Acordo China-EUA é vitória estratégica para o gigante asiático
Com avanços diplomáticos e econômicos, China amplia influência global enquanto os EUA recuam, consolidando uma virada estratégica no tabuleiro internacional.
A. Sérgio Barroso/Vermelho
O passo rápido da China, nos terrenos geopolítico e geoeconômico, pode ser contrastado pelo atraso americano em relação aos novos acordos entre Brasil e China, China e Rússia, Brasil e Rússia, para começo de conversa. Ademais, a presença latino-americana na CELAC, em Pequim, certamente renderá mais frutos. A mudança tarifária para 30% ao invés de 145% (EUA à China), e de 125% para 10% (China aos EUA), em nada vai alterar a tendência sustentada do crescimento econômico chinês, que diversificou em muito suas relações comercias nesses últimos 10 anos. “A China concederá US$ 9,2 bilhões em créditos às nações da América Latina e do Caribe, anunciou na terça-feira (11/05/2025) o presidente Xi Jinping, durante a inauguração do IV Fórum Ministerial China-Celac, em Pequim” (O Globo).
No caso, houve dupla vantagem chinesa: espaço e tempo.
“Eu posso recuperar espaço. Tempo nunca” (Napoleão Bonaparte). Ou ainda, “O tempo é difícil de encontrar e fácil de perder” (Huainanzi, chinês, século II a. C.).
- O movimento geral da China, de rechaço à “estratégia” trumpista da “intimidação”, foi pela via da “dissuasão” e “Intimidação inversa”, invertendo a dinâmica de que era um adversário ingênuo ou débil, e respondendo com firmeza que não era uma batalha fácil que iria o centro imperialista encontrar. A resposta foi moderada, simbólica a demonstrar que a China estava falando sério. Sua autoridade como liderança global acresceu confiança aos chamados países “vulneriáveis”.
- A posição altiva chinesa parece ter alterado a conduta geopolítica dúbia do Brasil – envergonhada, no cenário internacional, cujo exemplo maior foi a capitulação do Itamaraty às pressões dos EUA para não reconhecermos as eleições na Venezuela. Não creio que se trate mais de uma postura defensiva em relação ao “polo” chinês. Os elogios rasgados de Lula à China, e as críticas claras à política de Trump sinalizam o assumir de uma política de aliança mais efetiva, saindo da rota de submissão a Washington. Lula declarou que, “Hoje demos mais um passo para fortalecer nosso intercâmbio bilateral e criar oportunidades de comércio, investimentos e desenvolvimento. China e Brasil são parceiros estratégicos e atores incontornáveis nos grandes temas globais”, diant e de empresários chineses e brasileiros.
- A evolução do intricado e extremamente tenso do quadro internacional sugere demonstrar:
a) apesar de provisória a trégua na “guerra comercial”, avulta o crescente protagonismo chinês nos terrenos geoeconômico e geopolítico globais, tendo o gigante asiático avançado inclusive a um sistema paralelo (ao SWIFT) de trocas monetárias, com sucesso. No meio desse turbilhão, em abril, o governo chinês testou com os Emirados Árabes um modelo de transferência bancária que utiliza o RMB (renminbi) digital, cuja unidade é a moeda chinesa yuan; resultou-se uma operação sem a necessidade de passar por bancos intermediários e que foi concluída em 7 segundos, um recorde entre grandes transações transfronteiriças; (Ver aqui)
b) Isso indica que, como tem defendido o professor Elias Jabbour, o Brasil só tem a ganhar, ao tomar a iniciativa de uma aliança mais profunda com a China, especialmente no que respeita à transferência de equipamentos de infraestrutura, tecnologias etc., incluindo a adesão do Brasil à Nova Rota da Seda. Entretanto, as circunstâncias que implicaram nesse novo “salto” espaço-temporal da China, dizem respeito à catastrófica “estratégia” trompista da “intimidação”, que supostamente reduziria o monumental déficit comercial americano – questão secundária à desestruturação econômica e social dos EUA. Almeja ainda uma espécie de tentativa de “substituição de importações”, política econômica utilizada pelo Brasil e vários países latino-americanos a partir dos anos 30 do século passado, visando a industrialização. O que é revelador do estágio avançado da decadência do império estadunidense.
Simpósio da Grabois debate desenvolvimento e desafios do Brasil no cenário global https://lucianosiqueira.blogspot.com/2025/04/fundacao-grabois-debate.html