23 agosto 2023

Enio Lins opina

Dilma, seu mandato roubado, a economia e a política

Enio Lins*



Invisível às pautas dos principais veículos de comunicação do Brasil, a decisão do TRF-1, mantendo a inocência de Dilma Rousseff, Guido Mantega e Luciano Coutinho no caso das “pedaladas fiscais” foi a principal notícia da semana.

Apenas os veículos “engajados” destacaram o acontecido, naturalmente em regozijo com o resultado que atesta a inocência dos acusados e a improcedência de motivo justificável para o impeachment da primeira presidenta brasileira.

Dos pontos de vista jurídico e político, nenhuma novidade. Desde 2016 que todo mundo tinha certeza da inconsistência de motivação legal para o impedimento do mandato da presidente Dilma. A questão sempre foi política.

Política a partir de uma debacle econômica, pois aí está o busílis do mundo civilizado, mesmo antes do sistema capitalista tomar conta do terreiro. Marx já apontava a proeminência da motivação econômica para os tremores políticos e sociais.

Não só o barbudo Karl dizia isso, mas um tal de James Carville, estrategista de Bill Clinton, berrou isso, em 1992, para explicar por que achava que Busch (pai) perderia a eleição mesmo com 90% de aprovação por conta da invasão ao Iraque.

No caso da ilegal cassação de Dilma, somaram-se a crise econômica e a tradicional inabilidade política da presidenta. Com a maré favorável, em tempo de economia pujante, ser hábil nas articulações com o Congresso era secundário.

Na crise, só a habilidade política salva. Inabalável em suas posições, a então presidenta teve sua base rapidamente corroída e o Legislativo não titubeou em usar o mesmo expediente que lançara mão em 1992: o impeachment por motivação política.

Todo mundo sabia que Dilma era inocente e que inexistiam razões legais para o impedimento ser – sequer – discutido. Mas, dado o somatório desses dois fatores, a economia em crise e a teimosia da presidenta em alta, a rasteira foi rápida.

Dilma não terá de volta o resto roubado de seu mandato. A história segue adiante. Resta olhar pelo retrovisor e ver, mais uma vez, que economia e habilidade política determinam o andar da carruagem, para o sucesso ou para o desastre.

Pressão midiática suspeita e inconsequente https://tinyurl.com/sc265a2f

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