15 junho 2025

Palavra de poeta

BALADA DA PALAVRA E DO SILÊNCIO
Maurílio Rodrigues* 

Diante do silêncio
A palavra se espanta,
Recua, e até pede perdão,
Por importuná-lo.
 
Mas, ela reserva a vontade,
De falar e ser ouvida.
Para ela, isso é o principal,
Ganhar os confins do mundo.
 
A palavra tem a necessidade
De emergir e colocar-se
Acima do céu, e do silêncio,
Para, então, alcançar o mundo.
 
E o silêncio o que faz
Com o mundo?
Torna-o trágico e triste,
Como os campos inundados.
 
A noite chega,
E torna o silêncio refém,
Nas ruas e nos quartos,
Sem fazer diferença.
 
Por logos momentos,
O silêncio ocupa nosso espaço,
Mistura-se à escuridão,
Que sempre lhe dá abrigo.
 
As noites do sul,
Não diferem das do norte,
São feitas de horas pesadas,
E portas trancadas.
 
As palavras que surgem
Dos escombros silenciosos,
Geralmente são amargas,
Ou gritos de sofrimento.

[Ilustração: Imagem produzida em IA]

*Médico cardiologista, poeta
Leia também "Homem comum", um poema de Ferreira Gullar https://lucianosiqueira.blogspot.com/2025/02/palavra-de-poeta-ferreira-gullar.html 

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