Renato Rabelo e as realizações da Fundação Maurício Grabois
Osvaldo Bertolino/Portal da Fundação
Grabois
Ao
apresentar a renúncia à Presidência da Fundação Maurício Grabois ao Comitê
Central do Partido Comunista do Brasil (PCdoB) para cuidar da saúde, Renato
Rabelo enalteceu os êxitos conseguidos pela entidade. A complexidade da
situação do país exige um ritmo de atividades com mais planificação, afirmou.
Sua atuação histórica como ideólogo e construtor do Partido foi amplamente elogiada
na reunião do Comitê Central, realizada entre os dias 5 e 7 de maio.
Renato informou que
havia comunicado a decisão à presidenta do PCdoB, Luciana Santos, e pediu ao
Comitê Central o seu afastamento e indicação de um substituto. O nome indicado
foi o de Adalberto Monteiro, ex-presidente da Fundação, num processo de
recomposição da direção até o término do mandato, em março de 2024. “Pensei
muito e aquilatei que deveria assumir a Presidência da Fundação outro ou outra
camarada. Temos que fortalecer a Fundação Maurício Grabois na situação atual”,
afirmou.
Segundo ele, o Partido
deve buscar uma forma de, no tempo menor possível, fazer prevalecer a força das
instituições partidárias. “Diante desse quadro, meditando cheguei à conclusão
de que deveria me afastar da Presidência da Fundação para resolver essa
situação. Considerei que o caminho mais justo seria eu renunciar.”
Luciana avaliou que a
decisão foi acertada, necessária para criar melhores condições aos seus
cuidados com a saúde e assim prosseguir com suas contribuições ao Partido e às
lutas do povo. Lembrou que Renato, à frente da Fundação por sete anos, cumpriu
“uma agenda rica de realizações nesta área relevante de ação e construção de
nosso Partido”. “Foi um período de grandes exigências de elaboração teórica,
política, histórica, aguda luta política e de ideias, num contexto de um mundo
envolto em múltiplas crises e mudanças, com o Brasil sob grandes ameaças e
retrocessos.”
Segundo ela, a presença
de Renato à frente da Fundação, com sua elevada estatura política, “resultou em
aportes e iniciativas relevantes à nossa legenda para atravessar esse mar
revolto”. Oportunamente, a Fundação sistematizará o trabalho e o rico legado de
Renato na Fundação, informou. “Neste momento, nossas palavras são de agradecimento
a Renato pelo grande trabalho realizado. Temos certeza de que em breve ele,
tendo recuperado a saúde, seguirá nos oferecendo mais e mais contribuições.”
Histórico de realizações
Renato assumiu a
Presidência da Fundação em 1º de abril de 2016. À época, em declaração ao Portal
Grabois, ele apontou como principal desafio o desenvolvimento da
teoria revolucionária, “procurando construir uma alternativa consequente e
viável para o tempo em que vivemos”. “A Fundação Maurício Grabois atingiu um
patamar elevado na sua contribuição para as ideias progressistas, avançadas,
baseadas em autores revolucionários, não só da época de Marx e Lênin.”
Para ele, a Fundação é
um posto privilegiado para a luta de ideias. Recebeu intelectuais, participou
de debates e dedicou-se à questão teórica. A luta pelo socialismo estava sempre
presente em suas análises. Assim como os problemas da conjuntura. Ao analisar o
centenário da Revolução Russa no “Salão do livro político”, na Pontifícia
Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), em junho de 2017, por exemplo,
contextualizou o golpe contra a ex-presidenta da República, Dilma Rousseff, em
2016, como resultado da união da classe dominante, vinculada aos interesses do
grande capital internacional, para restaurar a ordem neoliberal.
Ele vinha articulando
com os presidentes das demais fundações dos partidos de esquerda formas de
resistência. O resultado foi um manifesto, intitulado Unidade
para reconstruir o Brasil, lançado dia 20 de fevereiro de 2017 num
ato político no plenário da Câmara dos Deputados. Foram oito meses de diálogos
até a conclusão do documento. Tratava-se de um trabalho coletivo, uma
convergência mínima para se encontrar o fio condutor de um amplo diálogo,
explicou Renato.
Renato participou de
atos de lançamento do manifesto em diferentes regiões do país. A Fundação
organizou seminários, debates e publicação de livros com a ideia da resistência
democrática. Também dedicava grande atenção à unidade da esquerda como caminho
para enfrentar e derrotar o golpismo. Após a vitória de Jair Bolsonaro em 2018,
participou, com os demais presidentes das fundações dos partidos que apoiaram
Fernando Haddad (PT) e Manuela d’Ávila (PCdoB), de uma reunião em Brasília para
avaliar o resultado das eleições. Decidiram que, diante da ameaça à democracia,
a resistência teria de ser imediata e contundente.
As conversações
evoluíram para a ideia de um projeto de oposição, iniciativa que abrangia o
Congresso Nacional, por onde passariam propostas bolsonaristas para tentar
desfigurar o Estado Democrático de Direito e os direitos sociais. Renato
enalteceu o trabalho das fundações no período pré-eleitoral e avaliou a
situação política no país como “adversa e perigosa”. Mais do que nunca, era
importante o trabalho das fundações para subsidiar seus respectivos partidos e
uma frente democrática que deveria surgir como caminho para a resistência.
Numa reunião das
fundações em 10 de dezembro de 2018, Marcio Pochmann, presidente da Fundação
Perseu Abramo (PT), apresentou a proposta de criação do Observatório
da democracia, com o “objetivo de organizar e implementar um modelo
estratégico de acompanhamento governamental e sobre mudanças na legislação,
restrição a direitos e encerramento de políticas públicas”.
O Observatório
da democracia foi lançado na noite de 1º de fevereiro de 2019,
num ato político no centro de eventos e convenções Brasil 21, em Brasília.
Durante o dia, uma oficina das fundações debateu a conjuntura que emergia com o
novo governo. Renato disse que o grande desafio era entender o bolsonarismo e o
que fazer politicamente. “É uma derrota significativa porque foi para a uma
nova direita, extremada, que pela primeira vez ganhou uma eleição direta no
Brasil”, afirmou.
Ele situou o resultado
das eleições na tendência do capitalismo de uma nova divisão – a parte que
expressa o liberalismo clássico e a nova vertente da classe dominante que, para
garantir o liberalismo, recorre ao autoritarismo. “O capítulo Bolsonaro entra
nessa vertente, que não podemos ver apenas como um caso brasileiro. Temos que
examinar o conjunto.”
No ato político de
lançamento do Observatório da democracia, com as presenças
de lideranças políticas – entre elas as presidentas do PCdoB e do PT, Luciana
Santos e Gleisi Hoffmann –, Renato caracterizou como fato inédito a união de
seis fundações de partidos diferentes para definir a importante tarefa de fazer
um acompanhamento investigativo das ações do governo Bolsonaro. “É importante
que a gente tenha elementos para que as fundações possam ajudar os partidos na
análise e atuações políticas.”
Renato coordenou também
o que chamou de “jornada de colóquios”, organizada pela Fundação Maurício
Grabois, com uma pauta ampla, debatida por um variado conjunto de especialistas.
Numa oficina organizada pelo Observatório da democracia e
o Comitê
nacional em defesa das empresas públicas, intitulada O
papel do Estado e das empresas públicas, realizada em Brasília dia
29 de maio de 2019, ele disse que as fundações buscavam o diálogo com a
sociedade para “incorporar os anseios, bandeiras, as questões, digamos assim,
tão candentes para o povo”.
Ele analisou também os
efeitos da incorporação do Partido Pátria Livre (PPL) ao PCdoB, que tinha que
se dar nos planos organizativo, político e do pensamento programático, este
materializado com a cátedra Cláudio Campos, coordenada por Rosanita Campos –
dirigente do PCdoB que veio do PPL –, que passou a integrar a direção da
Fundação. Assumiu sua titularidade o economista Nilson Araújo de Souza,
igualmente originário do PPL, membro da direção do Partido e da Fundação.
Renato também coordenou
o processo de transformação da histórica revista Princípios em
publicação científica, idealizado pelos dirigentes da Fundação e do PCdoB Fábio
Palacio e Júlio Vellozo. Segundo ele, com o novo projeto editorial Princípios buscava
se qualificar em tempos de novas e mais complexas exigências na esfera da luta
ideológica. “Em sua nova fase a revista, sem deixar de dialogar com o mundo
político, será um veículo para dialogar mais intensamente com a
intelectualidade científica, acadêmica e cultural.”
Com a pandemia da
Covid-19, as atividades da Fundação foram reduzidas, mas Renato participou, de
forma virtual, de debates, seminários e reuniões, num momento em que o
bolsonarismo recrudescia o golpismo. Uma dessas atividades ocorreu em 12 de
maio de 2021: o lançamento do livro Pensamento nacional-desenvolvimentista,
da cátedra Cláudio Campos, uma coletânea de artigos, com prefácio de Renato.
O livro preencheu uma
lacuna, como referência sobre o ideário nacional desenvolvimentista, avaliou
Renato. Observou que mesmo as forças progressistas e defensores de um projeto
de desenvolvimento pouco exploram e refletem sobre o tema. “A pandemia expôs
ainda mais os danos que a lógica financista dos governos neoliberais e o status
neocolonial na divisão internacional do trabalho atinge os interesses da
população, particularmente impedindo qualquer possibilidade de desenvolvimento
nacional”, afirmou.
Em 7 de julho de 2021,
houve o lançamento de outro livro pela Fundação e a editora Anita Garibaldi,
intitulado Economia política da grande crise capitalista (2007-2017)
– ascensão
e ocaso do neoliberalismo. O autor, Aloisio Sérgio Barroso, também
diretor da Fundação e membro do Comitê Central do PCdoB, recebeu para um debate
virtual os professores Luiz Gonzaga Belluzo, João Quartim de Moraes, José
Carlos Braga e Renato. Ana Maria Prestes, socióloga e igualmente dirigente da
Fundação e do PCdoB, mediou o debate. Para Renato, o livro é uma referência
prioritária de estudo sobre um dos temas fundamentais da linha de pesquisa na
Fundação. “É uma grande contribuição que recebemos.”
No XV Congresso do PCdoB,
realizado em outubro de 2021, Renato apresentou um balanço das atividades da
Fundação Maurício Grabois, que passava dos treze anos “disseminado ideias e
formando quadros e a militância”. “Empreendeu um espaço de confluência do
pensamento marxista, revolucionário e progressista. Tem se dedicado às
questões-chave no enfrentamento da luta de ideias na atualidade do nosso
período histórico. Na sua origem, nosso camarada Adalberto Monteiro teve um
papel protagonista.”
Viver é mais do que
existir https://bit.ly/3Ye45TD
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