Longa vida a Bolsonaro
Nem os
que mais o odeiam querem vê-lo morto num hospital. Não, ele precisa viver, para
pagar
Ruy Castro/Folha de
S. Paulo
Jair Bolsonaro volta ao hospital em decorrência da facada
que lhe foi aplicada por um desequilibrado em Juiz de Fora na campanha de 2018.
Naquele dia, Bolsonaro foi salvo pelos médicos. O que não impediu que, como
presidente, escarrasse o seu desprezo por eles na pandemia, levando-os a
trabalhar sob altíssimo risco de vida nas UTIs improvisadas, sonegando-lhes as
vacinas, zombando dos pacientes que eles lutavam para salvar e nomeando o
repugnante Pazuello como ministro da Saúde.
Só por isso,
Bolsonaro justificaria que se soltassem foguetes a cada nó nas tripas que o
acomete. É o que, neste momento, ele parece estar pedindo, ao descrever-se como
em situação quase terminal e desfilando alegremente pelos corredores como um
moribundo. Mas nem os que têm os piores motivos para odiá-lo querem que ele
morra num leito de hospital. Não. Bolsonaro precisa viver.
Espera-se que
se recupere logo da nova cirurgia, fique firme e volte à invejável forma que
ostentava nos jet skis e motociatas enquanto o Brasil enterrava os mortos.
Precisará disso para encarar os rigores do julgamento pelos crimes de que é
acusado. Enfrentará um processo demorado, em que terá de ficar sentado horas
por dia num banco duro de madeira –o banco dos réus–, enquanto seus acusadores
desfiam as infâmias que cometeu e pedem punição adequada.
Bolsonaro terá
amplo direito de defesa e seus advogados entrarão com todos os recursos
possíveis para protelar sua condenação —o que não será nada mal, já que só
prolongará sua agonia. Milhares de pascácios fantasiados de amarelo voltarão a
acampamentos em Brasília, não mais defronte aos quartéis, mas nos arredores do STF, rezando para pneus por sua absolvição.
Será um espetáculo e tanto, e a que, se fosse preciso, muitos pagariam para
assistir.
Que os médicos
de Bolsonaro garantam a desobstrução intestinal que o aflige e o devolvam o
mais rápido possível à vida pública —ou, pelo menos, à privada. Bolsonaro
precisa viver, e quanto mais, melhor —para pagar.
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