24 outubro 2025

Abraham Sicsu opina

O petróleo é nosso, para quê?
Abraham B. Sicsu  

Decretaram o fim da Era Petróleo. Desde o famoso Relatório Meadows, “Os Limites do Crescimento”, elaborado para o Clube de Roma em 1972. A partir daí, um número mágico reaparece, constantemente, 20 ou 25 anos no máximo. 

 Período em que vai se chegar à manipulação ambiental insuportável e à exaustão de recursos naturais não renováveis, necessária o fim de um modelo predatório de crescimento, que obrigatoriamente teria que se mudar, que teria que se impor limites estruturais e transformações ao modelo. Não aconteceu e é provável que aconteça com essa celeridade. Mas, a ameaça sempre está presente.

Novas reservas significativas têm sido descobertas, avanços tecnológicos na otimização de processos e, principalmente, interesses econômicos fortíssimos que impedem que uma riqueza nova, um novo paradigma assentado em fontes renováveis ​​de energia, venha substituir a riqueza velha que tem no petróleo seu alicerce, seja para a indústria, seja para os combustíveis que movem o sistema. É difícil imaginar a existência de uma alternativa tão versátil e com custo competitivo.

A intencional Destruição Criativa que modificar a dinâmica do desenvolvimento não deve se dar a esse ritmo, há interesses objetivos para perdurar por bom tempo o modelo atual. No Capitalismo não se pode desprezar a força dos fatores econômicos.

Se isto for o quadro, entenda uma polêmica que se a localização for necessária. Os Ambientalistas e os Desenvolvimentistas se digladiam.

Estou me referindo ao caso brasileiro, à disputa que se dá a respeito da possível exploração da Margem Equatorial Brasileira, uma área de mais de 2.200 quilômetros, que vai do litoral do Rio Grande do Norte até o Amapá.

Ambientalistas são como um absurdo o Brasil entrar nessa exploração petrolífera, seria uma área muito próxima de manguezais, a maior em extensão do mundo, e de arrecifes, onde um sistema amazônico foi descoberto e mapeado em 2016. Qualquer acidente ecológico comprometeria esse riquíssimo ecossistema e traria enormes prejuízos para a vida em nosso planeta.

Outro ponto, fortemente atacado, tem sido a incoerência, visto que por eles, o Brasil defende uma limitação máxima das alterações climáticas de temperatura média em 1,5 graus Celsius e continua incentivando o consumo de combustíveis fósseis. Às vésperas da COP 30, um passo contraditório que deslegitimaria o País na defesa e liderança de um Mundo menos degradado.

Os Desenvolvimentistas têm outra visão sobre a questão.

Afirmo que a Petrobrás é uma das poucas empresas mundiais que dominam a tecnologia mais avançada em controle ambiental, que as negociações com os Órgãos do Meio Ambiente levaram a uma série de medidas de proteção e de aperfeiçoamento que tornam mais seguro o empreendimento. Além disso, pelo lado econômico, que teria impactos muito importantes para permitir mudanças de qualidade de vida numa região extremamente cuidadosa. Reduziria as disparidades regionais absurdas do País.

Uma querela de respeito, que deve ser mais bem explicitada, melhor compreendida.

Vem desde 2020, com a dificuldade do IBAMA, Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis, aprovar um poço exploratório. Acredito que tenha sido bom, tendo em vista que vários critérios foram feitos e atendidos no sentido de aumentar a segurança ambiental de qualquer atividade na região.

Deve-se ressaltar que a região já explora petróleo na nossa vizinha Guiana. É a mesma formação geológica. Desde 2015. Em parceria com empresas multinacionais onde se destaca a americana Exxon.

Isso fez com que aquele País desse um salto gigante em sua renda por captar. Hoje, a maior da América do Sul. Em 2024, a renda per capita da Guiana ultrapassou os 33 mil dólares ano, enquanto o Brasil está nos dez mil.

Geração de riqueza que um País como o Brasil não pode, ou não deve ignorar. Estima-se que a exploração na costa brasileira pode gerar recursos importantes para mudar a situação dos Estados do Norte e Nordeste, apenas com os royalties que seriam auferidos.

Um segundo ponto deve ser salientado, está relacionado com o quadro descrito no início, bem como com as reservas nacionais do líquido negro.

Hoje, calcula-se que entre reservas já cubadas, prováveis ​​e potencialmente potenciais, o Brasil teria cerca de 28 bilhões de barris de petróleo confirmados.

Com a dinâmica de demanda e potenciais crescimentos, especialistas calculam que no início de dois mil e trinta, se começa a ter um esgotamento das reservas que podem comprometer a posição do Brasil como importante player mundial, inclusive comprometendo a auto-suficiência.

Também, segundo os especialistas, há uma esperança fundamentada de que na Margem Equatorial se tenham reservas de petróleo equivalentes às já cubadas, ou seja, mais de 8 bilhões de barris de petróleo. Isso seria estratégico para manter a posição nacional no cenário internacional.

A exploração na região não parece ser uma aventura com poucas perspectivas. No leilão recente,   de 19 dos 47 blocos que foram oferecidos na sub-região da Foz do Amazonas, a disputa foi entre gigantes da área petrolífera, tendo como principais vencedores a Petrobrás, a Chevron e a Exxon, a mesma que é a grande parceira da Guiana na exploração em sua área da Margem Equatorial. Indicativo concreto de que há mais que probabilidades vagas em reservas sérias no local.

Um detalhe que não pode ser ignorado, embora possa ser um problema menor. Na disputa por posições, a questão política surgiu como argumento dos ambientalistas.

Críticos ecologistas se referem a interesses políticos que estariam buscando decisões. Dizem que os maiores assuntos específicos são os atuais Presidente e Líder do Governo no Senado.

Não tenho dúvidas de que tiveram influência e terão retornos políticos. Eleitos inclusivos. Mas, não acho um bom argumento. Em geral, todo o processo tem vitórias políticas. Principalmente, se trouxeram resultados efetivos positivos. Acredito que é essa avaliação que deve centrar seu foco. Talvez, focar na tese de que os benefícios sociais e econômicos de curto prazo não seria um argumento para os possíveis desastres de médio e longo prazo. Talvez seja melhor ter sucesso.

Polêmica posta e as dúvidas persistem.

Sem engenhosidade, acreditando entender os interesses envolvidos, realisticamente, sou a favor da exploração. Com toda a tecnologia de controle que a Petrobrás possui e desenvolverá. Deixar o Brasil de fora enquanto a indústria petrolífera continua avançando mundialmente não parece racional. Privar o país de uma riqueza que pode ser um diferencial importante para a inserção de regiões oprimidas num processo de crescimento, no mínimo é questionável.

Apenas a opinião de um coletor que força para dar certo o empreendimento.

[Se comentar, identifique-se]

Leia também: Terras raras: por que evitar aproximação com os EUA  https://lucianosiqueira.blogspot.com/2025/10/reservas-estrategicas.html

Nenhum comentário: