Ascensão e decadência
Luciano Siqueira
A cena mundial segue acentuando o contraste entre os EUA, em tendência decadente, e a China ascendente.
Em sua obra "Ascensão e queda das grandes potências", o historiador britânico Paul Kennedy estuda os últimos cinco séculos e - dito aqui de modo simplificado - assinala a discrepância entre investimentos bélicos versus cooperação econômica como elemento historicamente reincidente no exame comparativo entre verdadeiros impérios que viveram o ciclo da ascensão e da queda e novos impérios que surgem sob novas condições.
Tudo a ver com o que ocorre agora.
Os EUA envolvidos em guerras e múltiplos conflitos localizados mundo afora.
A China, embora ostente o segundo orçamento militar do mundo (cerca de US$ 224 bilhões) e enfrente disputas territoriais fronteiriças significativas, estas estão a anos-luz de distância de inibirem a expansão externa de suas relações econômicas assentadas na cooperação.
Enquanto os EUA comprometem parte substancial do seu orçamento com a manutenção de bases militares espalhadas pelo mundo e com a realimentação do seu poderio bélico, a China avança no projeto Nova Rota da Seda (One Belt, One Road), que finca relações econômicas mutuamente proveitosas com países dos cinco continentes.
Entre 2005 e 2018, a China investiu cerca de US$ 1,9 trilhão no projeto, mais ou menos o equivalente a 13 vezes o valor do Plano Marshall, encetado pelos EUA na reconstrução da Europa pós-guerra entre 1947 e 1951.
Apesar dos contratempos decorrentes da pandemia do coronavírus, o PIB da China volta a crescer atingindo 5,2% em 2023, superando a meta prevista.
Em 2023, ano do décimo aniversário do Plano, foram 2 trilhões de dólares em investimentos chineses em infraestrutura na Ásia, Oriente Médio, Europa e África e, mais recentemente, também na América Latina.
Já os EUA, adotam no orçamento para 2024 a maior dotação para gastos militares de sua história, cerca de 842 bilhões de dólares, aumento de 3,2% em relação aos 816 bilhões de 2023.
EUA e China protagonizam movimento de placas tectônicas que, associadas ao fortalecimento relativo de outras nações, como a Alemanha e a Rússia, rumam a um novo desenho geopolítico multipolar.
Países como o Brasil, praticando política externa soberana, hábil e ofensiva, podem tirar proveito disso.
*Texto da minha coluna desta quinta-feira no portal Vermelho
As voltas que o mundo dá https://bit.ly/3Ye45TD
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