Vini
Jr: vim, vi e venci!
O craque preto e brasileiro fez o golaço que deixou racistas sem eira
nem beira
Juca Kfouri/Folha de S. Paulo
Vinicius Junior venceu!
Sua indignação e suas palavras obrigaram o mundo dos brancos a
se curvar.
Cartão vermelho anulado, árbitro racista do VAR suspenso, Valencia multado,
setor do palco do coro odiento interditado, crápula presidente de La Liga
execrado.
Vini Jr. mudou o patamar da luta antirracista.
E é preciso mais. É obrigatório parar o jogo.
Já está mais que claro: notas de repúdio, declarações as mais variadas, manifestações de solidariedade com as vítimas, nada disso tem sido suficiente para expulsar o racismo dos estádios de futebol, aqui e pelo mundo afora.
Também tem sido ineficaz punir um ou dois estúpidos pegos ao imitar macacos pelas arquibancadas.
Sair de campo, parar o jogo e não mais voltar será a melhor atitude, capaz de
ensinar racistas e cartolas.
Porque, no fundo, no fundo, a cartolagem é cúmplice, implícita
ou explicitamente.
A maioria considera mimimi, chororô de ativistas, por achar que
os atos racistas refletem apenas a vontade de provocar adversários,
desestabilizá-los, assim como os coros homofóbicos.
Outros são mais cínicos, como a nefasta figura do presidente de La Liga, a entidade que organiza o
agonizante Campeonato Espanhol, Javier Tebas.
Franquista assumido, apoiador do Vox, partido de extrema direita
espanhol, cujo presidente, Santiago Abascal, esteve em Várzea Grande (MT), em
dezembro de 2021, para participar de encontro promovido pelo deputado federal
Eduardo Bolsonaro (PL-RJ), no chamado Congresso Brasil Profundo, do Instituto
Conservador-Liberal, fundado pelo filho 03 do fascistoide ex-presidente do Brasil.
De Tebas nada se deve esperar de diferente do que já fez, isto
é, o pito em Vinicius Junior e a minimização do horror.
Urge parar a bola e botar os racistas a escanteio.
A questão extrapola a Espanha, sabe-se, e é necessário esquecer
de uma vez por todas a postura de avestruz.
Dizer não ao racismo, como faz a Fifa, é pouco, é inócuo, é
nada.
Furar a bola, paralisar o espetáculo, fura também a bolha
fascista em busca de hegemonia em pleno século 21.
Assolado pelas apostas criminosas, pela homofobia, pela
misoginia e pelo racismo, o futebol talvez seja a atividade ideal para dar o
pontapé inicial com vistas a combater tudo isso, de maneira didática e
facilmente compreensível.
Imagine a dor, adivinhe a cor", diz uma das mais belas
iniciativas contra o racismo.
Por menos que nós, os brancos, sejamos capazes de sentir na pele
a dor da ofensa, com um pouco de empatia todos podem ser atingidos por
comportamentos firmes, de ruptura com tal estado de coisas.
Lembremos de Didi, de Mané Garrincha, de Pelé, de Marta, todos
de pele preta, todos brasileiros eleitos um dia números 1 do Planeta Bola.
Nenhum deles, como ninguém, pode ser vítima de tantos
xingamentos como os ouvidos no verdadeiro Planeta dos Macacos, o que esteve
presente no estádio de Mestalla, em Valencia, para agredir Vinicius Junior.
E não nos venham com dois ou três bodes expiatórios para eximir
o ato de milhares.
É tempo de parar a bola e pensar. É tempo de parar a bola e
punir. É tempo de parar a bola e execrar os racistas, os homofóbicos, os
misóginos, numa palavra, os fascistas.
Nunca será demais repetir e repetir o que disse um dia o mártir
Martin Luther King: "O que me incomoda não é o barulho dos maus, mas o
silêncio dos bons".
Onde cabe quase tudo - sem
preconceito nem sectarismo https://tinyurl.com/3y677r7f
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