Cartas entre Jorge de Lima e Alceu Amoroso Lima: Panorama inédito
sobre um Brasil em efervescência
Pode apostar que esse é um dos
melhores livros produzidos no País em 2022 e uma das fontes mais ricas para
conhecimento e pesquisa da realidade cultural brasileira no século passado
Enio Lins www.eniolins.com.br
Leandro Garcia é um carioca mineiro, ou vice-versa. Ousado e
jeitoso, se especializou em cartas, em suas linhas e entrelinhas. Produziu três
elogiados livros epistolares, mas se superou neste que será lançado
segunda-feira, 15 de maio, no Instituto Histórico e Geográfico de Alagoas. As
missivas entre Jorge de Lima e Alceu Amoroso Lima (mais conhecido como Tristão
de Ataíde) são o foco dessa novíssima obra.
Graduado em Letras, Doutor e Pós-Doutor em Estudos
Literários, pela PUC/RJ, e Pós-Doutor em Teologia, pela Faculdade Jesuíta de
Filosofia e Teologia de Belo Horizonte, Leandro Garcia Rodrigues tem um
currículo que não cabe nesta página, e não se restringe à área acadêmica; tendo
produzido livros instigantes na área epistolar.
“Alceu de Amoroso Lima: Cultura, Religião e Vida
Literária” (Edusp, 2014), “Correspondência – Carlos Drummond de Andrade e Alceu
Amoroso Lima (UFMG, 2014), “Cartas de esperança em tempos de ditadura: Frei
Betto e Leonardo Boff escrevem a Alceu Amoroso Lima”, (Vozes, 2015) são três
elogiadas publicações anteriores de Leandro Garcia.
Fã de Jorge de Lima, veio à terra do poeta de
“Invenção de Orfeu” para palestras quando do Bicentenário da Emancipação Alagoana,
em 2017. Além das conferências sobre o autor de “Acendedor de Lampiões”, trouxe
ao Estado um lume para acender um projeto acalentado desde Minas Gerais: um
livro sobre a correspondência entre Jorge e Alceu.
DIÁLOGOS
Sabendo da admiração do então governador de
Alagoas para com o literato que emergiu para o mundo a partir do Vale do
Mundaú, buscou contato. E antes de voltar à sua dupla cidadania
mineira-carioca, almoçou com Renan Filho, apresentou o projeto entre uma
garfada e outra e, antes de ser servida a sobremesa de doce de coco, a ideia
estava aprovada.
Conhecedor dos arquivos de Alceu Amoroso Lima, já
havia identificado lá muitas cartas de Jorge de Lima. Apostou que o alagoano
teria guardado as respostas do mineiro. Acertou. Com o aval de Maria Tereza
Jorge de Lima, filha do autor de “Essa negra Fulô”, o pesquisador desenvelopou
um magote de correspondências de Alceu para Jorge.
Toda uma época de reflexões intelectuais,
observações artísticas e críticas mundanas estava desnudada pela leitura da
correspondência entre os dois pensadores. Ouro puro. Todo esse material teve de
ser copiado a mão, dada a recomendação técnica de não fotocopiar. Equipes foram
montadas, no Rio e em Minas, para essa tarefa caligráfica, artesanal.
Pesquisador experiente, intuiu que nas gavetas
alagoanas deveria existir materiais valiosos de Jorge de Lima, e as cartas
davam pistas disso. Voltou à Alagoas e, sozinho, se enfurnou nos arquivos da
Academia Alagoana de Letras e do Instituto Histórico e Geográfico. E descobriu
muita coisa de alta qualidade, inclusive poemas inéditos.
TESOURO
Além dos arquivos das duas instituições, o
historiador contou com o apoio de Jaime Lustosa de Altavila, que lhe
disponibilizou materiais do arquivo pessoal de seu pai, Jaime de Altavila, com
documentos até então desconhecidos. E, num lance de sorte adicional, topou com
um raro álbum de fotografias de Aloísio Branco, este cedido por Paulo Poeta.
Céu de brigadeiro para o voo Jorge/Alceu. Mas como
versejou Carlos Drummond de Andrade, tinha uma pedra no meio do caminho: a
pandemia de Covid-19. As equipes tiveram de interromper o trabalho já nos
finalmentes e o pesquisador, em seguida, foi pego pelo vírus e padeceu de
rigorosa internação, assim como sua família. Obra parada.
O serviço só pôde ser retomado em 2021 e o livro
foi impresso no final do primeiro semestre de 2022, já sob o período de veto da
Lei Eleitoral para ato público em Alagoas. Foi lançado com noite de autógrafos
no Petit Trianon, sede da Academia Brasileira de Letras, no Rio de Janeiro, em
11 de agosto, com a presença de Merval Pereira, presidente da ABL.
Os tumultuados tempos das eleições do ano passado
e dos primeiros agitados meses deste ano foram postergando a solenidade em solo
alagoano. Mas, ao fim e ao cabo, a (grande) obra será lançada em Alagoas na
noite de 15 de maio, no Instituto Histórico e Geográfico, iniciando um novo
ciclo, com o devido brilho, de uma verdadeira epopeia literária.
A vida é uma interminável
obra de arte https://bit.ly/3Ye45TD
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