13 abril 2025

Futebol: o inesperado pesa

Deveríamos nos acostumar com atuações sem brilho e derrotas inesperadas
Fracassos dos favoritos ainda provocam grandes surpresas e enormes críticas
Tostão/Folha de S. Paulo 

futebol costuma zombar de nossa racionalidade e de nossa pretensa sabedoria. Apesar de tantas atuações e resultados improváveis, as derrotas dos favoritos ainda provocam grandes surpresas e enormes críticas, como se os melhores não perdessem nem jogassem mal. Por causa dos altos investimentos e dos estádios lotados, torcedores e comentaristas acham que os times brasileiros são melhores do que são.

Flamengo, depois de 27 jogos invicto, jogou mal e perdeu por 2 a 1 para o Central Córdoba, da Argentina. Foi uma surpresa, porém outras derrotas vão ocorrer. O Flamengo, completo, possui um ótimo time, mas não é tão superior aos outros. O elenco é bom, mas nem tanto. Faltam, do meio para a frente, reservas de nível próximo ao dos titulares.
 

Cruzeiro, mesmo em formação, é superior ao desconhecido time Mushuc Runa, do Equador, porém não foi tão surpreendente a derrota. O presidente do clube e o treinador admitiram que o nível técnico da equipe está muito abaixo da expectativa dos torcedores e da imprensa.

Inter e Atlético Nacional, da Colômbia, fizeram uma excelente partida. Não foi surpresa. O Inter, até o momento, é o time que tem jogado de maneira melhor na Libertadores, e o adversário, das partidas que vi, foi o melhor entre as outras equipes sul-americanas. O jogo foi equilibrado até a expulsão do jogador do Atlético, quando o placar apontava 1 a 0 para o Inter. A partir daí, ficou fácil chegar aos 3 a 0. O ótimo meia Alan Patrick fez os três gols, sendo dois de pênalti.

Palmeiras está muito tenso, sempre à espera de grandes partidas. A cobrança da torcida é exagerada. Ganhar do Cerro Porteño por 1 a 0 não foi surpresa. O time não encanta, mas geralmente ganha por causa do equilíbrio, da consistência e da qualidade técnica. A equipe joga cada partida como se fosse a última.
 

Os vibrantes torcedores do São Paulo ainda não se acostumaram com os pontos perdidos quando o time joga no Morumbis. O time é bom, mas nem tanto, ainda mais com as ausências de Oscar e Lucas Moura. Não foi tão surpreendente mais um empate em casa.

Deveríamos nos acostumar mais com as atuações sem brilho e com as derrotas inesperadas. A vitória do Arsenal em casa sobre o Real Madrid não foi surpresa, mas o placar de 3 a 0 não era esperado. Nada está decidido. O Real tem muitas esperanças nas recentes viradas históricas, e o Arsenal está preocupado com essa mistura de mistério e de qualidade técnica do time espanhol. 

Depois das contratações dos excepcionais Mbappé e Bellingham, o Real formou um quarteto ofensivo fantástico que tem decidido muitos jogos. Mas o time anterior, com um trio no meio-campo (Casemiro, Modric e Kroos) e outro trio no ataque (Vini, Rodrygo e Benzema) era mais equilibrado e tão ou mais eficiente. A defesa era mais protegida, e a equipe tinha mais o domínio da bola no meio-campo.

Hoje, o melhor time do mundo, que mais ganha e fascina, é o Barcelona, com seis jogadores excepcionais do meio para a frente, três no meio campo e três no ataque, próximos, que se entendem muito bem. Os quatro defensores marcam no meio-campo e também estão perto dos outros seis. É uma aula de compactação, com riscos que valem a pena. Assim como viver, encantar é perigoso.

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