07 abril 2025

Palavra de poeta

PERSEIDAS

Marcia Tigani 


  I

Sou estrangeira
em minha própria terra
estrelas cadentes
sobre meus cabelos.

Poeira cósmica
a luzir em minhas órbitas
sou a estranha deitada
sobre pedra gris.

Contemplo o reverso
da ideia do existir.

  II

Um sonho acordado
é um dejá-vù
crivado de imagens
ígneas e obscuras

Meu corpo sobre a pedra
fósseis sob minha pele
existo como islamita:
sou rocha bruta
e paleta de cromo

 III

Se por mero acaso
Ou telepatia pura
Quisesses entender
A ionosfera

Ou a Constelação de Aquário
verias um opérculo
luzidio na vereda
do meu decote.

O calcáreo
a tintura de ópio
ou lêmure voador:
são partes do meu eu

 IV

Se Mefistófeles
falasse em iídiche
o estridor de sua voz
mataria pomos.

Flores, luzes
Buscaria a mim
 a islamita)
arrancaria meus rizomas
sem anestesia:

Na olaria do ódio
não há estrelas cadentes

[Ilustração: Dante Gabriele Rossetti]

Leia também um poema de Vinícius de Moraes https://lucianosiqueira.blogspot.com/2025/01/palavra-de-poeta-vinicius-de-moraes.html 

Nenhum comentário: