30 maio 2021

Concepção e desempenho

Não basta ter uma 'ideia de jogo', expressão da moda; é preciso saber fazer

Nenhum fator determina isoladamente a história de uma partida
Tostão, Folha de S. Paulo

 

A cada dia, valorizam-se mais, exageradamente, as estratégias dos treinadores, associadas às estatísticas e ao desenho tático, na tentativa de explicar tudo o que acontece em um jogo de futebol. Não são mais os times que ganham e que perdem. São os técnicos, os estrategistas.

Outros fatores, bastante importantes e frequentes, em proporções variáveis, costumam ser esquecidos, anestesiados, como as condutas individuais, os aspectos psicológicos e físicos e o acaso.

Nenhum fator isoladamente determina a história de uma partida. As análises radicais, que tentam explicar o jogo por uma única razão, são geralmente sedutoras e resultam em ótimas manchetes, mas não correspondem à realidade. Os comentários das partidas são muito digitais e operatórios, sem levar em conta o encantamento, a improvisação e a beleza.

A expressão mágica da moda é "ideia de jogo". Os times perderiam e ganhariam de acordo com essa proposta. Outras vezes, falam que uma equipe não foi bem porque os jogadores ainda não entenderam a ideia de jogo do treinador. Não basta também ter uma ótima ideia. É preciso saber fazer.

O ser humano adora o autoengano, inventar uma saída que explique todos os fatos. Uma mudança de cinco metros de um jogador, da direita para a esquerda, passa a ser a chave da vitória. Formamos a ilusão de que somos criados e protegidos pelos deuses. Nem a atual catástrofe humanitária derruba essas crenças.

Enquanto a Covid-19 não vai embora, o futebol é um ótimo entretenimento, apesar dos riscos. Mesmo com a possibilidade de uma terceira onda da pandemia, já querem, absurdamente, marcar o retorno do público aos estádios. O Brasileirão das séries A e B já começou. Os times mais fortes da primeira divisão são os mesmos da última temporada. Atlético-MG, São Paulo e Grêmio se reforçaram. O Atlético trouxe Hulk e Nacho Fernández, que têm grandes chances de se destacar no campeonato.

Cuca, após uma experiência inicial, deve ter percebido que, no trio de meio-campo, o volante centralizado e mais recuado precisa, além de proteger a defesa, ter um rápido e eficiente passe, curto e longo. Allan possui essas qualidades.

São Paulo ficou mais forte com Crespo, Benítez, Miranda e a escalação com três zagueiros, pois, com essa formação, aproveita muito bem os dois ótimos alas, Daniel Alves e Reinaldo.

O Grêmio também se reforçou com Rafinha e Douglas Costa. Jean Pyerre, se tiver gana, consciência de suas virtudes e deficiências e contar com a ajuda do técnico Tiago Nunes para encontrar o melhor lugar no campo, poderá evoluir bastante.

O Fluminense, que tem um elenco inferior aos melhores do Brasileirão, não é mais uma surpresa. O bom técnico Roger Machado organizou muito bem a equipe, com duas linhas de quatro, próximas, e com os veteranos Nenê e Fred livres, sem participar da marcação. Os outros dois atacantes pelos lados, rápidos e hábeis, defendem e atacam bem.

Entre 2005 e 2009, quando Fred jogava bem e fazia gols pelo Lyon, da França, surgiu, no clube, o jovem centroavante Benzema, que, além de artilheiro, tinha muito talento. Tornou-se um craque.

Se Fred, no início de carreira, não fosse tão pressionado para fazer gols e para ter sucesso e se tivesse se tornado também, além de artilheiro, um jogador inventivo e construtor, como mostra no Fluminense, ele teria sido ainda mais completo, um craque do nível dos grandes centroavantes da história.

Foto: Alexandre Lops

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