Brasil barra participação dos EUA em cúpula sobre democracia na ONU
Governo Lula, ao lado de Espanha, Chile, Colômbia e Uruguai, exclui os EUA do fórum “Em Defesa da Democracia e Contra o Extremismo”, às margens da ONU em Nova York
Lucas Toth/Vermelho
Brasil e aliados decidiram não convidar os Estados Unidos para a segunda edição do evento “Em Defesa da Democracia e Contra o Extremismo”, que será realizado na próxima quarta-feira (24), em Nova York, às margens da Assembleia-Geral da ONU.
A exclusão foi definida pelo governo brasileiro em articulação com Espanha, Chile, Colômbia e Uruguai.
Segundo integrantes da diplomacia em Brasília, não haveria condições de estender o convite a um país que, sob Donald Trump, vive uma “virada extremista” e tem feito ataques ao sistema eleitoral e ao Judiciário brasileiros.
“Seria uma incoerência”, resumiu um funcionário do governo Lula à Folha de S.Paulo.
O fórum deve reunir representantes de cerca de 30 países, entre eles Alemanha, Canadá, França, México, Noruega, Quênia, Senegal e Timor Leste. Também estão convidados o secretário-geral da ONU, António Guterres, e representantes da União Europeia.
O encontro foi idealizado no ano passado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva e pelo premiê espanhol, Pedro Sánchez, com o objetivo de coordenar respostas internacionais a ameaças à democracia.
Na primeira edição, os EUA, ainda sob Joe Biden, enviaram um representante do Departamento de Estado. Desta vez, a justificativa oficial é que as medidas do governo Trump — como o perdão a 1.500 condenados pelos atos de 6 de Janeiro em Washington e a revogação de iniciativas contra a desinformação — vão na contramão da agenda do grupo.
O republicano também tem pressionado por punições a personalidades que criticaram Charlie Kirk, ativista conservador morto em 10 de setembro, e se opõe à regulação de plataformas digitais.
As tensões entre Brasília e Washington se intensificaram desde julho, quando Trump anunciou sobretaxa de 50% a produtos brasileiros, cancelou vistos de autoridades e aplicou sanções contra o ministro Alexandre de Moraes com base na Lei Magnitsky.
Nesta semana, o secretário de Estado, Marco Rubio, afirmou que novas medidas punitivas serão impostas após a condenação de Jair Bolsonaro por tentativa de golpe de Estado. Entre as possibilidades, estão novas restrições de visto, aumento de tarifas e até a inclusão da esposa de Moraes na lista de sanções.
Lula desembarca neste domingo (21) em Nova York, onde abrirá os discursos da Assembleia-Geral na terça (23).
Na segunda (22), ele participa de um evento sobre a solução de dois Estados para a Palestina, posição defendida pelo Brasil e rejeitada pelos EUA.
Já na quarta (24), pela manhã, o presidente brasileiro presidirá a reunião “Em Defesa da Democracia e Contra o Extremismo”, que também discutirá desinformação, discurso de ódio e desigualdade social.
Será a primeira vez que Lula e Trump estarão no mesmo local desde a vitória do republicano e o anúncio das sanções contra o Brasil. Embora não haja previsão de encontro direto, assessores não descartam que o brasileiro utilize seu discurso na ONU para responder a eventuais novas medidas.
O pronunciamento de Trump está programado logo depois da fala do Brasil, que tradicionalmente abre o debate anual da Assembleia-Geral.
Na pauta da reunião de alto nível, além das tensões entre Brasil e EUA, devem aparecer temas como a guerra na Ucrânia, o conflito entre Hamas e Israel em Gaza — que Lula já classificou como genocídio — e a COP30, marcada para novembro em Belém.
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Um mito norte-americano: “A maior democracia do mundo” https://lucianosiqueira.blogspot.com/2025/07/enio-lins-opina_24.html
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