Um ano morno
Luciano
Siqueira
instagram.com/lucianosiqueira65
Passaram-se décadas que se somam e me fazem um senhor idoso. Bom ou
ruim? Não sei dizer ao certo, mas certamente prefiro considerar ótimo que tenha
vivido tanto e ainda desejo viver mais...
Natural assim que as reminiscências surjam de vez em quando, sem aviso
prévio e em fragmentos.
Às vezes é um fato aparentemente fortuito cuja importância em minha vida
sequer desconfiava.
Outras vezes é simplesmente uma data. Um ano, como 1956 — que me vem à
mente nesta tarde de domingo em que aqui na rede da varanda, entre breves
cochilos, leio crônicas de Antônio Maria e Paulo Mendes Campos.
Por que exatamente 1956, assim solto no ar feito pipa cuja linha se
desprendeu do controle do garoto que a empinava?
De 1954 me recordo da transmissão dos jogos do Brasil na Copa do Mundo
pelo alto-falante que meu pai instalou no poste da esquina, na Lagoa Seca,
periferia de Natal. Tudo parecia fascinante aos meus olhos de menino de 8 anos,
aquela voz de locutor que de vez em quando parecia desaparecer e voltava mais
forte, o som distante, captado talvez em ondas curtas.
Mas de 1956 pouco me recordo. Talvez um ano meio morno e cinza. Só isso.
E que me salta à mente tão somente para lembrar que em minha vida de menino
foram doze meses assim sem memória. Nada mais.
Foto: Hart Preston, revista Life
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