Pesquisas eleitorais: apenas
tendências momentâneas*
Luciano
Siqueira
instagram.com/lucianosiqueira65
Em pouco mais de quarenta anos tive a oportunidade de ouvir relatos de pesquisadores tecnicamente respeitáveis acerca de muitas sondagens de opinião. Sempre atentos a números que pudessem indicar tendências, sem a precipitação de conclusões mais afirmativas.
Os próprios pesquisadores reconhecem em cada amostragem a gama de
fatores objetivos, nem sempre devidamente considerados na formulação dos
questionários; e subjetivos, via de regra sujeitos a influências midiáticas
momentâneas.
Mas, frequentemente, acontecimento de certa importância, porém de alcance
relativo, é alçado à condição de “pauta prioritária” – hipoteticamente capaz de
confirmar ou inverter tendências - das redes de TV e de todo o complexo
midiático a elas associado, as chamadas redes sociais e assemelhadas.
E é caso da chacina do complexo do Alemão, no Rio de Janeiro, objeto de persistente
cobertura jornalística espetacular e tendenciosa. Nas redes sociais e meios de comunicação comunitários predominou
a denuncia da chacina; na grande mídia, Rede Globo à frente, como hipotética
tentativa de desmantelar uma das trincheiras do crime organizado, mediante ação
“corajosa” do governador do Rio de Janeiro, o precário e tresloucado Cláudio
Castro.
De quebra, a tentativa de impor o fato como
prioridade na mesa do presidente da República, como que obrigado a adotar
providências imediatas de caráter repressivo, a despeito da tramitação da PEC
da Segurança na Câmara dos Deputados e do eficiente que realiza Polícia Federal.
A partir daí, põe-se um pequeno exército de pesquisadores a campo no
intuito de aferir justamente os resultados da pressão midiática, postos a
segundo plano eventos outros da maior importância — evolução positiva do setor
produtivo da economia, queda da inflação, ampliação de oportunidade de
trabalho, crescimento da renda média dos trabalhadores, etc. —, que são tratados
como secundários para que tudo gire em torno da aprovação, ou não, da opinião
do presidente Lula sobre a ação policial desastrosa acontecida no Rio de
Janeiro.
E se fazem projeções precipitadas sobre tendências de aprovação (ou
desaprovação) do desempenho do governo, e do presidente em particular, assim
como de preferências momentâneas do eleitorado em relação a eventuais
candidatos na disputa presidencial.
Tema de valor estratégico, digamos assim, como a peleja entre os
governos brasileiro e norte-americano decorrente do desastroso tarifaço imposto
por Donald Trump, a que o presidente Lula reagiu com altivez e habilidade
sublinhando a defesa da soberania nacional e da democracia, passando à
ofensiva, sob ampla repercussão positiva, cai a segundo plano nas planilhas dos
pesquisadores.
Não se trata de recusa sistêmica aos números e análises apresentados
pelos institutos de pesquisa, mais reconhecer a sua relevância apenas relativa.
Demais, ainda estamos distantes um ano do próximo pleito e muita água
ainda passará por debaixo da ponte.
*Texto da minha coluna semanal no portal ‘Vermelho’
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Leia também: Segurança pública e luta de classes https://lucianosiqueira.blogspot.com/2025/11/seguranca-publica-conflito-de-classes.html

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