Com perda vacinal e volta do vírus da pólio,
teremos batalhão de crianças desprotegidas
Epidemiologista da Fiocruz-AM
explica porque são tão graves os cortes orçamentários na saúde e o desestímulo
à vacinação pelo governo Bolsonaro
Cezar Xavier, Vermelho www.vermelho.org.br
A cobertura vacinal de crianças não para de cair, enquanto surge um caso suspeito de poliomielite no Pará. Cerca de 28% da população infantil não tem sido vacinada nos últimos anos, o que cria um verdadeiro exército de hospedeiros de vírus perigosos, caso haja reintrodução deles no país. Enquanto isso, o governo Bolsonaro corta verbas do Ministério da Saúde, para reservar dinheiro ao orçamento secreto, em 2023.
Duas péssimas notícias para populações vulneráveis, como soropositivos de HIV, populações indígenas e ribeirinhas, que o candidato à reeleição Jair Bolsonaro (PL), sabe que não têm condições de reação em meio à campanha eleitoral. Populações que também sofrem retaliação por não serem seus eleitores.
O epidemiologista da FioCruz-AM, Jesem Orellana, afirmou ao Portal Vermelho, que os cortes do orçamento em programas de prevenção e tratamento de HIV e outras doenças sexualmente transmissíveis, programas voltados não apenas a indígenas, mas ribeirinhos, tem um alvo. “Este último ataque ao sistema de saúde, atinge justamente populações vulneráveis como uma espécie de vingança por ter sido derrotado aqui na região”, disse.
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“É uma retaliação baixa, de fundo eleitoreiro, que repete a atuação do governo sobretudo na pandemia”, criticou. Ele disse que já esperava que, na véspera da eleição, haveria algum “redirecionamento de recursos ainda maior para ações não prioritárias, que garantem palanque eleitoral em redutos bolsonaristas”.
Na opinião dele, o desinvestimento e os cortes sequenciais em programas estratégicos envolvendo populações vulneráveis, não são algo ao acaso e aleatório. “Percebe-se que é algo pensado e articulado sob a insígnia da impunidade”, avalia.
Jesem explica que a epidemia de HIV nunca foi controlada. Só em 2020, morreram 10.217 doentes da doença. “Um corte desses faz parecer que se trata de uma área controlada, que não vai ter impacto. No entanto, vai pelo menos manter esses patamares altos de mortalidade e contaminação. Números que deveriam estar caindo”, informou.
Com a falta dos medicamentos que reduzem a carga viral, o quadro clínico de pacientes soropositivos pode se agravar levando ao óbito. “Não porque isso deveria ocorrer, mas porque há um desmonte de ações que deveriam prolongar a vida dessas pessoas”.
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Os milhares de óbitos, segundo ele, representam muita gente para uma epidemia iniciada 40 anos atrás. “Reduzir os investimentos em controle, tratamento e prevenção só vai aumentar mais estes números de mortalidade. Isso não é surpresa no governo Bolsonaro que quer se livrar dessas pessoas, que ele considera um peso para o estado e não vidas humanas que merecem tratamento igualitário”, comentou.
Falhas no programa de vacinação
O caso suspeito de paralisia infantil descoberto no Pará causa preocupação e acende um alerta de que estão acontecendo falhas no programa de vacinação infantil. A criança atingida não tinha tomado o esquema vacinal completo contra a poliomielite. Ainda não se sabe se o vírus foi reintroduzido ou se a criança está com paralisia grave devido a algum efeito da vacinação incompleta.
Orellana diz que a redução constante e sequencial das coberturas vacinais alerta para risco constante de retorno de pandemia. Para ele, a cobertura de 72% é um valor inaceitável, pois se o vírus selvagem for reintroduzido, “tem um batalhão de crianças sem proteção”.
O que falta para ele, é política. “O Ministério da Saúde precisa investir mais em vacinação e em uma posição firme em defesa da vacinação. O ministro questiona as vacinas. Bolsonaro é o maior propagador das inverdades que causam medo na população”, critica, citando os muitos surtos de meningite, doença vacinável, que têm ocorrido em estados como São Paulo.
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Para ele, o único motivo para as autoridades federais estarem atacando vacinas é para criar uma contranarrativa à ciência e seu conhecimento acumulado. “Esta é uma estratégia maniqueísta para manipular o eleitorado. Todos eles acreditam e tomam vacinas, mas as pessoas são usadas como massa de manobra”, analisou.
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