Superman: herói moderno, reflexo de um mundo dividido
O novo filme do Superman chega às telas não apenas como um espetáculo de ação, mas como um vibrante comentário social
Thiago Modenesi
Hoje tive o prazer de assistir o novo Superman com meu filho no cinema, como deve ser feito com um filme estupendo como esse: tela grande, completa imersão e som de primeira, para degustar plenamente a experiência.
O novo filme do Superman chega às telas não apenas como um espetáculo de ação, mas como um vibrante comentário social, corajosamente politizado e incrivelmente relevante para os nossos tempos. Longe de ser um mero escapismo ingênuo, a narrativa abraça as complexidades do mundo atual, usando o mito do Homem de Aço para explorar temas urgentes de forma positiva e provocativa.
A abordagem mais impactante é a reimaginação de Kal-El (nome kriptoniano de Superman), não apenas como um alienígena, mas como um imigrante indocumentado. Sua chegada infantil a Terra, fora das vias legais, e sua luta para se integrar, escondendo sua verdadeira identidade, é uma poderosa metáfora para a experiência de milhões. O filme não teme em mostrar os desafios, o preconceito velado e o medo constante que acompanham essa condição, principalmente nos EUA de Donald Trump.
O filme transforma isso em força. A dupla identidade de Clark Kent, o imigrante que se esforça para pertencer, e Superman, que usa seus dons únicos para proteger sua nova casa, é uma celebração do potencial e da contribuição inestimável que os “forasteiros” trazem para a sociedade que os acolhe. É uma afirmação positiva: a força de uma nação reside em sua capacidade de integrar e valorizar aqueles que buscam um refúgio e um futuro melhor, independente de sua origem.
No polo oposto, Lex Luthor surge não como um mero gênio do mal, mas como uma sátira afiada e atualíssima de uma elite perigosamente desconectada e de um populismo demagógico, que exala um elitismo tóxico. Sua caracterização ecoa fortemente figuras como Donald Trump: um bilionário narcisista que usa uma retórica nacionalista e anti-imigrante (“America First”) para mascarar seu próprio interesse e desprezo pelas massas. Luthor manipula o medo do “outro” (Superman, o imigrante alienígena), semeia desinformação, ataca instituições e se apresenta como o único salvador possível – tudo para consolidar seu próprio poder e riqueza. O filme o pinta como o verdadeiro perigo interno, a ameaça que vem de cima, corroendo os valores democráticos em nome de um poder egoísta e de uma visão excludente de grandez a.
Essa politização não é um acidente ou um peso para o filme; é sua grande força. Ao entrelaçar essas alegorias à trama clássica de herói contra vilão, o filme ganha profundidade e ressonância. Ele nos convida a refletir sobre o debate ético da imigração. Quem merece pertencer e qual o valor da compaixão e do acolhimento? O Perigo do populismo e como líderes carismáticos exploram medos para minar a democracia e, por fim, a verdadeira elite, quem realmente ameaça o “sonho americano” (ou qualquer sonho de sociedade justa)?
O novo Superman não foge da discussão; ele a abraça. Ao apresentar o Homem de Aço como o imigrante ilegal definitivo, cujo maior poder é sua humanidade e compaixão, e ao retratar Lex Luthor como a síntese das piores tendências das elites e do populismo contemporâneo, o filme oferece uma radiografia social poderosa. Faz isso sem perder o entretenimento, mas acrescentando uma camada de significado que transforma o herói em um verdadeiro símbolo dos desafios e esperanças do nosso tempo.
É uma lufada de ar fresco ver um blockbuster com tamanha coragem de ser politicamente relevante e, acima de tudo, de defender valores de inclusão, verdade e justiça social como pilares fundamentais do heroísmo – e da sociedade que vale a pena ser protegida. Um voo alto não apenas em ação, mas em consciência social. Palmas para o diretor James Gunn e sua coragem de transpor tão claramente as contradições do século XXI para as telas do cinema.
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