09 março 2023

Minha opinião

Os partidos e o governo de frente ampla

Luciano Siqueira

 

Nada é simples na luta política, sobretudo quando se pretende transformar a sociedade levando-a a um patamar superior.

No Brasil, mais ainda — não apenas pela complexa e instável conformação social e política, como pela fragilidade e dispersão da representação partidária.

Como agora, em que as expectativas da nação estão voltadas para a possibilidade de êxito do governo de frente amplíssima liderado por Lula.

Em torno de cada questão relevante, complexo jogo de forças. 

Na oposição, a extrema direita negacionista em toda linha. 

No seio do governo e da sua base social de sustentação, diferenciadas posições sobre uma mesma questão. Pois o conflito entre o novo que pretende avançar e o velho, que resiste postulando mudanças apenas moderadas, ocorre a todo instante.

Por sua vez, dentre os segmentos sociais que se organizam de diversas formas para reivindicar posturas e posições, nem sempre há absoluta convergência em relação à proposições oriundas do governo. 

Natural e benéfico que assim seja.

Essas aparentes dissensões traduzem, em última instância, embates de interesses de classes e de segmentos de classes. Bem compreendidas, contribuem para a formação de uma consciência social politicamente avançada.

Aos partidos políticos mais comprometidos com a essência da reconstrução nacional, cabe o empenho de todas as formas para o êxito do governo, preservando contudo a sua distinção institucional. Governo é governo; partido é partido.

O PCdoB formulou isso muito bem em sua 9⁰ Conferência Nacional, em junho de 2003, no início do primeiro governo Lula - do qual participou, como agora, no primeiro escalão e como aliado de primeira hora - ao adotar uma postura tática "propositiva e ao mesmo tempo crítica".

Na prática, nos dois governos Lula e no período de Dilma Rousseff, o PCdoB deu relevante contribuição em diferentes ministérios e em níveis administrativos intermediários, sem contudo, na sua missão específica de partido político de posição programática própria, abrir mão da crítica toda vez que julgou necessário. Em relação à política macroeconômica, por exemplo.

Discrepâncias perfeitamente compreensíveis e capituladas no saudável ambiente de distinção entre partidos e governo.

[Texto da minha coluna de todas as quinta feiras no portal Vermelho www.vermelho.org.br]

Às vezes o que reluz é ouro https://bit.ly/3Ye45TD

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