18 outubro 2022

Ho Chi Minh, o livro

“Ho Chi Minh: Vida e obra”, livro de Pedro de Oliveira, é premiado pelo povo vietnamita

Blog do Renato

 

Ao brasileiro Pedro de Oliveira foi conferido o primeiro prêmio nacional de comunicação externa, na categoria de livro, da República Socialista do Vietnã, pela obra “Ho Chi Minh: Vida e obra do líder da libertação nacional do Vietnã“, publicado pela editora Anita Garibaldi.

O prêmio foi anunciado pelo Conselho Nacional de Prêmios de Comunicação Externa, órgão do Partido Comunista do Vietnã, e será entregue no dia 5 de novembro, na Casa da Ópera de Hanói.

Pedro de Oliveira é um dos intelectuais mais sérios do nosso país. Em suma, um intelectual revolucionário, profundamente identificado com o povo – e, portanto, com a humanidade, em mais de um sentido desta palavra.


Por esta razão, seu livro, tanto na apresentação que ele – e, com destaque, também Renato Rabelo – fazem do herói, dirigente, poeta e fundador do Vietnã moderno (isto é, do Vietnã independente), quanto na seleção de textos de Ho Chi Minh, são de uma sensibilidade fundamental. Sente-se, nestes trechos, a identificação de seus autores com o homem que liderou seu povo no levantamento de sua nação.

Lembro-me de um pequeno poema de Ho, escrito em 1947:

Paisagem na noite avançada
Os arroios sussurram como cantos longínquos,

a lua se projeta sobre as grandes árvores

e a sombra faz ressaltar as flores.

A paisagem na noite avançada parece

desenhada por uma pessoa que ainda não dorme,

pensando no destino futuro de seu povo.

(Poesia Vietnamita, Editorial Arte Y Literatura, La Habana, 1984, p. 378)

Este é Ho, em sua grandeza, por inteiro. O homem que lutou, praticamente desde criança pela libertação de seu povo – escravizado, humilhado, vilipendiado pelo colonialismo francês, e, depois, pelo imperialismo norte-americano, numa guerra feroz, cruel, desigual, mas, enfim, vitoriosa.

O homem que, em 1968, em plena Ofensiva do Tet, escreveu:

Há muito não faço nenhum verso.

Volto a tentá-lo hoje, e no tumulto

de todos os papéis nenhuma rima encontro –

de pronto irrompe a palavra triunfo.

(idem, p. 379, itálico no original esp.)

Não precisamos, aqui, resumir a vida de Ho, não apenas porque é praticamente impossível, mas também porque o leitor pode encontrar valiosos subsídios no livro organizado por Pedro de Oliveira.

Permitam-nos apenas observar que Ho percorreu o mundo. Esteve, inclusive, no Brasil. Foi, dizem alguns, membro, em Paris, da equipe de Georges Auguste Escoffier, chef que codificou a culinária francesa da primeira metade do século XX.

E foi membro do Partido Socialista Francês (SFIO), do qual se afastou para ser um dos fundadores do Partido Comunista da França (PCF). Muitos anos depois, perguntaram a Ho porque ele se tornara comunista, ao invés de permanecer no Partido Socialista. Ele respondeu que a posição dos comunistas a favor da autodeterminação das nações, ao contrário dos sociais-democratas, que tergiversavam a questão, fora decisiva para a sua opção.

Dentro da III Internacional, ele lutou sempre pelo reconhecimento da revolução dos povos coloniais. Na década de 50, Frantz Fannon falaria da influência da luta dos vietnamitas – em especial, da vitória vietnamita contra os franceses em Dien Bien Phu – como fundamental para a Revolução Africana, ou seja, para a libertação dos países africanos sob jugo colonial.

O instrumento para a libertação do colonialismo francês foi a ampla frente denominada Việt Minh (contração de “Liga pela Independência do Vietnã” na língua local).

Ho Chi Minh via na questão nacional o caminho da revolução. O socialismo não é algo que, na sua concepção, se opõe à luta pela independência nacional. Pelo contrário, ele provou, na prática, que a vitória sobre o imperialismo era o terreno que se abria para uma nova era da humanidade.

Para gerações, a Guerra do Vietnã ficará como um exemplo de heroísmo, de tenacidade, em que um povo decide não se submeter. O próprio acontecimento histórico é o maior monumento possível à memória de Ho Chi Minh.

O livro de Pedro de Oliveira faz jus a esse legado – aliás, são os próprios vietnamitas que reconhecem-no, com o primeiro prêmio que concederam a ele.

CARLOS LOPES

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