Livro pontua singularidades e legado de
gerações de dirigentes do PCdoB
Lançamento celebra cem anos da legenda, destacando a travessia
turbulenta e resiliente pela história brasileira.
Cézar Xavier/Vermelho www.vermelho.org.br
Nesta quinta-feira (2), na sede nacional do PCdoB, em. São Paulo,
ocorreu mais um capítulo das celebrações dos cem anos do Partido Comunista do
Brasil. Foi o lançamento do livro “PCdoB: um século de lutas em defesa do
Brasil, da democracia e do socialismo”, que deve ocorrer em outras localidades
pelo país, dando início, também, as festividades do 101o. aniversário.
Além da mensagem de Renato Rabelo, presidente da Fundação Maurício
Grabois, estiveram presentes Rosanita Campos, coordenadora da Cátedra Claudio
Campos, Fernando Garcia, historiador do Centro de Documentação e Memória da
Fundação Maurício Grabois, o escritor e jornalista Osvaldo Bertolino, e os
presidentes do PCdoB-SP, Rovilson Britto e do PCdoB-São Paulo, Alcides
Amazonas.
Houve
a exibição de um documentário que pontuou as diversas etapas de lutas do
Partido Comunista do Brasil, desde sua fundação, em 25 de março de 1922. O
documentário de 18 minutos tem direção de José Miglioli e fotografia de Mariano
Maestre, com roteiro de Guido Bianchi, dirigente do partido em Pernambuco, e
Adalberto Monteiro.
Depois foi exibida uma mensagem de Renato Rabelo que emocionou a todos.
Ele disse que o centenário do PCdoB é um fato de conteúdo e simbolismo enorme.
“Nenhum partido no Brasil chegou a ter cem anos de existência”, ressaltou.
De acordo com sua análise, para completar cem anos, o PCdoB passou por
vários momentos e fases em que teve que se reestruturar, se reorganizar e se
recompor. “Se isto não tivesse acontecido, o partido não teria existido. Por
isso, essas reestruturações são decisivas para sua existência, e chegar ao
ineditismo do centenário com muito orgulho e perseverança”, declarou.
O secretário de Formação e Propaganda do PCdoB, Adalberto Monteiro,
afirmou que o livro valoriza e pontua a importância e singularidade das
gerações dirigentes e legados. “Podemos dizer baseados em fatos que os
comunistas ajudaram a construir esse país”, afirmou.
Desta forma, o livro avalia as lições e deixa orientações para o futuro
da luta socialista no país. Segundo ele, a obra mostra que o PCdoB é
centenário, mas é jovem e contemporâneo ao hastear “a bandeira do porvir, que é
o socialismo”.
O documento publicado é uma continuidade da análise que dirigentes como
João Amazonas e Maurício Grabois escreveram “sob as árvores frondosas da
Amazônia”, por ocasião dos 50 anos, mergulhados na longa noite da ditadura
militar mais ferrenha. O jornalista José Carlos Ruy e o historiador Augusto
Buonicore também foram destacados por mostrar que “o Partido se constrói com a
luta nas ruas, mas também com ideias e livros”.
Para Adalberto, a força do livro está no esforço de síntese que Renato
Rabelo coordenou, trazendo novos elementos. Em documentos anteriores, havia uma
valorização da reorganização do Partido após 1962. “Nos 90 anos, há uma
valorização dos pioneiros”, observa.
Segundo Adalberto, o rio caudaloso do PCdoB vai se enriquecendo com a
incorporação da Ação Popular (AP) no terror da ditadura, demonstrando uma
“elevada convicção e consciência, naquele momento de caça aos comunistas”.
A relevância da legenda se demonstra pelo modo como o PCdoB está sempre
no epicentro das lutas. “A tática de Frente Ampla foi decisiva para derrotar o
bolsonarismo, que queria, obsessivamente, banir os comunistas do Brasil por
meio de fake news”, afirmou.
Para ilustrar a derrota de Jair Bolsonaro, Adalberto citou trecho da
música Pesadelo, de Mauricio Gomes e Paulo Cesar Pinheiro, que era cantada
pelos guerrilheiros do Araguaia: “Você corta um verso, eu escrevo outro, Você
me prende vivo, eu escapo morto, De repente olha eu de novo, Perturbando a paz,
exigindo troco”.
“Olha o PCdoB de novo, no Congresso e no Governo. Nas lutas do povo!”,
reafirmou ele.
Ele enfatiza, ainda, que o triunfo do PCdoB é o programa socialista, que
coloca o Partido na contemporaneidade. “Dá o rumo da revolução socialista
brasileira. Vamos pegar esse livro como história de amor e coragem, compromisso
com a luta do povo e convite para seguir lutando e acumular forças para o
socialismo”, concluiu.
O historiador Fernando Garcia apresentou a fundação do Partido Comunista
do Brasil, como parte das “dores do parto da modernidade”, como foi a Semana de
Arte Moderna, o Centenário da Independência do Brasil e a Revolta dos 18 do
Forte de Copacabana, todas ocorridas no mesmo ano de 1922.
Ele fez um relato histórico revelando a capacidade de mobilização dos
comunistas em momentos importantes da história. Também demonstrou a defesa de
teses inovadoras e influentes, com resultados que merecem ser observados na atualidade.
“A visão madura em torno da conjuntura vai garantir que cheguemos até a
atualidade, mesmo diante das injunções do movimento comunista internacional”,
afirma Fernando.
Em sua análise, o PCdoB se fortalece nas crises, como na ditadura
militar, em que agrega forças de esquerda na luta armada. Destaca a
participação de João Amazonas das duas Constituintes 1946 e 1988. Menciona a
virada socialdemocrata das esquerdas com o fim da URSS, no início dos anos
1990.
Com o golpe de 2016 e a hegemonia de direita, o partido sofre os
impactos, mas o centenário ocorre em meio a “um ano mágico pela derrota de
Bolsonaro e a volta à direção do país”.
Papel do indivíduo
Osvaldo Bertolino menciona o triunfo do debate contra o culto à
personalidade, desde os anos 1950, que “acabou negando a importância de
indivíduos que lideraram o processo revolucionário”. Ele diz isso para
demonstrar a importância do livro e o modo como salienta o protagonismo de
alguns personagens na história do Partido Comunista.
Para ele, merece destaque e memória o modo como Astrojildo Pereira passa
a ter uma visão marxista da realidade brasileira e agrega personalidades em
torno dele e do seu arcabouço teórico para fundar o Partido.
Também menciona as turbulências dos anos 1920, com um “ziguezaguear
tático”, a partir do envolvimento com as revoltas tenentistas. Outro fator que
nublou a visão tática do Partido foi a hostilidade socialdemocrata contra o
movimento comunista, influenciando a tática da Internacional Comunista. O
resultado foi a ausência do Partido na luta concreta da Revolução de
1930.
Para Bertolino, há muitos elementos pouco analisados para compreensão da
realidade do Partido nos anos 1930. “São histórias de heroísmo de um partido
que tem uma visão voluntarista diante da realidade concreta”, pondera
ele.
Em sua opinião, a Conferência da Mantiqueira, de 1943, é um marco
fundamental para consolidar uma corrente marxista e revolucionária no Brasil.
“Uma elaboração que levou ao papel decisivo do partido na Constituinte de 1946
e elaboração de um programa partidário importante em 1954”.
Para ele, João Amazonas expressa a importância do papel do indivíduo na
história, pelo gigantismo que exerceu, inclusive na parceria com Renato Rabelo,
diante da dramática queda da União Soviética. “O Partido passa a ter uma
definição mais nítida da realidade brasileira, através do seu programa. O papel
do Renato foi decisivo na articulação feita para o governo Lula.
Luciana Santos, por sua vez, expressa o papel histórico das mulheres e
da juventude que se agigantam na luta contra o golpe de 2016.
Homenagem da luta
Rovilson disse que “somos os herdeiros de 1848”, quando surgiu a
corrente revolucionária dos comunistas. “Somos aqueles compromissados com a
nação. O PCdoB é a junção do Brasil com o marxismo. Ao contrário do que dizem,
a classe trabalhadora existe e pode ser convocada para a luta, como fazem
outras nações a sua maneira”, disse ele, citando como exemplo a China.
Ele destacou a importância do “rio caudaloso” receber e incorporar a
força do PPL (Partido Pátria Livre) com sua compreensão elevada do destino da
nação, em 2019.
Alcides Amazonas diz que a melhor homenagem aos lutadores que se foram,
é continuar lutando. “Nossa comemoração é na rua, convidando à filiação e a
conhecer nossa história”, disse ele, sobre as atividades que seu comitê
municipal está realizando.
Ainda destacou como o PCdoB consolidou um pensamento em torno da
necessidade de forças democráticas para derrotar a extrema direita e, agora,
ajudar o governo Lula. “Até pouco tempo, pregávamos no deserto a necessidade de
uma Frente Ampla. Agora, todos falam na importância dela e vamos precisar disso
para aplicar o programa vitorioso nas urnas”, concluiu.
Velhos fatos se revivem sempre com um
dado novo https://bit.ly/3Ye45TD
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