Política e ódio
Marcelo Mário de Melo
Às vezes a ruminação da raiva consome a vontade de lutar.
Vivenciado e disseminado em explosões
individuais ou confrarias, de bolha para bolha, o ódio de torcida organizada
aponta para pessoas e grupos.
Diferente do ódio de classe, que é
voltado para o sistema opressor e alimenta teias de revolta e construção.
O encolhimento da dimensão do ódio nas
esferas militantes representa uma vitoria ideológico-psicológica do inimigo.
Quebranta o núcleo do humor e da poesia, do viço vital, da criação. E apaga a
atratividade. Eros é acorrentado na coleira de Tânatos.
A desgraça do emocionalismo em política
carrega um leque de subprodutos danosos. Entre eles, o ódio amesquinhado. A
devoção ao líder
carismático tomado como guru e figura
paterna. A gangorra do otimismo ingênuo com o desencanto cinzento.
É preciso proteger-se contra esse
vírus, buscando uma militância vicejante, saudável, crítica e autocrítica. Com
muito amor. E com muito ódio. De classe. Ao $istema.
Marcelo Mario de Melo é poeta e escritor
.
[Ilustração: Francisco de Goya]
Você já viu? https://bit.ly/2T5L74v
Nenhum comentário:
Postar um comentário