Calheiros admite pedir prisão de Wajngarten por mentir à CPI da Covid
No depoimento, nesta quarta-feira (12) à CPI, o ex-secretário de Comunicação da Presidência negou que tenha falado à revista na oferta de 70 milhões de doses da vacina da Pfizer
Iram Alfaia, portal Vermelho www.vermelho.org.br
Em razão de negar o que disse na entrevista à revista Veja, o relator da CPI da Covid no Senado, Renan Calheiros (MDB-AL), admitiu pedir a prisão do ex-secretário da Secretaria de Comunicação (Secom) da Presidência da República Fabio Wajngarten. No depoimento, nesta quarta-feira (12) à CPI, ele negou que tenha falado à revista na oferta de 70 milhões de doses da vacina da Pfizer, em setembro do ano passado, e que havia chamado de incompetente e ineficiente a equipe do ex-ministro da Saúde Edurado Pazuello por não ter fechado o acordo.
“Nas propostas da Pfizer, no começo
da conversa, ela falava em irrisórias 500 mil vacinas”, disse ele, referindo-se
a entrevista à revista.
Apesar da negativa, Wajngarten
revelou à CPI que o presidente recebeu, no mesmo período, uma carta com oferta
de vacina, mas ignorou a proposta. Segundo ele, nem o presidente, o vice
Hamilton Mourão, ministro Paulo Guedes (Economia) e o ex-ministro da Saúde
Eduardo Pazuello responderam ao comunicado até novembro, ou seja, dois meses
depois. Ele entregou uma cópia da carta à CPI.
“Eu queria sugerir requisitar o áudio
à revista Veja, para verificarmos se o secretário mentiu ou não mentiu. Se ele
não mentiu, a revista Veja terá de pedir desculpas a ele. Se ele mentiu, terá desprestigiado
e mentido ao Congresso, o que é um péssimo exemplo. Vou cobrar a revista Veja,
se ele não mentiu, que ela se retrate a ele. E se ele mentiu à revista Veja e a
esta comissão, vou requerer a Vossa Excelência, na forma da legislação
processual, a prisão do depoente. Para não dizerem que não estamos tratando as
coisas com a seriedade que essa investigação requer”, afirmou o relator diante
de protesto da bancada governista.
“O senhor só está aqui por causa da
entrevista à Veja, se não fosse isso a gente nem lembrava que o senhor
existia”, lembrou o presidente da CPI, Omar Aziz (PSD-AM). “Se o senhor não foi
objetivo nas suas respostas, vamos dispensá-lo e quando chamarmos vossa
excelência de novo não vai ser como testemunha”, completou o presidente.
Publicidade mentirosa
O relator se irritou com o
comportamento evasivo do ex-secretário semelhante ao do ministro da Saúde,
Marcelo Queiroga. Quando o ex-secretário disse que houve publicidade padrão na
sua gestão para combater à pandemia, o relator o acusou de mentiroso.
Em um dos vídeos da referida
campanha, Calheiros lembrou que houve a participação do apresentador Otavio
Mesquita, que é contra o isolamento social. Aliás, na campanha há a presença
predominante de personalidades negacionistas.
Gravaram para a campanha o jogador
Felipe Melo, o jornalista bolsonarista Ernesto Lacombe, o apresentador Sikêra
Jr., o chef de cozinha Carlos Bertolazzi, o cantor Zezé Di Camargo, a doutora
Ana Escobar, que foi a favor da volta de aulas presenciais, e o lutador
Minotauro. “Não precisa sair correndo para o hospital por causa de um simples
resfriado”, diz o locutor do vídeo.
Negação da vacina
Calheiros também questionou o
ex-secretário sobre as falas do presidente contra a vacina quando denominou a
“vacina chinesa do João Dória” e disse que não a compraria. Sobre a vacina da
Pfizer, lembrou da seguinte frase: “Se você virar um jacaré é problema seu, se
você virar um super-homem é problema seu, se nascer barba em alguma mulher aí,
ou o homem começar a falar fino, eles não têm nada a ver com isso”.
Assim, o relator indagou: “Como
perguntei às autoridades do governo que aqui estiveram: qual Vossa Senhoria
avalia ter sido o impacto desse posicionamento do Presidente da República em
relação à vacinação?”. “Pois não, pois não. Senador, eu acho que os atos do
Presidente pertencem a ele”, respondeu.
A resposta irritou o relator: “Não, a
pergunta não é essa. A pergunta é: qual o impacto das declarações? Que
pertencem a ele, nós sabemos”. “Então, eu não posso especular, não posso
imaginar o que passava pela cabeça dele no momento em que ele falou isso. O que
eu imagino?”, disse o ex-secretário, que depois de muita insistência acabou
reconhecendo impacto negativo na sociedade, mas junto com outros fatores.
Ilustração: Charge de Aroeira
Veja: Pelo impeachment ou pelo voto https://bit.ly/3uEnGxa
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