Sombra de Bolsonaro, Mauro
Cid estava sempre na cena do crime
Cenário está armado para que o tenente-coronel
pague a conta em nome do capitão
Bernardo Mello
Franco/O Globo
A cena marcou os debates da eleição presidencial. Nos intervalos
de cada rinha televisiva, um militar subia ao palco para cochichar com Jair
Bolsonaro. Era o tenente-coronel Mauro Cid, preso na quarta-feira pela Polícia
Federal.
Nos estúdios de TV, o oficial fardado se destacava entre
os civis. Sua presença tinha duplo significado. Simbolizava o uso da máquina na
campanha à reeleição e o apoio dos quartéis ao candidato da extrema direita.
Cid foi a sombra de Bolsonaro no poder. Tenente-coronel do
Exército, não se limitava às atribuições de um ajudante de ordens, como
carregar papéis e atender telefonemas. Também aconselhava o chefe em assuntos
políticos e eleitorais.
O militar entrou na mira da PF em 2021, ao organizar
live em que o presidente fez ataques à urna eletrônica. O caso o levou a ser
indiciado por vazamento de dados confidenciais. A Justiça ordenou a quebra de
seu sigilo telefônico, o que daria origem a uma série de novas investigações.
A polícia descobriu que o faz-tudo de Bolsonaro trocava
mensagens com extremistas que tramavam um golpe de Estado. Ele também foi
indiciado por produzir desinformação sobre a vacina contra a Covid.
Mais tarde, a PF passou a investigá-lo sob suspeita de
operar um esquema de caixa dois no Planalto. O dinheiro seria usado para pagar
despesas pessoais do presidente e da primeira-dama.
O tenente-coronel ainda se envolveu na tentativa de
liberar joias apreendidas pela Receita Federal em Guarulhos. As peças foram
trazidas ilegalmente para o país e engordariam o patrimônio da família
Bolsonaro. Já no governo Lula, Cid foi o pivô da crise que derrubou o
comandante do Exército. Apesar da sua folha corrida, o general Júlio Cesar de
Arruda insistia em nomeá-lo para comandar um batalhão em Goiás.
No caso que o levou à cadeia, Cid não agiu apenas a
serviço do capitão. Também adulterou dados do SUS para a mulher e as filhas. Em
mensagem interceptada pela PF, ele se gabou do próprio negacionismo. “Não vou
tomar vacina mesmo. Eu e ninguém aqui em casa”, disse. Mesmo assim, mandou emitir
carteirinhas falsas para que a família pudesse entrar nos EUA.
A prisão do faz-tudo criou novos riscos para o bolsonarismo.
Curiosamente, o advogado escalado para defendê-lo se mostrou mais preocupado em
defender o ex-presidente. A julgar por suas entrevistas, Cid seria o primeiro
ajudante de ordens que, em vez de cumprir ordens, agia à revelia do chefe.
O cenário está armado para que o tenente-coronel pague a
conta em nome do capitão. Cid é um arquivo vivo. Viu tudo, ouviu tudo e sempre
esteve na cena do crime. A ver se aceitará o papel de bode expiatório.
Diário de um detento
A defesa de Anderson Torres diz que o ex-ministro chora
todos os dias e precisa sair da cadeia. Mas não quer que ele seja transferido
para um hospital penitenciário, como facultou o ministro Alexandre de Moraes.
Então ficamos combinados assim: Torres está doente
demais para ficar preso e doente de menos para ser internado.
A luta
política na base da sociedade https://bit.ly/3FZNuve
Nenhum comentário:
Postar um comentário