Tapioca:
ciência e arte
Luciano Siqueira
instagram.com/lucianosiqueira65
Com movimentos ágeis põe o queijo, dobra a massa, enrola numa folha de bananeira e a oferece ao freguês: - Pronto, doutor, está no ponto. E não é para me gabar não, mas duvido quem faça melhor.
A tapioqueira parece se orgulhar do que faz, com
destreza e esmero. Que nem um ourives a lapidar uma pedra preciosa.
A gente saboreia a tapioca – uma delícia! –
aceitando aquelas palavras como uma lição. Importa, sim, realizar cada tarefa
cotidiana com cuidado. Que nem o ourives – ou a tapioqueira ciosa do seu ofício. A
gente aprende durante o trivial ato de comer tapioca no Alto da Sé, em Olinda.
Pena que nem todos os comensais se dão
conta disso, a maioria com aquele jeitão de turista apressado, que chega, olha
em torno, consulta o guia, confere as referências da igreja e a fotografa – na
mais das vezes não é bem a igreja o objeto da foto, mas os filhos, o pai, a mãe
ou o casal. Para ter o prazer de chegar das férias e dizer: “tá vendo a gente
aqui, por trás tem uma igreja e, não dá para ver direito, mas fizemos a foto em
Olinda”.
Para eles, os turistas, experimentar a
tapioca é quase uma obrigação – está no guia 4 Rodas. Nem procuram saber ao
certo o que estão mastigando, muito menos se dão conta de que são servidos por
uma artista – a tapioqueira -, digna representante de nossa cultura. Isso
mesmo. A tapioca é coisa nossa, invenção indígena, feita com a goma da mandioca
que, espalhada numa frigideira, vira uma massa tipo panqueca, arredondada,
recheada com coco (ou com queijo ou que o freguês preferir).
Tapioca bem feita é produto de
verdadeiro ritual, misto de ciência e arte. Não é pra qualquer um (ou uma).
Como uma relação de amor, pede jeito, dengo, habilidade e impulso criativo; e
se renova com o olhar, a palavra e o gesto.
Rendamos homenagem à tapioqueira. E
saibamos saborear a tapioca, com ou sem recheio além do coco; com um café
quente ou suco de frutas, a depender do estado de espírito do momento. Com
licor também serve, ou com uma boa cachaça. Porque tapioca é um afago ao
paladar e um modo de viver.
Se tem dúvida, vá ao Alto da Sé e
experimente.
Crônica
de julho de 2013
Leia também: "Beto de Shangai" https://lucianosiqueira.blogspot.com/2025/05/minha-opiniao_11.html

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