01 agosto 2024

Minha opinião: governos e partidos

A Venezuela, o óleo e a água*

Luciano Siqueira 

A complexa a questão da Venezuela ensejou momentaneamente posturas distintas entre o governo brasileiro, pela palavra do próprio presidente da República, e partidos políticos que integram a coalizão governista — o PT e o PCdoB.

O tema em si há que ser examinado tanto do ponto de vista do princípio da autodeterminação dos povos, que implica em não ingerência nos assuntos internos de determinado país; como sob o prisma geopolítico mundial.

 

É fato que o regime bolivariano tem sido alvo de severas sanções econômicas impostas pelos Estados Unidos e por países europeus, razão direta de muitas dificuldades econômicas e sociais que enfrenta. 

 

A Venezuela dispõe das maiores reservas de petróleo do mundo (alvo da cobiça norte-americana), juntamente com o Irã e a Rússia, e ainda padece de uma economia fundamentalmente dependente da exportação do produto.

 

E os EUA têm patrocinado diretamente a extrema direita venezuelana em sucessivas tentativas de golpe. 

 

O presente pleito presidencial foi antecedido pela divulgação de pesquisas distorcidas que anunciavam a provável (sic) derrota do presidente Nicolás Maduro, precisamente para criar um clima favorável a nova aventura golpista. 

 

Nesse contexto, se ao governo brasileiro cabe certa cautela, inclusive pelo papel que o presidente Lula exerce no subcontinente sul-americano, diplomaticamente proativo, aos partidos políticos cumpre pronunciamento próprio. 

 

Isto sob gigantesca a pressão midiática, na base da deturpação dos fatos e da exaltação da execrável líder da extrema direita venezuelana, María Corina Machado.

O PT agiu corretamente ao reconhecer o resultado das eleições presidenciais, assim como o PCdoB.

Demais, o caso específico do Partido Comunista do Brasil implica na relação de amplitude e independência no seio da ampla coalizão governista. 

Desde 2012, quando o PCdoB passou a integrar o governo no primeiro escalão, ocupando a chefia do Ministério do Esporte no primeiro governo Lula, a 9ª Conferência Nacional partidária estabeleceu conduta política "propositiva e ao mesmo tempo crítica". 

Não se trata de se opor ao governo, obviamente, e sim de contribuir com opinião própria.  

Dito de maneira simplificada, o PCdoB integra as frentes democráticas e progressistas as mais amplas possíveis, trabalhando pela unidade e ao mesmo tempo preservando a sua própria fisionomia, feito o óleo na água — juntos, mas não diluídos entre si.

*Texto da minha coluna desta quinta-feira no portal Vermelho

Leia também: https://lucianosiqueira.blogspot.com/2023/05/minha-opiniao_11.html

3 comentários:

Anônimo disse...

Concordo com esse opinião! Não podemos nos pautar pela gde mídia refém e porta vozes do imperialismo decadente dos EUA.

Anônimo disse...

Talvez tenha faltado esclarecer que, diferente dos partidos políticos, o governo deve considerar em suas avaliações os desdobramentos do seu posicionamento, frente as conjunturas interna e externa. Sabe que tem diante de si uma mídia hegemônica que já demonizou Maduro como ditador, ignorando as sansões impostas e o confisco criminoso das reservas cambiais, naturalizando estes crimes. E no plano externo seu posicionamento geopolítico. Precisa manter capacidade de diálogo com todas as partes envolvidas.

Anônimo disse...

Muito bom texto, Dr. Luciano Siqueira.