23 dezembro 2025

Minha opinião

Pesquisa antecipada, a quem serve? 
Luciano Siqueira 
instagram.com/lucianosiqueira65  

A realização de pesquisas eleitorais surgiu para valer no Brasil a partir das eleições de 1974, coincidindo com a fase de declínio da ditadura militar. É quando o norte-americano Instituto Gallup ganha notoriedade entre nós. 

Desde então, outros, a exemplo do extinto Ibope e Datafolha, se encarregam das sondagens em âmbito nacional.

Em âmbito regional, inúmeras são as empresas de diversos portes que se dedicam à tarefa.

E não são poucos os casos em que as tendências proclamadas até as vésperas do peito foram desmentidas na boca da urna. Muitas variáveis influenciam o comportamento do eleitor n9s últimos minutos da porfia. 

Muito antecipadas, servem também como instrumento de ação política. Candidatos majoritários que aparecem bem tratam de difundir a impressão de que tendem a vencer o pleito, fortes que se apresentam em relação aos seus possíveis adversários. 

Trata-se de um bom negócio, cujo volume de recursos financeiros é substancial.

No jogo pesado da política, desde já os números sugeridos pelos principais institutos servem de arma para aqueles que aparecem na frente e tratam de amealhar mais apoios. 

Em Pernambuco, atualmente o pré-candidato João Campos (PSB), prefeito do Recife, parte na frente com boa margem de distância em relação à governadora Raquel Lyra (PSD).

Porém é preciso cautela e paciência. Vários fatores que podem favorecer a governadora, incluindo o potencial de persuasão reunido na máquina administrativa, por exemplo, agora é que começam a ser utilizados para valer. 

Sempre se disse aqui na província que mais apaixonante do que o poder é a expectativa de alcançá-lo. 

Enquanto João Campos difunde os bons resultados atuais, a governadora Raquel Lyra contra-ataca com maciça propaganda institucional tentando passar a impressão de que agora sim, o governo acelera ações em benefício da população. 

Vale a paciência em examinar os acontecimentos após o peru do Natal e os fogos de artifício do réveillon. A partir daí, incluindo o curto período de reinado de Momo, as articulações entre as forças políticas se acentuam e ganham velocidade até julho, quando as convenções partidárias celebrarão as alianças cortejadas pelos dois lados e, portanto, a dimensão da disputa estará mais clara. 

Para quem leva a sério o assunto, melhor a cautela do que a precipitação.

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Leia também: "Cópia desbotada" https://lucianosiqueira.blogspot.com/2025/12/minha-opiniao_21.html

Boa notícia

Valorização do salário mínimo, em R$ 1.621,00, reforça renda e combate desigualdades
Nota técnica do Dieese aponta que política de valorização do salário mínimo amplia consumo, reduz desigualdades e fortalece a economia, com impacto direto sobre emprego e proteção social
Cezar Xavier/Vermelho  

A partir de 1º de janeiro de 2026, o salário mínimo (SM) oficial no Brasil será fixado em R$ 1.621,00, o que representa reajuste nominal de 6,79% em relação ao valor anterior. Reajuste impacta 61,9 milhões de brasileiros e injeta R$ 81,7 bi na economia; Previdência terá custo adicional de R$ 39,1 bi. De acordo com a Nota Técnica nº 289 divulgada nesta segunda (22) pelo Dieese, o Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos, o reajuste real do piso nacional tem efeito direto na renda de milhões de trabalhadores, aposentados e beneficiários de programas sociais.

A política de valorização do salário mínimo volta a ocupar posição central na estratégia de desenvolvimento econômico e social do país. Após anos de estagnação e perdas inflacionárias, a recomposição do salário mínimo representa um movimento de reconstrução do poder de compra das camadas populares e de fortalecimento do mercado interno.

Com o novo valor, o salário mínimo passará a comprar 1,93 cestas básicas em São Paulo — o maior patamar desde 2019. Desde 2002, o piso nacional acumula ganho real de quase 100%, resultado da política permanente de valorização retomada em 2023 após anos de estagnação. 

Impacto direto na redução das desigualdades

O estudo destaca que o salário mínimo é um dos instrumentos mais eficazes de redução das desigualdades no Brasil. Como parcela significativa da população recebe rendimentos vinculados a ele, qualquer ganho real tem efeito redistributivo imediato.

Além dos trabalhadores formais, o reajuste beneficia aposentadorias, pensões e benefícios assistenciais, ampliando a proteção social e reduzindo a vulnerabilidade econômica das famílias de baixa renda.

Estímulo à economia e ao mercado interno

Outro ponto central da nota é o impacto macroeconômico positivo. O aumento do salário mínimo impulsiona o consumo, especialmente nos setores de comércio e serviços, dinamizando economias locais e regionais.

Segundo a análise, o efeito multiplicador da renda nas camadas populares contribui para o crescimento econômico sem pressionar de forma relevante a inflação, contrariando argumentos recorrentes do discurso fiscalista. 


Sustentabilidade fiscal e responsabilidade social

A Nota Técnica também rebate a ideia de que a valorização do salário mínimo compromete as contas públicas. O documento aponta que parte do impacto fiscal é compensada pelo aumento da arrecadação, decorrente do maior nível de atividade econômica.

Além disso, reforça que políticas de austeridade que comprimem renda tendem a aprofundar desigualdades e fragilizar a coesão social, produzindo custos econômicos e sociais de longo prazo.

Salário mínimo como instrumento de desenvolvimento

Por fim, o estudo reafirma que o salário mínimo não deve ser tratado apenas como variável fiscal, mas como instrumento estruturante de desenvolvimento. Sua valorização está associada à melhoria das condições de vida, ao fortalecimento do trabalho formal e à reconstrução de um projeto nacional baseado na inclusão social.

A retomada dessa política sinaliza uma inflexão em relação ao período de desmonte e reafirma o papel do Estado na promoção do crescimento com justiça social.

  • Novo valor combina inflação passada e teto de crescimento real

O salário mínimo de 2026 será de R$ 1.621, resultado de um reajuste nominal de 6,79%. O cálculo considerou a inflação medida pelo INPC (4,18%) e um aumento real limitado a 2,5%, devido ao novo regime fiscal.

  • Impacto de R$ 81,7 bilhões na economia atinge 61,9 milhões

Cerca de 61,9 milhões de brasileiros têm renda vinculada ao piso nacional. O reajuste gerará um incremento total de R$ 81,7 bilhões na economia, sendo os maiores impactos entre beneficiários do INSS e empregados formais.

  • Previdência Social terá custo extra de R$ 39,1 bilhões

Com 70,8% dos beneficiários recebendo até um salário mínimo, cada real de aumento tem impacto de R$ 380,5 milhões na folha previdenciária. O reajuste de R$ 103,00 elevará os gastos em cerca de R$ 39,1 bilhões anuais.

  • Setor público municipal, especialmente no Nordeste, é o mais afetado

Enquanto na esfera federal apenas 0,76% dos servidores ganham até um SM, nos municípios essa fatia chega a 10,72%. O impacto no orçamento é maior nas prefeituras do Norte e Nordeste.

  • Política de valorização perde força com novo quadro fiscal

Entre 2004 e 2014, o salário mínimo acumulou ganhos reais expressivos. A partir de 2015, os reajustes foram moderados e, entre 2019 e 2022, limitaram-se a repor a inflação, sem aumento real. A retomada de ganhos a partir de 2023 ocorre agora sob limites fiscais.

  • Poder de compra em relação à cesta básica atinge melhor patamar desde 2019

Em janeiro de 2026, o salário mínimo poderá adquirir 1,93 cestas básicas em São Paulo, o maior índice desde 2019. Ainda assim, o valor necessário para suprir necessidades básicas segue acima do piso oficial.

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Leia também: Pobreza e desigualdade caem ao menor nível em três décadas https://lucianosiqueira.blogspot.com/2025/11/boa-noticia_25.html 

Fotografia

 

Tuca Siqueira

Leia: "Onça, câncer e comunismo" https://lucianosiqueira.blogspot.com/2025/12/minha-opiniao_11.html 

Fundação Grabois 2026

Luta de ideias, pesquisa e China: os eixos que orientam a Grabois para 2026
Reunião da Diretoria destaca três vetores de atuação, debate a atualização programática do PCdoB até 2027 e reafirma o papel da Fundação na formulação política.
Renata Martins/Portal Grabois www.grabois.org.br   
 

Reunida em São Paulo, na última segunda-feira (15), a Diretoria Executiva da Fundação Maurício Grabois realizou um balanço das principais ações desenvolvidas ao longo de 2025 e debateu as prioridades políticas e institucionais para o próximo período. Em um cenário nacional e internacional marcado por disputas intensas no campo político, ideológico e geopolítico, a reunião reafirmou o papel da Grabois como espaço estratégico de formulação, pesquisa e disputa de ideias no campo progressista.

Na avaliação apresentada pelo presidente da Fundação, Walter Sorrentino, a atuação da Grabois em 2025 se estruturou a partir de três grandes vetores: o fortalecimento dos Grupos de Pesquisa, a consolidação da comunicação como eixo da luta de ideias e o aprofundamento da interação com a China.

Luta de ideias como campo estruturado de militância

Ao fazer o balanço político do período, Sorrentino destacou a necessidade de avançar na institucionalização da luta de ideias como dimensão central da atuação do PCdoB. Para ele, intensificar essa frente significa compreendê-la como uma forma específica de militância, voltada à produção de conhecimento, à pesquisa e à elaboração teórica.

Para o presidente da Grabois, trata-se de reconhecer a existência de um locus próprio de atuação. “Você tem que produzir conhecimento, investigar, pesquisar”, disse, ao defender que quadros partidários possam assumir explicitamente essa missão.

Grupos de Pesquisa como base da elaboração

O primeiro vetor destacado no balanço foi o potencial dos Grupos de Pesquisa (GPs) responsáveis por intervenções como a Nota Técnica sobre minerais críticos e terras raras e o documento com recomendações para a COP30.

Para 2026, a perspectiva é aprofundar essa frente por meio da realização de um encontro nacional de pesquisadores vinculados ao PCdoB, reunindo mestrandos, doutorandos, mestres e doutores.

“Nossos pós-graduandos vão apresentar o trabalho que estão realizando em função dos temas dos grupos. A Bahia fez um evento desse tipo, foi riquíssimo. Ficamos com um cabedal do que os comunistas estão pesquisando”, afirmou o presidente, ao defender a valorização desse acúmulo intelectual como parte da luta de ideias.

Comunicação como eixo estratégico

O segundo vetor foi a comunicação, entendida como dimensão constitutiva da disputa de hegemonia. Em 2025, a Grabois avançou na reorganização de suas plataformas digitais, com a consolidação do Portal Grabois, o crescimento das redes sociais, a retomada da TV Grabois e a criação de canais próprios de relacionamento com o público.

Nesse contexto de ascensão, a área ganha mais representação. A jornalista e mestranda Sarah Cavalcante assume a Diretoria do Trabalho de Comunicação da Fundação, após atuar como gerente do setor. A mudança foi apresentada como parte de um processo de amadurecimento institucional, que reconhece a centralidade da comunicação articulada à produção intelectual e à formação política.

Interação com a China e agenda internacional

O terceiro vetor destacado foi o aprofundamento da interação com a China, por meio do fortalecimento das relações institucionais e da criação do Centro de Estudos Avançados Brasil-China (CEBRACH). A iniciativa foi apontada como estratégica para qualificar o debate brasileiro sobre a China contemporânea, sua experiência de modernização e suas implicações para o desenvolvimento nacional.

Parcerias editoriais, intercâmbios institucionais e a perspectiva de cursos e formações integram essa frente, que tende a se consolidar como um eixo duradouro da atuação da Fundação nos próximos anos.

Atualização do Programa Socialista até 2027

A reunião também abordou a tarefa de atualização do Programa Socialista do PCdoB, prevista até 2027 e atribuída à Fundação Grabois. Para Sorrentino, não se trata de um programa teórico abstrato, mas de uma atualização ancorada na trajetória do Partido e nas resoluções do 16º Congresso.

“Não é um programa para nós, um programa teórico de fundo. Vamos partir do atual programa, do rumo da luta pelo socialismo e da evolução do pensamento programático do PCdoB”, afirmou.

A vice-presidente da Fundação, Madalena Guasco, destacou a importância da Grabois assumir essa responsabilidade, ressaltando a capacidade da Fundação de articular grupos de pesquisa e frentes de trabalho. Para ela, o principal desafio é compreender que atualizar o programa significa atualizar a leitura da realidade.

“Não é só atualizar o português, é atualizar a realidade”, observou. Segundo Madalena, temas centrais como soberania e industrialização precisam ser repensados à luz das transformações do capitalismo contemporâneo e das novas disputas globais. “Falar em soberania hoje é diferente de falar há 20 anos. A realidade mudou. A história não volta para trás”, afirmou.

As prioridades para 2026 estarão concentradas no fortalecimento dos Grupos de Pesquisa, no avanço da cooperação internacional e a condução do processo de atualização do Programa Socialista do PCdoB.

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O lugar do PCdoB na cena política https://lucianosiqueira.blogspot.com/2025/11/partido-renovado-e-influente.html 

Minha opinião

Exibicionismo planejado
Luciano Siqueira 
instagram.com/lucianosiqueira65   

Percorro o olhar sobre as manchetes e descubro que um famoso casal, constituído por um cantor e uma atriz, tornou público o fim do matrimônio. 

Ou seja, tomados pelo desamor tratam de anunciar ao mundo que já não são um casal. 

Por que não preservar a informação para os mais íntimos? 

Porque o show business assim deseja, quer dizer, a fofoca é tão importante que pode gerar algum tipo de empreendimento e, consequentemente, de lucro. Para os que se separam e para a mídia especializada. 

Hipótese pior e até degradante seria a de que o anúncio se presta a abertura de ambos a novos relacionamentos, de preferência do padrão recém-extinto: entre famosos. 

Ainda na adolescência estranhava muito a existência dos paparazzi, que perseguiam celebridades em busca de uma imagem íntima. 

Igualmente achava esquisito que as tais celebridades não se escondessem o suficiente para não ser flagradas. Parecia um jogo combinado: o fotógrafo abelhudo ganhava uns bons trocados de revistas e jornais pelo flagrante obtido e suas supostas vítimas tinham o prestígio reforçado.

Ora, nos dias que correm esse mecanismo cúmplice certamente foi elevado à enésima potência, pois além da mídia impressa mais intimidade divulgam em fração de segundos nas redes digitais. 

E assim o ex-casal pode se vangloriar de que levam vantagem mesmo quando o amor fracassa. 

Essa é a "modernidade" do tempo presente: discrição apenas para gente comum, e olhe lá — se resistir à tentação de por a fofoca no story ou no feed.

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Leia também: Face cruel da opressão de gênero https://lucianosiqueira.blogspot.com/2025/12/violencia-contra-mulher.html

Palavra de poeta

Wave
Tom Jobim  


Vou te contar
Os olhos já não podem ver
Coisas que só o coração pode entender
Fundamental é mesmo o amor
É impossível ser feliz sozinho...

O resto é mar
É tudo que não sei contar
São coisas lindas que eu tenho pra te dar
Vem de mansinho à brisa e me diz
É impossível ser feliz sozinho...

Da primeira vez era a cidade
Da segunda o cais e a eternidade...


Agora eu já sei
Da onda que se ergueu no mar
E das estrelas que esquecemos de contar
O amor se deixa surpreender
Enquanto a noite vem nos envolver...

Vou te contar.

[Ilustração: Richard Diebenkorn]

Leia também: "Canção da moça de dezembro" https://lucianosiqueira.blogspot.com/2025/12/palavra-de-poeta_10.html 

22 dezembro 2025

Minha opinião

Sempre na superfície maledicente 
Luciano Siqueira 
instagram.com/lucianosiqueira65  

O complexo mediático dominante oscila sempre entre dois extremos: o governo ganha ou perde; nenhuma mediação mais próxima da realidade em movimento. 

É caso do Parlamento. Hoje as manchetes sugerem uma "reaproximação" do governo com a Câmara dos Deputados e o Senado. Isto porque Lula volta a conversar com os presidentes das duas Casas.

Mas não é aí que reside a essência das coisas; é na correlação de forças! 

Dos 513 deputados federais, cerca de quatro quintos se elegeu votando em Bolsonaro. E seguem em princípio na oposição, salvo pontualmente, matéria a matéria, isso implicando em persistente e hábil esforço dos interlocutores do governo, e do próprio Lula, no trato da pauta em cada momento. 

Por que a cobertura jornalística não dá ênfase a esse "detalhe"? Por que não é honesta nem equilibrada. A intenção permanente é de desgastar o governo.

Daí "analistas" dos diversos órgãos de comunicação majoritariamente trabalharem com uma lupa à mão sempre em busca de detalhes que possam, eventualmente, servir de argumento para a proclamação de sucessivas "derrotas" de Lula na relação entre o executivo e ao legislativo. 

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Terras raras: por que evitar aproximação com os EUA https://lucianosiqueira.blogspot.com/2025/10/reservas-estrategicas.html