PERSEIDAS
Marcia Tigani
Sou estrangeira
em minha própria terra
estrelas cadentes
sobre meus cabelos.
Poeira cósmica
a luzir em minhas órbitas
sou a estranha deitada
sobre pedra gris.
Contemplo o reverso
da ideia do existir.
II
Um sonho acordado
é um dejá-vù
crivado de imagens
ígneas e obscuras
Meu corpo sobre a pedra
fósseis sob minha pele
existo como islamita:
sou rocha bruta
e paleta de cromo
III
Se por mero acaso
Ou telepatia pura
Quisesses entender
A ionosfera
Ou a Constelação de Aquário
verias um opérculo
luzidio na vereda
do meu decote.
O calcáreo
a tintura de ópio
ou lêmure voador:
são partes do meu eu
IV
Se Mefistófeles
falasse em iídiche
o estridor de sua voz
mataria pomos.
Flores, luzes
Buscaria a mim
a islamita)
arrancaria meus rizomas
sem anestesia:
Na olaria do ódio
não há estrelas cadentes
[Ilustração: Dante Gabriele Rossetti]
Leia também um poema de Vinícius de Moraes https://lucianosiqueira.blogspot.com/2025/01/palavra-de-poeta-vinicius-de-moraes.html
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