15 abril 2025

Enio Lins opina

Semana Santa, saúde da democracia, e anistia pecaminosa
Enio Lins 

COMO SEMPRE, quando algum perigo se aproxima, o ex-capitão acha melhor jair apelando ao vitimismo. A receita é simples: ao se ver numa enrascada, anuncia-se com um pé na cova e se refugia no hospital mais próximo. Busca gerar renovadas ondas de compaixão entre seus seguidores e substituir sua presença no noticiário policial pelo destaque na seção de pré-obituário. Verdade é que alguma anormalidade existe desde a operação feita às pressas, em 6 de setembro de 2018, em Juiz de Fora, a da tão famosa quanto misteriosa facada “milagrosa”. Apesar do dito mito esfaqueado não ter sangrado, nem ter tido sequer a camiseta canarinho perfurada (ou não foi apresentada na ocasião), uma cirurgia de urgência foi realizada. Aquele acontecimento altamente suspeito, além de ter lhe salvado da derrota nas urnas naquele pleito, tem possibilitado à tão escatológica criatura essa rota de fuga: a mesa de cirurgia. Já são seis, na conta oficial, os procedimentos cirúrgicos, sem contar as hospitalizações eventuais.

VAMOS TORCER por sua recuperação. Não se deve desejar para ele o que ele desejou para Dilma e para Lula quando doentes. Da mesma forma é incorreto sugerir que o mito seja atendido por um profissional do quilate do Dr. Tibiriçá – seu maior ídolo. Entretanto, é indispensável perceber que o doente em tela quer medicamento além do ser anistiável. O mito quer-se inimputável ad aeternum. E nesta luta tremenda, hercúlea, para poder seguir saudável no cometimento de todo tipo de crime (dos delitos milicianos aos golpes de Estado, passando pela multiplicação patrimonial), é utilíssimo jair se fazendo de coitadinho. Aos moribundos sempre são dirigidos gestos de condescendência, complacência e comiseração. É isso o que o falso messias mais almeja: inspirar dó até que suas tripas em nó ; se desfaçam em evacuações sobre a Constituição, sobre o Estado Democrático de Direito e sobre o Código Penal. Mas prisão de ventre não deve ser desejada a ninguém, muito menos como réquiem. Que o ex-capitão recupere integralmente seu funcionamento intestinal, e que, quando de seu retorno à prisão (pois já viu o sol nascer quadrado, em 1986) possa usufruir de equipamentos adequados, como um higiênico vaso sanitário turco, conforme rezam as regras para penitenciárias.

É ATITUDE CIDADàlutar contra a utilização de qualquer tipo de doença como tática para solapar a Constituição, o Estado de Direito Democrático e o Código Penal. Até porque se a moda pega, as penitenciárias vão virar enfermarias e antessalas da impunidade, e teremos gente como Marcola e Fernandinho Beira-Mar exigindo anistias por conta dos intestinos presos ou inconveniências do tipo. Nessa temática, o Brasil passa, nas proximidades desta Semana Santa, por um grande risco para a sua saúde democrática: a anistia licenciosa, codelinquente, cúmplice de um crime recorrente, que é a conivência para com golpes de Estado. Pela primeira vez em seus 525 anos de existência, o Brasil está prestes a expelir uma hipóstase que tem obstruído os intestinos da história nacional há séculos: a coone stação para com líderes criminosos golpistas.

JAIR MESSIAS QUER USAR de sua doença para manter o Brasil doente. Quer travar os intestinos da República impedindo que dali seja extirpado o tumor maligno do qual a tentativa de golpe em 8 de janeiro de 2023 é apenas uma metástase. Pela primeira em sua sofrida história com mais de meio milênio, a nação brasileira assiste a Justiça chamar à responsabilidade penal golpistas de alta patente, incluídos nesse rol de réus um ex-presidente da República e alguns oficiais subversivos. Isso sim é redenção, salvamento. Que não seja esse processo interrompido por anistias corruptoras, e que esses dejetos sejam, enfim, expelidos pelo organismo democrático. E, repetindo, saúde ao mito para que ele possa responder por seus crimes sem desconfortos extras. Amém.

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Ex-presidente encurralado https://lucianosiqueira.blogspot.com/2025/04/minha-opiniao_33.html 

Postei no X

A China determinou que suas companhias aéreas interrompam o recebimento de novas aeronaves da norte-americana Boeing. Mais um lance da guerra comercial desencadeada pelos Estados Unidos. Trata-se de um mercado estratégico para a Boeing, com um grande potencial para novos aviões e serviços.

A dura reação da China ao tarifaço de Trump https://lucianosiqueira.blogspot.com/2025/04/china-contra-tarifaco-de-trump.html

Sylvio: quem?

Quando esteve doente em Natal o ex- presidente Bolsonaro foi atendido e medicado por Gilson Machado, seu  ministro do Turismo, que é veterinário. E parece que recebeu o tratamento adequado.

Sylvio Belém 

Você leu?


Sobre o "tarifaço" desencadeado por Donald Trump, que a um só tempo sinaliza a decadência dos EUA e desorganiza as transações comerciais em plano global, alguns registros aqui no blog ajudam a compreender o sentido dos acontecimentos e a especular sobre o Brasil nesse contexto.

O editorial do 'Vermelho' https://lucianosiqueira.blogspot.com/2025/04/tarifas-de-trump-idas-e-vindas.html apruma o debate.

A própria errática conduta de Trump https://lucianosiqueira.blogspot.com/2025/04/trump-em-banho-maria.html?m=1 aparece como sinal de fraqueza.

E tem colunista americanófilo da grande mídia brasileira se lastimando porque o núcleo decisório em torno de Donald Trump, na Casa Branca, imagina muito e improvisa, sem os pés na realidade concreta...

Navegando em oceano revolto https://bit.ly/3Ye45TD  

Perplexidade norte-americana

Como as tarifas de Trump jogam a favor da China
Em vez de fazer uma batalha dos EUA contra o mundo todo, Trump deveria ter unido todas as democracias industriais, lideradas por Washington, contra Pequim
Thomas L. Friedmann*/New York Times/Folha de S. Paulo  

Após duas viagens à China nos últimos quatro meses, tenho tentado dizer isso de todas as formas que posso: pessoal, vocês simplesmente não entendem.

Covid teve efeitos terríveis na saúde humana e na mortalidade, mas também teve um efeito devastador na nossa capacidade de entender os chineses. Executivos americanos e europeus saíram da China em massa no início da pandemia. Muito, muito poucos deles voltaram depois. Eles confiaram seus negócios na China a gerentes locais. Enquanto estavam ausentes, Pequim deu um grande salto à frente na manufatura avançada que o mundo não tinha. Criou um motor de manufatura como talvez nunca foi visto na história.

A China já controla um terço de toda a manufatura global (em 2000, eram 6%) e, quer se fale de carros, robôs ou telefones, o que está saindo da China hoje não é apenas mais barato e rápido. É mais barato, mais rápido, melhor e mais inteligente — e tudo isso está prestes a ser dramaticamente potencializado pela corrida desenfreada de Pequim para colocar inteligência artificial em tudo o que fabrica.

Isso é produto de décadas de investimentos maciços do governo em educação, infraestrutura e pesquisa, por trás de muros de proteção — em uma sociedade onde as pessoas estão prontas para trabalhar das 9h às 21h, seis dias por semana. Enquanto a China estava construindo isso, a maior nova indústria dos EUA era a polarização política e viciar seus filhos no TikTok e Instagram.

Leia o artigo do meu colega de redação, Keith Bradsher, da China:

"Dados recentes do banco central da China mostram que bancos controlados pelo Estado emprestaram um adicional de US$ 1,9 trilhão a mutuários industriais nos últimos quatro anos. Nas periferias de cidades por toda a China, novas fábricas estão sendo construídas dia e noite, e fábricas existentes estão sendo atualizadas com robôs e automação. Os investimentos e avanços da China na manufatura estão produzindo uma onda de exportações que ameaça causar fechamentos de fábricas e demissões não apenas nos Estados Unidos, mas também ao redor do mundo. "O tsunami está vindo para todos", disse Katherine Tai, que foi representante de Comércio dos Estados Unidos para o ex-presidente Joseph R. Biden Jr." 

É por isso que a estratégia do presidente Trump é tão insensata. Em vez de impor tarifas ao mundo inteiro, deveríamos estar buscando alinhar todos os nossos aliados industriais em uma frente unida para dizer à China: você não pode fazer tudo para todos. Enquanto a China é um terço da produção manufatureira global, ela representa apenas 13% do consumo global. Isso não é sustentável — e não está apenas assustando os EUA e a Europa, mas também o Brasil, a Indonésia, a Índia e outros; até mesmo a Rússia, de repente, reduziu as importações de automóveis da China.

Em vez de fazer nossa estratégia ser os EUA contra o mundo inteiro em tarifas, Trump deveria ter feito com que todas as democracias industriais, lideradas por Washington, se unissem contra Pequim. O objetivo seria negociar efetivamente um caminho a seguir que obrigasse a China a redirecionar suas energias para dentro — investindo em sua escassa rede de segurança social e sistema de saúde, estimulando sua demanda doméstica — enquanto convida a China a construir novas fábricas não em Hanói, mas em Hamtramck (Michigan), e a transferir suas tecnologias e cadeias de suprimentos para nós em joint ventures 50/50.

Infelizmente, nosso presidente e vice-presidente estavam tão ocupados exibindo seus músculos na Groenlândia, demitindo nossos principais generais por não serem suficientemente submissos ao nosso Querido Líder e insultando nossos aliados europeus por serem muito progressistas, que desperdiçaram a alavancagem de que precisávamos para lidar efetivamente com esse formidável mecanismo chinês.

Mas aqui está o que os líderes empresariais americanos realmente não entendem: Trump e J. D. Vance assustaram a China e a UE com seu comportamento errático. Quando veem um presidente dos EUA simplesmente ignorar um acordo comercial com o México e o Canadá que ele mesmo negociou, eles se perguntam: como podemos confiar em qualquer acordo que fizermos com ele? Isso pode aproximar a China e a UE.

Ouço meus compatriotas americanos dizerem: só precisamos chegar às eleições de meio de mandato e fazer os democratas recuperarem a Câmara, e estaremos bem. Desculpem, pessoal, não podemos esperar tanto tempo. Mais 20 meses ou mais dessa liderança errática e nosso país estará irremediavelmente quebrado. Precisamos de um punhado de republicanos na Câmara e no Senado — agora mesmo — para cruzar o corredor e pôr fim a esse devastador desastre econômico feito pelo homem.

*editorialista internacional do New York Times

[Foto: Funcionários em uma fábrica chinesa de fibra de vidro - Ahmed Gomaa - 9.nov.2024/Xinhua]

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Leia também: Efeito bumerangue faz Trump recuar com “tarifaço”
https://lucianosiqueira.blogspot.com/2025/04/tarifas-de-trump-idas-e-vindas.html 

Postei no X

Importa acompanhar o conflito aberto entre a Universidade de Harvard e o presidente Donald Trump, que ameaça suspender financiamento se suas imposições não forem cumpridas. Uma ferida aberta sujeita a infecção grave...

Leia: Redesenho da Otan será inevitável https://lucianosiqueira.blogspot.com/2025/03/editorial-do-vermelho_9.html 

Humor de resistência

 

Aroeira

Leia também: O mundo cabe numa organização de base https://lucianosiqueira.blogspot.com/2023/05/minha-opiniao_18.html