Não basta ter uma 'ideia de jogo', expressão da moda; é preciso saber
fazer
Nenhum fator determina
isoladamente a história de uma partida
Tostão, Folha de S. Paulo
A cada dia, valorizam-se mais, exageradamente, as estratégias dos treinadores, associadas às estatísticas e ao desenho tático, na tentativa de explicar tudo o que acontece em um jogo de futebol. Não são mais os times que ganham e que perdem. São os técnicos, os estrategistas.
Outros
fatores, bastante importantes e frequentes, em proporções variáveis, costumam
ser esquecidos, anestesiados, como as condutas individuais, os aspectos
psicológicos e físicos e o acaso.
Nenhum
fator isoladamente determina a
história de uma partida. As análises radicais, que tentam explicar o
jogo por uma única razão, são geralmente sedutoras e resultam em ótimas
manchetes, mas não correspondem à realidade. Os comentários das partidas são
muito digitais e operatórios, sem levar em conta o encantamento,
a improvisação e a beleza.
A
expressão mágica da moda é "ideia de jogo". Os times perderiam e
ganhariam de acordo com essa proposta. Outras vezes, falam que uma equipe não
foi bem porque os jogadores ainda não entenderam a ideia de jogo do treinador.
Não basta também ter uma ótima ideia. É preciso saber fazer.
O
ser humano adora o autoengano, inventar uma saída que explique todos os fatos.
Uma mudança de cinco metros de um jogador, da direita para a esquerda, passa a
ser a chave da vitória. Formamos a ilusão de que somos criados e protegidos
pelos deuses. Nem a atual catástrofe humanitária derruba essas crenças.
Enquanto a
Covid-19 não vai embora, o futebol é um ótimo entretenimento, apesar dos
riscos. Mesmo com a possibilidade de uma terceira onda da pandemia, já querem,
absurdamente, marcar o retorno do público aos estádios. O
Brasileirão das séries A e B já começou. Os times mais fortes da primeira divisão são os
mesmos da última temporada. Atlético-MG, São Paulo e Grêmio se reforçaram. O
Atlético trouxe Hulk e Nacho Fernández, que têm grandes chances de se destacar
no campeonato.
Cuca, após uma experiência inicial, deve ter percebido que, no trio de meio-campo, o volante centralizado e mais recuado precisa, além de proteger a defesa, ter um rápido e eficiente passe, curto e longo. Allan possui essas qualidades.
O São Paulo ficou
mais forte com Crespo, Benítez, Miranda e a escalação com três
zagueiros, pois, com essa formação, aproveita muito bem os dois ótimos alas,
Daniel Alves e Reinaldo.
O
Grêmio também se reforçou com Rafinha e Douglas Costa. Jean Pyerre, se tiver
gana, consciência de suas virtudes e deficiências e contar com a ajuda do
técnico Tiago Nunes para encontrar o melhor lugar no campo, poderá evoluir
bastante.
O
Fluminense, que tem um elenco inferior aos melhores do Brasileirão, não é mais
uma surpresa. O bom técnico Roger Machado organizou muito bem a equipe, com
duas linhas de quatro, próximas, e com os veteranos Nenê e Fred livres, sem
participar da marcação. Os outros dois atacantes pelos lados, rápidos e hábeis,
defendem e atacam bem.
Entre
2005 e 2009, quando Fred jogava bem e fazia gols pelo Lyon, da França, surgiu,
no clube, o jovem centroavante Benzema, que, além de artilheiro, tinha muito
talento. Tornou-se um craque.
Se
Fred, no início de carreira, não fosse tão pressionado para fazer gols e para
ter sucesso e se tivesse se tornado também, além de artilheiro, um jogador
inventivo e construtor, como mostra no
Fluminense, ele teria sido ainda mais completo, um craque do nível
dos grandes centroavantes da história.
Foto: Alexandre Lops
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