Invasão, financiamento, omissão e
estímulo: entenda as quatro frentes de investigação sobre os atos golpistas
Apurações avançam sobre
responsáveis pelo vandalismo nas sedes dos Poderes e buscam quem bancou as
ações e as conexões políticas dos vândalos; PGR mira participação de deputados
bolsonaristas
Aguirre Talento, Bruno Abbud e Patrik Camporez,
O Globo
Quatro
dias após os atos terroristas em Brasília, as apurações sobre o caso foram
divididas pelos órgãos de investigação em quatro frentes: identificar as
pessoas que invadiram e depredaram as sedes do Congresso, do Supremo Tribunal
Federal (STF) e do Palácio do Planalto; descobrir quem financiou os
manifestantes; apurar a omissão de agentes públicos que deveriam zelar pela
segurança pública; além de encontrar eventuais conexões políticas entre líderes
das manifestações com autoridades.
Nesta
quarta-feira, a Procuradoria-Geral da República (PGR) pediu a instauração de um
novo inquérito específico para apurar essa última frente, das ligações
políticas. Em manifestação encaminhada ao Supremo Tribunal Federal (STF), o
subprocurador-geral Carlos Frederico dos Santos, designado pelo
procurador-geral Augusto Aras para conduzir as investigações sobre os atos
antidemocráticos, solicita apuração sobre a responsabilidade dos deputados
federais diplomados André Fernandes (PL-CE), Clarissa Tércio (PP-PE) e Silvia
Waiãpi (PL-AP). Segundo a PGR, “o discurso em apoio e a conclamação dos atos
que culminaram na invasão às sedes dos Poderes constitucionais são indicativos
de que o incitamento difundido (...) estimulou a prática das ações criminosas”.
Fernandes
e Clarissa negaram nas redes sociais terem incentivado os atos. O deputado
disse que não convocou ninguém e disse que não sabia que haveria “quebra-quebra
nem vandalismo”. Já Clarissa afirmou que é “totalmente contra qualquer tipo de
violência, vandalismo, ou de destruição do patrimônio público, que venha
ameaçar a nossa democracia”. Waiãpi foi procurada, mas não respondeu aos
contatos.
Em outra frente, a Polícia Federal analisa material apreendido
anteontem na casa do ex-secretário de Segurança Pública do Distrito Federal
Anderson Torres, em busca de elementos que demonstrem eventual conexões
políticas com os envolvidos nos atos de 8 de janeiro. Torres, que foi ministro
da Justiça de Jair Bolsonaro, é alvo de uma ordem de prisão do ministro
Alexandre de Moraes, do STF, que ainda não foi cumprida porque ele está em
viagem aos Estados Unidos.
A busca pelos financiadores também avançou nesta quarta, após um
vendedor de picolé de Salvador preso no domingo afirmar ter recebido R$ 400
para viajar a Brasília para participar do atos. Em depoimento à Polícia Civil,
revelado pelo colunista Ancelmo Gois, do GLOBO, Gilvã Estrela da Silva informou
que ficou sabendo da caravana “porque vendia picolés em frente ao acampamento
de Salvador”.
OS VÂNDALOS
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As principais provas são as
imagens do dia, feitas pelos próprios golpistas, por câmeras de segurança ou
pela imprensa, permitem identificar centenas de vândalos
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Foram cerca de 200 presos em
flagrante na Praça dos Três Poderes, mas as autoridades estimam a presença de
mais de 4 mil pessoas. Outras 1,2 mil pessoas foram presas no dia seguinte no
acampamento no QG do Exército. Boa parte, como os idosos, já foi liberada
·
Os depoimentos têm ajudado a
esclarecer a dinâmica e a motivação dos acontecimentos. Nos depoimentos, um dos
presos afirma que a ideia era criar uma situação que justificasse a decretação
da Garantia da Lei e da Ordem (GLO) para que o Exército pudesse ser acionado
O que falta esclarecer ou
demonstrar?
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Até que ponto o acampamento no QG
do Exército foi usado para planejar os atos
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O papel das principais lideranças
da invasão
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A Justiça precisará distinguir a
atuação de cada um nos mais de dez possíveis crimes cometidos no dia
A OMISSÃO DAS FORÇAS DE SEGURANÇA
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O governo
federal acusa o Governo do Distrito Federal de ter mudado o planejamento para o
dia 8. Segundo o ministro Flávio Dino, o GDF decidiu deixar a Esplanada dos
Ministério aberta e com menos policiais. O interventor na Segurança, Ricardo
Cappelli, afirma que o ex-secretário Anderson Torres exonerou parte da cúpula
da Secretaria e deixou o comando acéfalo.
·
As imagens apontam
para a conivência de policiais e militares responsáveis pela segurança. A
revista na barreira na Esplanada era frágil. Policiais fotografavam a multidão
que cometia crimes. Outros foram fotografados tomando água de coco
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Os depoimentos
acrescentaram novos elementos. Um golpista afirmou que um militar do Exército
ajudou vândalos a fugir do Planalto na chegada da polícia. Outros três disseram
ter sido orientados a entrar no Planalto "para se abrigar"
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Em sua defesa do
STF, o governador afastado, Ibaneis Rocha, afirmou que houve "ato de
sabotagem" por parte de sua equipe de segurança e citou, especificamente,
"a deserção dos postos por parte de alguns policiais"
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Anderson Torres
e o ex-chefe da PM, Fábio Augusto, tiveram a prisão decretada
O que falta esclarecer ou demonstrar?
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Qual a responsabilidade de cada
membro da cúpula de Segurança do DF no policiamento ineficaz?
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Qual o papel do GSI, responsável
por proteger o Palácio do Planalto com um grupo de militares?
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Quais responsabilidades do
governo federal e das Forças Armadas na falta de prevenção aos episódios e na
demora para resolvê-los?
QUEM FINANCIOU
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As investigações
da Polícia Federal e da Polícia Civil do Distrito Federal apontam que os atos
terroristas foram bancados, em sua maior parte, por empresários. Em
depoimentos, ao menos três golpistas presos afirmaram ter viajado a Brasília em
ônibus fretados, sem qualquer custo. Uma professora de SP afirmou que a
convocação foi feita num grupo de apoiadores do ex-presidente Bolsonaro
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Em depoimento,
Gilvã Estrela da Silva contou ter recebido R$ 400 para sair de Salvador e ir
protestar em Brasília. Ele disse ter ficado sabendo da caravana "porque
vendia picolés em frente ao acampamento de Salvador"
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Mais de 100
ônibus nos dias anteriores aos atos. A polícia já identificou os donos dos
veículos
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Alguns donos dos
veículos que transportaram golpistas têm ligação com lideranças bolsonaristas.
Um deles, o empresário Maurício Nogueira, concorreu a deputado estadual em SP e
fez campanha com a deputada Carla Zambelli
O que falta esclarecer ou demonstrar?
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As autoridades têm a lista dos
donos de veículos para chegar a quem pagou por eles
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Ao chegar a quem financiou os
manifestantes, a polícia investigará se há ligações com lideranças políticas ou
outros grupos
OS INFLUENCIADORES POLÍTICOS
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O discurso de enfrentamento das
instituições e contestação do sistema e do resultado das eleições por parte do
ex-presidente Jair Bolsonaro e de seus aliados ajudou, na visão de autoridades,
a criação de grupos dispostos a atos como os de domingo
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Na noite de anteontem, Bolsonaro
compartilhou um post no Facebook que contestava a eleição de Lula, intensificando
o discurso mesmo após os atos golpistas
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A Procuradoria-Geral da República
pediu para abrir inquérito contra três deputados federais diplomados suspeitos
de incitar os atos de terrorismo em posts nas redes sociais: André Fernandes
(PL-CE), Clarissa Tércio (PP-PE) e Silvia Waiãpi (PL-AP)
O
que falta esclarecer ou demonstrar?
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Um dos desafios das investigações é
demonstrar ligação direta entre líderes das manifestações com autoridades
políticas
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Para juristas, publicações nas redes
sociais feitas por políticos ajudam a construir provas de incitação, mas, se
isoladas, podem ser insuficientes para ligá-los a atos violentos
O mosaico da vida que segue https://bit.ly/3Ye45TD
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