Europa perde a corrida com a China no Mercosul
Atraso na ratificação do acordo de livre comércio
assinado há dois anos com o bloco deixa o caminho livre para que o gigante
asiático continue se fortalecendo em uma região vital no setor alimentar
IGNACIO FARIZA e |FEDERICO RIVAS MOLINA, El
País
A Europa tem cada vez menos peso no Mercosul: o bloco integrado por Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai agora olha em direção à China. Enquanto a ratificação do acordo de livre comércio assinado em 2019 ainda precisa do visto de alguns membros da União Europeia (França, Áustria, Países Baixos, Bélgica e Irlanda), o Cone Sul americano multiplica seu comércio de matérias-primas com o gigante asiático. E, ainda mais importante, se abre ao imenso caudal investidor do gigante asiático. Com os números na mão, o tratado comercial acertado após duas décadas de intermináveis negociações pode ter chegado tarde demais, deixando à mercê da China um mercado de 265 milhões de habitantes.
As vozes de advertência, quando não de alarme, pela perda de músculo das empresas europeias no Mercosul vêm de diversas frentes, e todas elas pedem para que se pise no acelerador na ratificação do acordo. Um estudo recente elaborado pelo prestigioso instituto Ifo alemão alerta para a “perda de importância da Europa como parceiro comercial dos países do Mercosul”, em detrimento do mastodonte asiático. Quando o bloco sul-americano completa 30 anos, “as importações e exportações do Mercosul para e da Europa estão diminuindo em geral”, diz o texto, assinado pela própria diretora do Ifo, Lisandra Flach.
No caso das vendas sul-americanas à UE, a queda foi de 25% desde 2015. Em comparação, a participação da China nas exportações totais do Mercosul se multiplicou por 11 entre 2000 e 2018: de 2% a 22,1%. A segunda potência mundial —que já se aproxima da primeira, os EUA, em muitos indicadores de envergadura— é agora o mercado de vendas mais importante para o bloco. Com desvantagem, em grande medida, para a União Europeia, que em um dia não tão distante foi o mais importante parceiro comercial do Cone Sul americano.
“Sem
acordo comercial não há uma plataforma para se relacionar com o Mercosul. Se
fosse fechado a tempo, 15 anos atrás, a história teria sido outra’, diz Ignacio
Bartesaghi, diretor do Instituto de Negócios Internacionais da Universidade
Católica do Uruguai e um dos maiores especialistas em comércio da América
Latina.
Nenhum comentário:
Postar um comentário