Polêmica do BC independente esconde uma das causas reais da inflação
Fernando Siqueira/Aepet
A mídia tem dado ampla cobertura à fala do
presidente Lula contra a independência do Banco Central e os juros absurdos de
13,75% ao ano, a maior taxa real do mundo, que impede o crescimento sustentável
do Brasil.
Realmente
é inviável o crescimento com os juros nesse patamar. Os países desenvolvidos
estabelecem juros de 1 a 2%. O Japão no auge do seu crescimento tinha juros
negativos. Além disto, há fortes controvérsias se os juros altos realmente
combatem a inflação.
Mas
por trás de toda essa polêmica, fica abafado uma das principais causas da
inflação, que é o preço absurdo do óleo diesel. O óleo diesel é o principal
componente do sistema de transportes, pois ele é o combustível usado no
transporte de alimentos, pessoas, materiais, equipamentos e muitos outros.
Assim,
quando o diesel sobe, ele encarece o preço dos produtos em geral. Vimos que a
inflação de alguns dos alimentos, que penaliza os mais pobres, subiu cerca de
30% em 2022. E o grande vilão dessa alta é o óleo diesel, como principal insumo
do transporte. Aliás, o diesel sempre teve o seu preço inferior ao da gasolina,
inclusive houve períodos em que ele foi subsidiado exatamente para conter a
inflação. Hoje está maior.
Em
artigo recente, no site da Aepet, eu mostro que o PPI (Preço de Paridade de Importação)
– estabelecido por Pedro Parente visava jogar a Petrobrás contra a opinião
pública com o objetivo de justificar a sua privatização, dando sequência ao que
ele e Reischstul tentaram em 2002, chegando a mudar nome para Petrobrax.
Com
o PPI o Diesel chegou ao preço absurdo de R$ 4,50 por litro (na refinaria), até
janeiro de 2023, quando a Petrobrás reduziu para R$ 4,10 por litro. Ocorre que
para cada litro de diesel vendido na bomba, a Petrobras fornece 90% e o
biodiesel 10%. Assim, se para 90% ela recebia R$ 4,50, para 100% do litro ela
recebia R$ 5,00! Ora o custo de produção do diesel para a Petrobras é cerca de
R$ 1,20 por litro. Portanto, ela obtinha um ganho absurdo superior a 300%
gerando lucros estratosféricos que não ajudava o povo brasileiro, que era o
verdadeiro dono da Petrobras até o Governo FHC, quando o Governo detinha 84% do
capital social da Petrobras. No ano 2000, o presidente da Petrobras vendeu 36%
das ações dela na Bolsa de Nova Iorque e, no final do Governo, a União passou a
deter apenas 37% do capital social. Em 2010, com a Lei da cessão onerosa e a
capitalização da Petrobras, o governo passou a deter 48% desse capital social.
No Governo Bolsonaro, o Banco do Brasil e a Caixa Econômica Federal venderam
suas ações e novamente a participação do Governo caiu para 36,75% do capital
social da Companhia. Portanto, 63,25% do capital social da Petrobras pertencem
ao capital privado, sendo 77% destes, investidores estrangeiros e 44% só na
bolsa de Nova Iorque (George Soros e fundos abutres).
Assim
a Petrobras ficou submetida a Leonina Lei Sarbannes Oxlei criada para as ações
que integram aquela Bolsa em face de diversas fraudes ocorridas com empresas
americanas. Foi por essa razão que a Petrobras pagou cerca de R$ 13 bilhões, na
gestão Parente, por uma ação movida pelos investidores americanos, antes da
ação transitar em julgado.
CONCLUSÃO
Com
o preço absurdo do diesel, a Petrobras sequestra patrimônio do povo brasileiro.
Mais grave: ao invés de investir esse lucro obsceno nos seus projetos e gerar
empregos e desenvolvimento no País, ela o repassa para os 63,25% de acionistas
privados mencionados. Assim, no ano de 2022, ela está pagando, em dividendos,
para esses acionistas R$ 215 bilhões.
Outra
consequência danosa, já mencionada acima, é que esse preço imoral do diesel
eleva a inflação e, consequentemente, os juros da dívida do Governo disparam.
Hoje, está em 13,75%, o maior percentual real do mundo, e o governo, novamente,
transfere para os bancos o patrimônio do povo brasileiro. Segundo a Auditoria
Cidadã da Dívida, só em 2022, o governo federal pagou R$ 1,879 trilhão pelo
serviço total da sua dívida, sendo este valor a soma dos juros, amortizações e
rolagem.
É
por essa razão que o sistema financeiro internacional, o famigerado mercado,
faz um estardalhaço na mídia quando o Governo tenta baixar os preços dos
derivados da Petrobras. O diesel caro eleva a inflação, o Banco Central eleva
os juros, o Sistema Financeiro, inclusive bancos estrangeiros, tem ganhos
estratosféricos. E não oferecem nenhum retorno para o País, muito pelo
contrário: sugam o patrimônio nacional. [Ilustração: Alves]
Fernando Siqueira é
diretor da AEPET
O imposto de exportação de óleo cru reduz preços dos
combustíveis para a população https://bit.ly/3lcffcT
Nenhum comentário:
Postar um comentário