentá-lo hoje, e no tumulto
de todos os papéis nenhuma rima encontro –
de pronto irrompe a palavra triunfo.
(idem, p. 379, itálico no original esp.)
Não precisamos, aqui, resumir a vida de Ho, não apenas porque é
praticamente impossível, mas também porque o leitor pode encontrar valiosos
subsídios no livro organizado por Pedro de Oliveira.
Permitam-nos apenas observar que Ho percorreu o mundo. Esteve,
inclusive, no Brasil. Foi, dizem alguns, membro, em Paris, da equipe de Georges
Auguste Escoffier, chef que codificou a culinária francesa da primeira metade
do século XX.
E foi membro do Partido Socialista Francês (SFIO), do qual se afastou
para ser um dos fundadores do Partido Comunista da França (PCF). Muitos anos
depois, perguntaram a Ho porque ele se tornara comunista, ao invés de
permanecer no Partido Socialista. Ele respondeu que a posição dos comunistas a favor
da autodeterminação das nações, ao contrário dos sociais-democratas, que
tergiversavam a questão, fora decisiva para a sua opção.
Dentro da III Internacional, ele lutou sempre pelo reconhecimento da
revolução dos povos coloniais. Na década de 50, Frantz Fannon falaria da
influência da luta dos vietnamitas – em especial, da vitória vietnamita contra
os franceses em Dien Bien Phu – como fundamental para a Revolução Africana, ou
seja, para a libertação dos países africanos sob jugo colonial.
O instrumento para a libertação do colonialismo francês foi a ampla
frente denominada Việt Minh (contração de “Liga pela Independência do Vietnã”
na língua local).
Ho Chi Minh via na questão nacional o caminho da revolução. O socialismo
não é algo que, na sua concepção, se opõe à luta pela independência nacional.
Pelo contrário, ele provou, na prática, que a vitória sobre o imperialismo era
o terreno que se abria para uma nova era da humanidade.
Para gerações, a Guerra do Vietnã ficará como um exemplo de heroísmo, de
tenacidade, em que um povo decide não se submeter. O próprio acontecimento
histórico é o maior monumento possível à memória de Ho Chi Minh.
O livro de Pedro de Oliveira faz jus a esse legado – aliás, são os
próprios vietnamitas que reconhecem-no, com o primeiro prêmio que concederam a
ele.
CARLOS LOPES
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