15 maio 2023

Enio Lins opina

Cartas entre Jorge de Lima e Alceu Amoroso Lima: Panorama inédito sobre um Brasil em efervescência

Pode apostar que esse é um dos melhores livros produzidos no País em 2022 e uma das fontes mais ricas para conhecimento e pesquisa da realidade cultural brasileira no século passado
Enio Lins www.eniolins.com.br

 

Leandro Garcia é um carioca mineiro, ou vice-versa. Ousado e jeitoso, se especializou em cartas, em suas linhas e entrelinhas. Produziu três elogiados livros epistolares, mas se superou neste que será lançado segunda-feira, 15 de maio, no Instituto Histórico e Geográfico de Alagoas. As missivas entre Jorge de Lima e Alceu Amoroso Lima (mais conhecido como Tristão de Ataíde) são o foco dessa novíssima obra.

Graduado em Letras, Doutor e Pós-Doutor em Estudos Literários, pela PUC/RJ, e Pós-Doutor em Teologia, pela Faculdade Jesuíta de Filosofia e Teologia de Belo Horizonte, Leandro Garcia Rodrigues tem um currículo que não cabe nesta página, e não se restringe à área acadêmica; tendo produzido livros instigantes na área epistolar.

“Alceu de Amoroso Lima: Cultura, Religião e Vida Literária” (Edusp, 2014), “Correspondência – Carlos Drummond de Andrade e Alceu Amoroso Lima (UFMG, 2014), “Cartas de esperança em tempos de ditadura: Frei Betto e Leonardo Boff escrevem a Alceu Amoroso Lima”, (Vozes, 2015) são três elogiadas publicações anteriores de Leandro Garcia.

Fã de Jorge de Lima, veio à terra do poeta de “Invenção de Orfeu” para palestras quando do Bicentenário da Emancipação Alagoana, em 2017. Além das conferências sobre o autor de “Acendedor de Lampiões”, trouxe ao Estado um lume para acender um projeto acalentado desde Minas Gerais: um livro sobre a correspondência entre Jorge e Alceu.

DIÁLOGOS


Sabendo da admiração do então governador de Alagoas para com o literato que emergiu para o mundo a partir do Vale do Mundaú, buscou contato. E antes de voltar à sua dupla cidadania mineira-carioca, almoçou com Renan Filho, apresentou o projeto entre uma garfada e outra e, antes de ser servida a sobremesa de doce de coco, a ideia estava aprovada.

Conhecedor dos arquivos de Alceu Amoroso Lima, já havia identificado lá muitas cartas de Jorge de Lima. Apostou que o alagoano teria guardado as respostas do mineiro. Acertou. Com o aval de Maria Tereza Jorge de Lima, filha do autor de “Essa negra Fulô”, o pesquisador desenvelopou um magote de correspondências de Alceu para Jorge.

Toda uma época de reflexões intelectuais, observações artísticas e críticas mundanas estava desnudada pela leitura da correspondência entre os dois pensadores. Ouro puro. Todo esse material teve de ser copiado a mão, dada a recomendação técnica de não fotocopiar. Equipes foram montadas, no Rio e em Minas, para essa tarefa caligráfica, artesanal.

Pesquisador experiente, intuiu que nas gavetas alagoanas deveria existir materiais valiosos de Jorge de Lima, e as cartas davam pistas disso. Voltou à Alagoas e, sozinho, se enfurnou nos arquivos da Academia Alagoana de Letras e do Instituto Histórico e Geográfico. E descobriu muita coisa de alta qualidade, inclusive poemas inéditos.

TESOURO


Além dos arquivos das duas instituições, o historiador contou com o apoio de Jaime Lustosa de Altavila, que lhe disponibilizou materiais do arquivo pessoal de seu pai, Jaime de Altavila, com documentos até então desconhecidos. E, num lance de sorte adicional, topou com um raro álbum de fotografias de Aloísio Branco, este cedido por Paulo Poeta.

Céu de brigadeiro para o voo Jorge/Alceu. Mas como versejou Carlos Drummond de Andrade, tinha uma pedra no meio do caminho: a pandemia de Covid-19. As equipes tiveram de interromper o trabalho já nos finalmentes e o pesquisador, em seguida, foi pego pelo vírus e padeceu de rigorosa internação, assim como sua família. Obra parada.

O serviço só pôde ser retomado em 2021 e o livro foi impresso no final do primeiro semestre de 2022, já sob o período de veto da Lei Eleitoral para ato público em Alagoas. Foi lançado com noite de autógrafos no Petit Trianon, sede da Academia Brasileira de Letras, no Rio de Janeiro, em 11 de agosto, com a presença de Merval Pereira, presidente da ABL.

Os tumultuados tempos das eleições do ano passado e dos primeiros agitados meses deste ano foram postergando a solenidade em solo alagoano. Mas, ao fim e ao cabo, a (grande) obra será lançada em Alagoas na noite de 15 de maio, no Instituto Histórico e Geográfico, iniciando um novo ciclo, com o devido brilho, de uma verdadeira epopeia literária.

A vida é uma interminável obra de arte https://bit.ly/3Ye45TD

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