26 outubro 2025

Minha opinião

Indiferença via digital 
Luciano Siqueira 
instagram.com/lucianosiqueira65  

Muito já se falou em "silêncio ensurdecedor" no uso do paradoxo para acentuar o incômodo de quem espera pelo menos uma palavra e não a obtém. 

Uma forma talvez mais contemporânea seja "silêncio digital" — que ocorre precisamente quando alguém lê ou ouve a mensagem que você envia pelo WhatsApp e silencia. 

Está ali consignado em azul que foi vista, lida ou ouvida. Somente isso. 

Dia seguinte, rápida olhada em busca da palavra ausente. Tudo na mesma. 

A indiferença, desde os primeiros tempos do homo sapiens, emergiu como algo incômodo. Como imaginar um ser primitivo de tacape à mão tentar agredir um semelhante, que permanece absolutamente indiferente!?

Não confundir com mensagens não vistas. Estas não deixam o rastro do sinal em azul. Simplesmente permanecem onde estão, incólumes.

Acontece quando, por razões as mais diversas, você recebe uma quantidade infinita de mensagens. Natural que não as veja ou as leia de imediato:

— Painho, mandei uma mensagem ontem e você nem viu! 

— Amigo, aguardo sua resposta para o convite que mandei no "zap", sexta-feira já é amanhã...

É que o volume da minha "correspondência" pelo aplicativo é infinitamente superior à capacidade de resposta. Uma herança dos 16 anos em que fui vice-prefeito do Recife: com receio de perder o contato com o povo em razão da atividade administrativa intensa, disponibilizei o número do meu celular para o público, aberto a receber críticas, propostas, denúncias ou simples desabafos através de mensagens escritas ou em áudio, assegurando que nada ficaria sem resposta. 

E assim aconteceu. 

No início do expediente, lia e ouvia mensagens, as respondia de viva voz e indicava qual dos meus assessores cuidaria do assunto logo em seguida.

Experiência muito rica, mas a razão de que após mais de cinco anos fora do governo ainda recebo mensagens como dantes. 

A resultante é a contradição entre o volume que se acumula e a minha atual capacidade de atendê-las. Sempre atrasado.

Um incidente próprio do tempo presente, marcado pela comunicação digital — instantânea e nem sempre eficaz. 

Mas a indiferença incomoda. 

Justo quando você vê que alguém leu ou ouviu sua mensagem e não deu a mínima, a resposta sequer sabe se terá, nem quando.

Nesse caso, como aconselhava meu avô Quincas, "deixe para lá, arrume a trouxa e vá baixar em outra freguesia".

Que assim seja. Nada além.

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Leia também: Meu pardal amigo https://lucianosiqueira.blogspot.com/2010/12/cronica-em-minha-coluna-semanal-no.html

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