Semana Santa, saúde da democracia, e anistia pecaminosa
Enio Lins
COMO SEMPRE, quando algum perigo se aproxima, o ex-capitão acha melhor jair apelando ao vitimismo. A receita é simples: ao se ver numa enrascada, anuncia-se com um pé na cova e se refugia no hospital mais próximo. Busca gerar renovadas ondas de compaixão entre seus seguidores e substituir sua presença no noticiário policial pelo destaque na seção de pré-obituário. Verdade é que alguma anormalidade existe desde a operação feita às pressas, em 6 de setembro de 2018, em Juiz de Fora, a da tão famosa quanto misteriosa facada “milagrosa”. Apesar do dito mito esfaqueado não ter sangrado, nem ter tido sequer a camiseta canarinho perfurada (ou não foi apresentada na ocasião), uma cirurgia de urgência foi realizada. Aquele acontecimento altamente suspeito, além de ter lhe salvado da derrota nas urnas naquele pleito, tem possibilitado à tão escatológica criatura essa rota de fuga: a mesa de cirurgia. Já são seis, na conta oficial, os procedimentos cirúrgicos, sem contar as hospitalizações eventuais.
VAMOS TORCER por sua recuperação. Não se deve desejar para ele o que ele desejou para Dilma e para Lula quando doentes. Da mesma forma é incorreto sugerir que o mito seja atendido por um profissional do quilate do Dr. Tibiriçá – seu maior ídolo. Entretanto, é indispensável perceber que o doente em tela quer medicamento além do ser anistiável. O mito quer-se inimputável ad aeternum. E nesta luta tremenda, hercúlea, para poder seguir saudável no cometimento de todo tipo de crime (dos delitos milicianos aos golpes de Estado, passando pela multiplicação patrimonial), é utilíssimo jair se fazendo de coitadinho. Aos moribundos sempre são dirigidos gestos de condescendência, complacência e comiseração. É isso o que o falso messias mais almeja: inspirar dó até que suas tripas em nó ; se desfaçam em evacuações sobre a Constituição, sobre o Estado Democrático de Direito e sobre o Código Penal. Mas prisão de ventre não deve ser desejada a ninguém, muito menos como réquiem. Que o ex-capitão recupere integralmente seu funcionamento intestinal, e que, quando de seu retorno à prisão (pois já viu o sol nascer quadrado, em 1986) possa usufruir de equipamentos adequados, como um higiênico vaso sanitário turco, conforme rezam as regras para penitenciárias.
É ATITUDE CIDADÃ lutar contra a utilização de qualquer tipo de doença como tática para solapar a Constituição, o Estado de Direito Democrático e o Código Penal. Até porque se a moda pega, as penitenciárias vão virar enfermarias e antessalas da impunidade, e teremos gente como Marcola e Fernandinho Beira-Mar exigindo anistias por conta dos intestinos presos ou inconveniências do tipo. Nessa temática, o Brasil passa, nas proximidades desta Semana Santa, por um grande risco para a sua saúde democrática: a anistia licenciosa, codelinquente, cúmplice de um crime recorrente, que é a conivência para com golpes de Estado. Pela primeira vez em seus 525 anos de existência, o Brasil está prestes a expelir uma hipóstase que tem obstruído os intestinos da história nacional há séculos: a coone stação para com líderes criminosos golpistas.
JAIR MESSIAS QUER USAR de sua doença para manter o Brasil doente. Quer travar os intestinos da República impedindo que dali seja extirpado o tumor maligno do qual a tentativa de golpe em 8 de janeiro de 2023 é apenas uma metástase. Pela primeira em sua sofrida história com mais de meio milênio, a nação brasileira assiste a Justiça chamar à responsabilidade penal golpistas de alta patente, incluídos nesse rol de réus um ex-presidente da República e alguns oficiais subversivos. Isso sim é redenção, salvamento. Que não seja esse processo interrompido por anistias corruptoras, e que esses dejetos sejam, enfim, expelidos pelo organismo democrático. E, repetindo, saúde ao mito para que ele possa responder por seus crimes sem desconfortos extras. Amém.
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Ex-presidente encurralado https://lucianosiqueira.blogspot.com/2025/04/minha-opiniao_33.html
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