PF mira Bolsonaro, Torres, financiadores e vândalos em 4
frentes contra golpistas
Investigação sobre autores
intelectuais dos ataques inclui apurar responsabilidade do ex-presidente no
fomento a ações radicais
Fabio
Serapião/Folha de S. Paulo
A Polícia Federal atua
em quatro linhas de investigação para apurar todos os fatos e pessoas
relacionados aos ataques golpistas e
vandalismo realizados por apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) em 8
de janeiro.
Estão na mira dessas investigações o ex-presidente, o ex-ministro da Justiça
Anderson Torres e autoridades que atuaram ou se omitiram
durante a investida golpista.
As investigações pretendem detalhar como se deram os
preparativos e as invasões ao Palácio do Planalto, Congresso Nacional e STF
(Supremo Tribunal Federal) e miram os golpistas atuantes diretamente na
quebradeira, os financiadores e os agentes públicos envolvidos.
A primeira linha de
apuração foca os possíveis autores intelectuais dos ataques golpistas, e é essa
frente que pode chegar a eventual responsabilidade do ex-presidente no fomento
das ações radicais.
Bolsonaro já era um
dos alvos do inquérito das milícias digitais por causa de sua atuação na live
de 29 de julho de 2021 —quando levantou sem provas suspeita de fraude nas
eleições por meio de falhas nas urnas eletrônicas— e pelo vazamento de um
inquérito sigiloso sobre um ataque hacker ao Tribunal Superior Eleitoral.
No caso das
milícias digitais, cada um dos eventos com participação de Bolsonaro e de seus
apoiadores, como a live, os atos antidemocráticos de 2020 e outros, são vistos
como sendo praticados por uma organização criminosa que atua para atacar instituições,
autoridades e disseminar desinformação.
Agora, com essa nova apuração, a PF pretende avançar sobre como
suas investidas golpistas insuflaram seus apoiadores contra o Estado
democrático de Direito e desaguaram nos ataques aos três Poderes.
A segunda linha de apuração vai investir no detalhamento das
supostas omissões de agentes públicos durante a movimentação de pessoas para o acampamento em frente ao
quartel-general do Exército e depois para a praça dos Três
Poderes.
O ex-ministro Anderson Torres, o governador afastado Ibaneis
Rocha (DF-MDB) e integrantes das forças de segurança do
Distrito Federal são alvos nessa frente.
Torres está preso desde o dia 14 por ordem do ministro Alexandre
de Moraes, do STF. Durante busca e apreensão em sua casa, a PF encontrou uma minuta (proposta) de
decreto para o então presidente Bolsonaro instaurar estado de defesa na
sede do TSE.
O decreto golpista previa a criação de uma comissão controlada
pelo governo Bolsonaro para fazer uma "apuração da conformidade e
legalidade do processo eleitoral" vencido por Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e estabelecia as
quebras dos "sigilos de correspondência e de comunicação telemática e
telefônica" dos membros do TSE.
Como mostrou a Folha, o
ex-número 2 da Segurança Pública do Distrito Federal Fernando de Sousa Oliveira
afirmou à PF que Torres deixara o país às vésperas do 8 de janeiro sem repassar
"diretriz" nem apresentá-lo aos comandantes das
forças policiais e a Ibaneis.
Oliveira disse que não tomou conhecimento, por exemplo, do plano
operacional da Polícia Militar para as manifestações que
ocorreriam nos dias 6, 7 e 8 deste mês.
O governador afastado do DF e
Oliveira foram alvos de busca e apreensão na sexta (20) a pedido
da Procuradoria-Geral da República.
Vista como mais demorada, a terceira frente tem como objetivo
mapear os financiadores dos atos golpistas e os responsáveis pela logística do
acampamento e transporte de bolsonaristas para Brasília.
Na última semana, a PF atuou
contra possíveis financiadores de golpistas na região norte do Rio de Janeiro. A
ação foi batizada de Ulysses e prendeu três pessoas suspeitas de organizar e
financiar a viagem de bolsonaristas para Brasília.
O objetivo da PF agora é mapear outros financiadores dos atos e
do acampamento em frente ao QG do Exército em Brasília para saber se as ações
dos bolsonaristas tiveram alguma estrutura de financiamento e de organização.
Os investigadores estão identificando todos que contrataram e
organizaram viagens de ônibus para Brasília, aqueles envolvidos na manutenção
dos acampamentos nos QGs do Exército e todos que de alguma forma viabilizaram
os ataques.
A AGU
(Advocacia-Geral da União) já pediu o bloqueio de R$ 18,5
milhões em bens de pessoas físicas e empresas suspeitas de envolvimento nos ataques
golpistas. A quantia seria uma estimativa de reparação pelos danos
causados pelos atos de vandalismo no Congresso, Planalto e STF.
O quarto foco da investigação PF são os vândalos. Os
investigadores querem identificar e individualizar a conduta de cada um dos
envolvidos na depredação dos prédios históricos da capital federal.
Nesse caso, a perícia da PF tem atuado com a ajuda de softwares
de inteligência artificial para comparar as imagens dos prédios invadidos com a
dos presos e também com outros bancos de dados para identificar envolvidos.
Foram presos em flagrante 1.459 suspeitos pelos
ataques golpistas.
Para subsidiar as quatro linhas de apuração, todas as
informações que estão sendo coletadas, pelos canais disponibilizados pelo
Ministério da Justiça e PF ou em diligências feitas por ordem do ministro
Alexandre de Moraes, são analisadas e encaminhadas para os inquéritos abertos.
Segundo a Folha apurou, o
trabalho de triagem tem sido feito pela DIP (Diretoria de Inteligência
Policial) e os inquéritos em si conduzidos por delegados de setores da Dicor
(Diretoria de Investigação e Combate ao Crime Organizado).
As
múltiplas faces do que acontece https://bit.ly/3Ye45TD
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