26 setembro 2025

Lula cresce

Acertos do governo Lula e disparates do bolsonarismo impulsionam avaliação positiva
Pesquisas mostram que brasileiros percebem melhorias resultantes de atuação federal, bem como a verdadeira face anti-povo, autoritária e nada patriótica da extrema direita
Priscila Lobregatte/Vermelho  

Uma série de pesquisas recentes mostra a consolidação da melhora na avaliação do governo Lula, o que levanta aspectos importantes sobre o atual cenário político — tanto do ponto de vista da atuação federal quanto dos apuros vividos pela direita, especialmente a bolsonarista. A um ano das eleições, esse empuxo é fundamental para firmar uma trajetória ascendente e pavimentar uma segunda vitória dos setores democráticos, populares e de esquerda contra a extrema direita.

Pelo menos seis pesquisas apontam para esse quadro. Para ficar em apenas algumas delas, a mais recente, Pulso Brasil/Ipespe, divulgada nesta quinta-feira (25), indica um crescimento de sete pontos percentuais na aprovação do governo, que chegou 50%, ante 48% de desaprovação. A comparação foi feita em relação ao levantamento de julho. Ao todo, foram ouvidas 2,5 mil pessoas entre os dias 19 e 22 deste mês.

Na avaliação do instituto, aspectos como a reação do governo ao tarifaço de Donald Trump e a repercussão negativa da aprovação da PEC da Bandidagem na Câmara podem ter contribuído para essa leitura.

A Atlas/Intel mostrou movimento semelhante nas medições de junho a setembro: os que avaliavam negativamente saíram de 51,8% para 48,3%, e os que acham o contrário subiram de 47,3% para 50,8%.

Com diferenças mais apertadas, mas seguindo também essa tendência, o Datafolha mostrou que em abril 49% desaprovavam contra 48% agora, índice que empatou com os que aprovam — essa percepção havia oscilado dois pontos para baixo e depois voltou a crescer.

A Ipsos/Ipec (antigo Ibope) também demonstrou melhora na percepção, que saiu de 40% em março para 44% agora. Já os que desaprovam caíram de 55% para 51%.

A sequência de pesquisas feitas pela Genial/Quaest desde março até agora também aponta para uma tendência positiva. Se no primeiro mês dessa série a desaprovação estava em 56%, em setembro e agosto ficou em 51%, enquanto a aprovação, que era de 41%, foi alçada a 46%.

Levantamento do mesmo instituto neste mês mostrou, ainda, que para 64%, o governo Lula acertou ao defender a soberania nacional frente aos EUA e 53% deram a mesma opinião sobre a aliança com o Brics. Além disso, 49% disseram que Lula e o PT estavam agindo mais corretamente na questão do tarifaço, contra 27% de Bolsonaro e aliados.

Fatores centrais

A maneira como se forma a percepção popular sobre um determinado assunto é multifacetada e vai desde aspectos ideológicos, socioeconômicos e culturais até o impacto que causa no seu dia a dia. No caso da avaliação de um governo, elementos desse tipo têm ainda mais peso, assim como influenciam assuntos que estão em alta no noticiário.

No caso do governo Lula — para além de erros políticos e de comunicação e dos ataques sistemáticos e, em geral antiéticos da direita — a soma de todos os fatores tem se mostrado positiva ao governo.

Se no começo do ano foi necessário enfrentar o bombardeio vindo da campanha sórdida feita pelos bolsonaristas contra medidas de maior controle no Pix e da fraude do INSS — cujo esquema teve início durante o governo anterior —, além da inflação sobre os alimentos, mais recentemente a chave virou (e em parte com a ajuda dos sucessivos tiros no pé dados pelo bolsonarismo).

Sobre esses temas, é importante lembrar que houve certa reversão. Mais recentemente, a maior operação já feita contra o crime organizado, deflagrada a partir de ações do Ministério da Justiça e da Polícia Federal, revelou o uso de postos de combustíveis, sistema financeiro e das transferências instantâneas por poderosas facções tanto para viabilizar sua atuação quanto para lavar dinheiro.

Isso escancarou que o controle que o governo federal tentou implementar no início do ano teria contribuído para rastrear essas transações — mas, a atuação dos bolsonaristas (especialmente o deputado Nikolas Ferreira) deixou o terreno livre para que os criminosos seguissem usando essas ferramentas ilicitamente.

No caso da fraude no INSS, a atuação do governo para afastar possíveis envolvidos, levantar o tamanho do rombo, atuar junto aos órgãos de controle e de justiça para investigar e acabar com o esquema — o que não foi feito durante os quatro anos de Bolsonaro —, bem como a devolução dos valores roubados de aposentados e pensionistas mostrou seriedade no enfrentamento da crise.

Da mesma forma, a inflação teve recuos importantes, sobretudo para a parcela mais pobre da população. De acordo com o Ipea, em agosto a queda na inflação foi mais sentida justamente por esse público. Enquanto o índice oficial ficou negativo em 0,11%, o custo de vida para famílias que ganham até R$ 3,3 mil teve recuo superior a 0,20%.

Cabe lembrar que em agosto o país teve deflação e em setembro, uma redução considerável no grupo alimentício: os preços caíram 0,63%, a quarta queda seguida no ano. Entre os principais itens com deflação, estiveram o tomate (-17,49%), a cebola (-8,65%), o arroz (-2,91%) e o café moído (-1,81%), segundo o IPCA-15, do IBGE. Importante também ressaltar o desemprego recorde, que vem melhorando a renda dos trabalhadores, a o apoio à luta pelo fim da jornada 6×1, que tramita no Congresso.

Outro elemento que conta positivamente é o reflexo de diversas políticas sociais na vida do povo — além do Bolsa Família, o Pé-de-Meia, o Gás do Povo e o Luz do Povo são alguns exemplos. Além disso, o governo se dedicou à busca por justiça tributária por meio da isenção do Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5 mil e a taxação BBB (bets, bancos e bilionários).

Erros em série

Mas, a cereja do bolo desse cenário positivo veio justamente pelas mãos daqueles que queriam roubar o doce. A ação de bolsonaristas dentro e fora do Brasil para estimular as chantagens de Donald Trump contra o país em troca da suspensão do julgamento de Jair Bolsonaro e seus comparsas por tentativa de golpe de Estado funcionou como um bumerangue, voltando-se contra quem o lançou.

Embora o objetivo original fosse colocar as instituições brasileiras contra a parede, os efeitos negativos do tarifaço de 50% para empresários e trabalhadores, a altivez com que o governo lidou com o caso, as saídas oferecidas aos prejudicados, bem como a histórica condenação do ex-presidente e militares apesar da pressão ilegal, explicitaram o quão nociva é a ação da extrema direita.

Ao mesmo tempo, a gritaria dos bolsonaristas em busca de uma anistia injusta e seu apoio unânime à PEC da Bandidagem, o que garantiu a aprovação da matéria na Câmara, foi outro belo tombo da direita. A indignação popular refletida nas redes e em grandes protestos nas ruas das capitais fez com que a proposta fosse barrada no Senado, garantindo mais um revés para a direita. De brinde, a anistia aos golpistas ainda perdeu força.

O momento, portanto, é estratégico para que as forças que apoiam um projeto democrático e popular ampliem sua presença junto à população, desmascarando o bolsonarismo e mostrando os avanços que vêm sendo obtidos. Catalizar a indignação popular e direcionar essa energia para um projeto avançado de Brasil é passo fundamental para enterrar a extrema direita.

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Leia: "Dos salões para as ruas" https://lucianosiqueira.blogspot.com/2025/09/minha-opiniao_65.htm

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