A necessária revisão do plano estratégico da
Petrobras
Plano estratégico 2023-2027 da
Petrobras | Brasil
Diretoria Técnica do Instituto de Estudos
Estratégicos de Petróleo, Gás Natural e Biocombustiveis (Ineep)
No dia 30 de novembro de 2022, a
Petrobras aprovou um novo
plano estratégico para
o período 2023-2027. Comemorado pela gestão antiga da estatal, pois consolidou
a Petrobras “como a maior investidora do país e incluía todos os projetos que
apresentaram viabilidade econômica segundo os critérios de governança e
aprovação da empresa”, o plano trouxe poucas novidades estratégicas em relação atilde;o
aos últimos anos.
O crescimento dos investimentos
foi relativamente baixo (cerca de R$ 6 bilhões) e manteve a atuação da
Petrobras fortemente direcionada para o segmento de Exploração e Produção
(E&P), que representou cerca de 83% dos projetos que preten dem ser realizados
pela companhia. Além disso, não houve uma revisão das diretrizes estratégicas
nos demais segmentos da cadeia de valor. Particularmente em relação à transição
energética, os investimentos continuaram focados em E&P, isto é, foram
privilegiados projetos de descarbonização da produção de petróleo em vez
daqueles de produção de novas fontes de energia. Dos R$ 4,4 bilhões de
investimentos dedicados à transição energética, cerca de R$ 3,7 bilhões foram
em projetos de descarbonização.
Os compromissos centrais da
companhia chamam mais a atenção do que os números. Os eixos estratégicos foram
mantidos, a saber: o foco industrial continuou centrado na exploração e
produção; as métricas de topo da companhia pres ervaram questões de
endividamento; e o principal público para geração de valor foi o acionista.
“Norteados pelo compromisso de
gerar valor para a sociedade e acionistas, ao longo de 2022, entregamos uma
performance operacional e financeira com plena aderência ao nosso Plano
Estratégico 2022-2026, mostrando nossa resiliência e solidez, aumentando, dessa
forma, o grau de confiança na consecução de nossas metas. Seguimos na nossa
trajetória de entrega de resultados consistentes e sustentáveis. A estrutura de
capital foi mantida em nível saudável e o caixa atingiu um patamar compatível
com as nossas necessidades financeiras, alcançando a primeira e a segunda maior
marca trimestral de EBITDA [lucro antes de juros, impostos depreciaç ão e
amortização] e fluxo de caixa operacional de sua história, nos segundo e
terceiros trimestres de 2022, respectivamente. Nesse contexto, o novo PE
2023-27 foi elaborado preservando a visão, os valores e o propósito da
companhia”, disse a empresa na divulgação do plano estratégico.
Embora esses aspectos sejam
importantes para a sustentabilidade de longo prazo da companhia, ele ignora
fatores fundamentais explorados por outras empresas do setor para guiar sua
atuação futura e até mesmo aqueles que já nortearam a estratégia da estata l em
anos anteriores.
Até 2014, o Petrobras veio
acompanhando os grandes players do setor, buscando ampliar sua atuação no setor
de energia – por meio de amplos investimentos em energia alternativa –,
desbravar as potencialidades da cadeia de petróleo nacional e se inser ir na
cadeia global de energia.
No Plano de Gestão e Negócios
(PNG) da Petrobras entre 2007-2011, por exemplo, a estratégia corporativa da
companhia foi “liderar o mercado de petróleo, gás natural e derivados e
biocombustíveis na América Latina, atuando como empresa integrada de energia,
com expansão seletiva da petroquímica, da energia renovável e da atividade
internacional”. Para isso, as principais iniciativas da estatal estiveram
estruturadas na expansão de atuação de vários mercados (petroquímico,
biocombustíveis, entre outros), no desenvolvimento integrado dos mercados de
gás e energia elétrica, bem como na ampliação das vantagens competitivas na
produção de petróleo. A consecução dessas iniciativas demandou gigantescos
blocos de investimento nos mais diversos segmentos de atuação da Petrobras. Não
foi por outra razão que, em relação ao PNG anterior (2006-2010), os
investimentos aumentaram mais de 60%. Entre outros resultados, foram tais
investimentos que permitiram a descoberta do pré-sal e uma forte expansão das
reservas de óleo e gás da Petrobras. Essa política colocou a Petrobras como um
grande ator global tornando-se forte concorrente de gigantes do setor como
Shell, BP etc., bem como deu ao Brasil a oportunidade de garantir sua soberania
energética e disputar um espaço mais relevante na geopolítica do petróleo.
O redirecionamento estratégico da
Petrobras, que ocorreu a partir de 2016, demarcou uma mudança de visão do papel
da estatal tanto na economia brasileira, como na sua inserção global no setor
de petróleo. Com isso, a empresa passou a adotar uma po stura preocupada quase
que exclusivamente com a exploração do pré-sal e com seu endividamento,
colocando em segundo plano as competências necessárias para sustentar sua
posição de grande empresa do setor petróleo e indutora do desenvolvimento.
Essa mudança de mentalidade e o
necessário redirecionamento estratégico será o primeiro desafio da gestão da
Petrobras do governo Lula. Em vez de direcionar todos na exploração do petróleo
e na contenção de investimento s, a gestão da companhia terá a missão de
utilizar os recursos gerados pela produção de petróleo no desenvolvimento de
novas fontes energéticas, bem como retomar seu papel de fomentar a expansão de
outras cadeias produtivas. De forma bastante resumida, o desafio será utilizar
os recursos gerados pelo petróleo para novos investimentos, principalmente na
verticalização da empresa e no desenvolvimento de novas fontes energéticas, em
vez de repassá-los aos acionistas.
Em recente artigo, o atual pres idente da
Petrobras, Jean-Paul Prates, já apontou que pretende rever a atuação no refino
e a posição da companhia na transição energética, uma vez que “manter a
estratégia de se concentrar apenas na produção de energia suja e continuar
dependente das importações de derivados é que ameaça [a Petrobras] com um
passado conhecido de perder soberania energética e contribuir com a poluição do
planeta”.
A dúvida que ainda fica é como a
Petrobras fará a revisão estratégica. Para isso, será fundamental uma avaliação
das lacunas do atual plano estratégico e identificar as oportunidades
existentes que não foram exploradas pela empresa.
Visando contribuir com essa
tarefa, o Instituto de Estudos Estratégicos de Petróleo, Gás Natural e
Biocombustíveis (Ineep), em parceria com o Le Monde Dipl omatique
Brasil, a partir desta semana, elabora um conjunto de artigos visando
analisar as principais frentes do plano estratégico de 2023-2027, bem como
identificar potencialidades futuras para a Petrobras.
O presente texto é o primeiro de
uma série de cinco artigos elaborados pelo Ineep. O próximo artigo da série
apresenta os aspectos gerais da estratégia da companhia, bem como as principais
diretrizes estratégicas da empresa para o segmento de expl oração e produção.
Os dois artigos seguintes discutem os elementos que estruturam a estratégia de
negócios da Petrobras, respectivamente, nas áreas do refino e de
biocombustíveis. Por fim, um último artigo, traz uma visão de potencialidades
que devem ser exploradas pela empresa nos próximos quatro anos, que foram
ignoradas nos últimos planos estratégicos da Petrobras.
Boa leitura a todas e todos!
Nem sempre no meio do caminho tem
uma pedra https://bit.ly/3Ye45TD
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