24 maio 2023

Mundo em transição

Nos balanços do G7, 'hegemonia' ocidental vira passado

Bloomberg e Financial Times comparam ascensão econômica e demográfica dos emergentes com queda do grupo
Nelson de Sá/Folha de S. Paulo

 

A imprensa chinesa, a começar do Huanqiu, original em chinês do Global Times, destacou a declaração de Lula em entrevista coletiva sobre Joe Biden, na despedida do G7, "Ajuda dos EUA à Ucrânia não é boa para a paz".

Também a Bloomberg levou a declaração aos enunciados, "Lula detona Biden", no balanço de Hiroshima: "A caminho da cúpula, EUA e seus aliados sabiam que precisavam fazer mais para conquistar as nações oscilantes. O encontro mostrou que têm longo caminho pela frente."

Especificamente, "três convidados chave, Lula, o indiano Narendra Modi e o indonésio Joko Widodo, que comandam um quarto da população do mundo, falaram da necessidade de paz sem endossar a visão do G7 sobre a Ucrânia".

O principal colunista do Financial Times, Martin Wolf, foi mais explícito em seu balanço, com os enunciados reproduzidos acima. Ele revê sua posição sobre o Brics, que está se tornando "um agrupamento mundial relevante":

"O que une seus membros é o desejo de não depender dos caprichos dos EUA e seus aliados, que dominaram o mundo por dois séculos. Por quanto tempo pode o G7, com 10% da população, continuar assim? Às vezes, é preciso simplesmente aceitar a realidade."

Enquanto o G7 diminuía economicamente, a China cresceu e é hoje "um parceiro mais importante" que o grupo ocidental, por exemplo, para o Brasil. O FT desenvolve mais a questão em reportagem que contrasta as "boas intenções" de EUA e Europa com as "ofertas de comércio" chinesas.

De 2000 para 2022, o comércio sino-latino-americano "explodiu", de US$ 12 bilhões para US$ 495 bilhões. Enquanto isso, após duas décadas, a União Europeia ainda negocia um acordo comercial com o Mercosul e, como os EUA, está vendendo seus ativos no Brasil para grupos chineses.

"O contraste entre as visitas de Lula às duas maiores potências foi revelador", diz o FT, estendendo-se pelo que não alcançou em Washington e os acordos que trouxe de Pequim. Eles "fazem parte de sua estratégia de 'não-alinhamento ativo', que resiste a tomar partido, inclusive sobre a guerra na Ucrânia".

Eurocentrismo decadente e mundo dividido https://bit.ly/3lfaMGb

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