13 outubro 2025

Abraham Sicsu opina

Nobel e o futuro
Abraham B. Sicsu  

Não entendo do assunto. Mas, sou curioso, sempre procuro acompanhar o anúncio. Mês do Prêmio Nobel, a Laura maior.

Outubro, mês da divulgação, são revelados os ganhadores. Todas as vaidades acadêmicas ficam ouriçadas. Há gente que espera a vida toda e nunca virá. Pena. São poucos os contemplados.

Ser um Nobel é o ápice para o reconhecimento da genialidade de um mortal. Hoje foi revelado o último dos prêmios, o de Economia, que os “sérios cientistas exatos” cismam em considerá-lo como um pseudo Nobel. Perdem a oportunidade de entender a complexidade do mundo que os cerca.

O que me chamou a atenção é que, este ano, eles apontam para um futuro desejável. Ou seja, não se restringem às áreas de atuação em que se enquadram os laureados, não se restringem a atacar mazelas reais ou sociais, mas apontam para novos caminhos a serem percorridos pela humanidade.

O de Medicina, dado a três cientistas que estudaram o sistema imunológico humano, e fizeram descobertas sobre a tolerância imune periférica, apontam para caminhos que podem liberar a sociedade de seus males na saúde mais temidos, as doenças auto-imunes, como o câncer e a AIDS, apontando para caminhos que podem ser muito promissores no tratar e debelar essas mazelas.

O de Física, com mais três cientistas premiados, apontam para a computação quântica e a criptografia avançada, mostrando que os limites que se tinham podem ser constantemente superados.

As velocidades inimagináveis, os sistemas com efeitos quânticos nos circuitos, permitem ao Homem superar as barreiras do impossível. Acredito que chegará o dia em que provaremos que o infinito será totalmente dominado, portanto finito. Uma nova linguagem matemática que nos leva a um mundo sem inesperado. Talvez muito chato.

O da Química, que nos apresenta materiais ultraporosos capazes de capturar, armazenar e separar moléculas em nível atômico. Materiais esponjosos que conseguem armazenar grande quantidade de matéria em seu interior.

Imaginem cenário em que a poluição ambiental pode ser fortemente capturada por um pequeno recipiente, ou um deserto que pode retirar do ar água para abastecer populações. É disso que se está falando.

Dois prêmios de humanidades.

Um escritor húngaro que em dias turbulentos e apocalípticos como os nossos aponta a Arte como a salvação. Magnífico, extraordinário. Não li, mas já pedi seus livros e vou ler. Não posso imaginar saída mais confiável e esperançosa para nossos dias.

Outro, do qual discordo. Deixemos para outra oportunidade a discussão dos porquês.

É o da Paz. Evidentemente, defendo a luta por uma democracia em todas as nações. Regimes ditatoriais são sempre indesejáveis. Mas, também, pessoas que por interesses políticos admitem o sacrifício de seus povos, de populações já muito oprimidas, não merecem meu respeito. Em todo caso, aponta para um princípio importante, a busca de uma sociedade mais harmônica e participativa, sem que a opressão de tiranos se perpetue e gere uma classe de super poderosos. Prefiro entender assim, embora sabendo que os fatores que motivaram a premiação têm outra esfera de definição, que há interesses questionáveis envolvidos.

Saiu, hoje, o de Economia. Uma boa surpresa.

Premiados três economistas. A essência das Teorias de raiz schumpeteriana volta a ser lembrada, teorias que vêm na inovação a base do desenvolvimento. Que entendem serem necessários mecanismos que permitam à sociedade controlar a entrada das idéias e coisas novas em substituição do velho sistema que está funcionando. Mas, alertam, é importante que se busquem caminhos confiáveis, não predatórios, para o Homem e para a natureza. A isso chamamos de desenvolvimento sustentado ou sustentável, como queiram. Em que o progresso técnico seja utilizado como o caminho para uma civilização mais humana e menos desestruturante.

Dediquei minha vida acadêmica a essa área e vejo nos trabalhos premiados um reconhecimento de que podemos ter esperança, podemos imaginar um mundo em que se viva com mais harmonia. Pelo menos, em tese.

Como disse, não sou cientista e muito menos especialista em avanços na ciência que realmente apontem para mudanças na humanidade. No entanto, o que vejo nesse quadro, que agora se completou, é que há buscas para reais melhorias de qualidade de vida. Essas buscas jamais poderão prescindir da Ciência, caminho que realmente pode dar embasamento sólido para um novo Mundo. E isso é inspirador. 

Discordemos de premiados, mas apostemos nessa rota para o Futuro que temos que construir para nossa civilização.

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