Cantando e caminhando, forças democráticas voltam às ruas
Enio Lins
NO DOMINGO, 21, uma gigantesca bandeira brasileira foi carregada sobre a multidão na Avenida Paulista, em São Paulo. Foi resposta (à altura) à provocação antinacional cometida pela extrema-direita no mesmo local, duas semanas antes, em 7 de setembro, quando uma gigantesca bandeira estadunidense foi carregada sobre uma multidão de lesas-pátrias. A alma da brasilidade foi lavada anteontem, com muita alegria, muita música – em todo Brasil, pois em todas as capitais estaduais multidões saíram às ruas defendendo a Democracia, posicionando-se contra as ameaças da PEC da Bandidagem e do PL do Perdão aos Golpistas.
EM MACEIÓ NÃO FOI DIFERENTE. Uma multidão se concentrou no Largo dos Sete Coqueiros, caminhou e cantou em direção ao Porto de Jaraguá. A cantora Simone, de passagem por Alagoas para uma apresentação no Teatro Gustavo Leite se engajou na manifestação desde os dias anteriores, emprestando seu nome aos convites para o ato. Momento empolgante, marcando – na capital alagoana como em todas as capitais brasileiras – o retorno das multidões às ruas em defesa da independência nacional, da Democracia, da autonomia do Poder Judiciário, e contra a traição à pátria, contra o golpismo, contra a impunidade, contra o banditismo, contra o crime organizado.
ESSA RETOMADA DAS RUAS é a questão mais importante a ser ressaltada. Mas um segundo quesito merece atenção e exige resposta rápida: as manifestações podem e devem ser muito ampliadas, ainda estão abaixo da capacidade mobilizadora das forças democráticas, e muito aquém da enorme parcela do povo brasileiro que discorda do golpismo e da impunidade. Crescer mais e mais rapidamente é o desafio para as massas nas praças. Em todo Brasil, no domingo, a manifestação de maior amplitude e generosidade foi a no Rio de Janeiro. Deve servir de exemplo. Foi política, foi cultural, foi artística, foi eletrizante – e o destaque da fina flor da música brasileira no palanque, conduzindo e embalando a multidão, o grande diferencial. A grande lição.
ESTE PROCESSO DE LUTA CIDADÃ pela Democracia, pela Justiça e contra a impunidade não é exclusivo dos partidos políticos, nem dos sindicatos, nem de ONGs, nem de artistas, sequer é apenas de esquerda. Envolve todos esses segmentos políticos, partidários, ideológicos, culturais. É muito mais amplo que quaisquer siglas, não cabe discriminações a nada que não seja o golpismo, o autoritarismo, o bolsonarismo, o banditismo – esses são os alvos, são os inimigos do povo brasileiro que precisam ser combatidos sem vacilação. Maceió realizou uma excelente manifestação, avenida cheia, entusiasmante, sem dúvida; mas foi menor do que poderia ter sido. Não vi apresentações de artistas locais, embora fossem visíveis entre a multidão (deveriam estar no palco, se apresentando, como gostar iam de fazer). Não vi lideranças importantes como o deputado Daniel Barbosa (que votou, junto com Paulão, contra a PEC da Bandidagem). E Renan Calheiros, Renan Filho, baluartes históricos na defesa do governo Lula e das bandeiras democráticas, foram convidados? Resumindo: salvo melhor juízo, não foram incluídas lideranças indispensáveis à luta política e eleitoral contra a extrema-direita e o bolsonarismo. Erro a corrigir, urgentemente.
SÃO ESSENCIAIS AS VOZES DAS RUAS. Mas se não forem ouvidas pelas urnas, se não se refletirem em votos, pouco significam. Para 2026, o diversificado espectro democrático precisa ampliar sua presença na Câmara Federal e no Senado, não basta ganhar a presidência da República. Na prática, na luta pelo voto, essa obviedade não tem sido compreendida pelas forças progressistas, especialmente pelas esquerdas. E, sem esse entendimento político – combativo, amplo e pragmático – mesmo lotadas de gente caminhando e cantando, as ruas viram becos sem saída.
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Leia: "Dos salões para as
ruas" https://lucianosiqueira.blogspot.com/2025/09/minha-opiniao_65.html
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