A militância tem suas agruras*
Em tom de reflexão, o texto revela o lado humano da militância comunista — suas alegrias, contradições e a felicidade de quem dedica a vida ao ideal coletivo do PCdoB.
Luciano Siqueira
instagram.com/lucianosiqueira65
No ambiente do 16⁰ Congresso do PCdoB, em Brasília, marcado pelo entusiasmo militante:
— Ó Partido da revolução!
— A consciência e a honra da nação!
— Um, dois, três, quatro, cinco mil e viva o Partido Comunista do Brasil!
Um jovem militante me aborda na área do cafezinho:
— Admiro vocês, velhos militantes, felicidade a vida inteira.
Não sei precisamente a que sentido de “felicidade” ela se refere, mas não a decepciono:
— Sim, a militância de uma vida inteira nos faz feliz.
(Sempre digo, com muita verdade que o PCdoB é uma escola de consciência socialista e de solidariedade humana; uma fonte permanente de felicidade pessoal).
Ela faz “uma selfie” comigo, diz que é para o “Insta”, me beija o rosto e se afasta dos passos de evidente paixão.
Cá com meus modestos botões, por um instante, reflito sobre as agruras da militância, nem sempre mencionadas, para além do ataque frontal do inimigo, incluída a prisão e a tortura sob a ditadura militar.
Refiro-me às agruras subjetivas, comumente resultante da insatisfação com persistentes deficiências do coletivo partidário, manifestações primárias de individualismo e que tais.
Mais pesados quando se referem ao relativo atraso na abordagem de desafios teóricos e políticos ou a atitudes precárias de organismos dirigentes intermediários, que ilusoriamente bastam-se a si mesmos e negligenciam o trato com as organizações de base, estes sim o centro de atuação cotidiana junto ao povo.
Pois é uma militância, pulsante, embandeirada da luta de ideias em articulação com a atuação coletiva que instala em cada um de nós a consciência da honra e da felicidade de pertencer ao PCdoB.
Daí assaltar ao espírito do militante de muitas décadas uma espécie de “insatisfação rebelde e criativa”: comemorar a persistência do PCdoB por mais de um século, sim; mas fundir o orgulho e a humildade militante pela consciência dos desafios que se colocam permanentemente.
*Texto da minha coluna semanal no portal 'Vermelho' www.vermelho.org.br
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