Biden, os dois lados da moeda
Luciano Siqueira
Na luta política não se deve botar sinais de
igualdade em tudo, é preciso distinguir tendências e possibilidades —
aprendemos com João Amazonas.
Correto saudar a vitória de Biden no pleito
presidencial norte-americano.
Resultado que, inclusive, indiretamente
enfraqueceu governantes igualmente fascistóides, seguidores ardorosos de Trump mundo
afora, inclusive o ex-capitão Jair Bolsonaro no Brasil.
Daí a celebrar o governo Biden como
possibilidade de um novo tempo de democracia, progresso e paz e uma política
externa norte-americana de convivência pacífica e mutuamente proveitosa na cena
mundial vai uma distância estratosférica.
Biden trabalha para recuperar o dinamismo da
economia interna em frangalhos desde a eclosão da atual crise global, em 2008,
tendo como epicentro justamente os EUA. Não vacila em desrespeitar os cânones
neoliberais e promove pesados investimentos estatais em áreas cruciais para
retomada das atividades econômicas em seu país.
Impressionam o Plano Resgate Americano e o Plano de
Emprego Americano, que somam US$ 4,15 trilhões em investimentos, cerca de 20%
do PIB anual dos EUA.
Acena ao mundo com posições aparentemente progressistas
em relação a temas candentes, como a questão ambiental — com destaque para a
preservação da nossa Amazônia —, sem esconder entretanto um viés claramente
intervencionista.
A pesada mão do Estado para o incremento da
economia interna norte-americana não é o mesmo que propugna para os demais
países com os quais se esforça por manter relações desiguais e de dependência,
como o Brasil.
Aqui e nos demais países periféricos e em
relativa a ascensão no mundo, o novo presidente ianque segue propugnando a
receita neoliberal.
Esta certamente é uma das razões que levam o
outrora super ministro da economia do Brasil, Paulo Guedes, e seus Chicago
Boys, a persistirem na obsessão fiscalista e privatista, em detrimento de
absolutamente necessários investimentos públicos para recuperação das
atividades econômicas e ativação do mercado interno.
Na euforia pós derrota de Donald Trump, em nosso
país tropical abençoado por Deus vozes situadas à esquerda não tiveram nenhum
pejo em cunhar a expressão "precisamos de um Biden”.
Ledo engano, como se dizia antigamente.
Precisamos sim superar o governo desastroso,
antinacional e genocida de Jair Bolsonaro, substituindo-o por uma ampla
coalizão de caráter progressista capaz de recuperar o país do desastre do
desmonte do Estado democrático e das salvaguardas da soberania nacional e
cumprir uma nova agenda econômica pautada por pesados investimentos públicos em
infraestrutura, estímulo à produção nos diversos níveis com a correspondente
oferta de oportunidades de trabalho e socorro a milhões de famílias brasileiras
postas na sarjeta no transcurso da pandemia e da regressão econômica.
E nesse diapasão explorar em nosso proveito as
contradições que se acirram entre os Estados Unidos e a República Popular da
China em ascensão, em meio à reconfiguração geopolítica mundial.
Nesse sentido, retomar a política externa
soberana e ativa que recoloque o Brasil no seu devido lugar no mundo.
Sem ilusões em relação a hipotéticas boas
intenções do atual líder do imperialismo norte-americano.
Veja: Pelo impeachment ou pelo voto https://bit.ly/3uEnGxa
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