Chico
Buarque e a reforma educacional
Luciano Siqueira
instagram.com/lucianosiqueira65
Numa canção dos anos sessenta, Meu refrão, Chico Buarque de Holanda critica o distanciamento entre o
ensino vigente e a realidade brasileira: “Já chorei sentido/De desilusão/Hoje
estou crescido/Já não choro não/Já brinquei de bola/Já soltei balão/Mas tive que fugir da escola/Pra aprender essa lição”.
E havia muita polêmica sobre que reforma
educacional haveria de ser feita para conciliar a escola com a vida.
Até que no final de 1968, início de 1969, sob a
vigência do Ato Institucional n. 5, que aniquilou por completo as liberdades
democráticas no país, e com o Decreto-Lei 577, baixado pela Junta Militar, que
afastou do ambiente escolar alunos, professores e funcionários identificados
como oponentes à Ditadura, vimos, à distância, a concretização da reforma
universitária concebida no chamado acordo MEC-Usaid. Uma reforma – dizíamos
então os estudantes rebeldes – que amoldaria o ensino, a pesquisa e a extensão
aos interesses de fora, em desacordo com a nossa realidade e as necessidades da
sociedade brasileira.
Cinco aos e meio depois, ultrapassados a
clandestinidade, a prisão e as torturas, esse amigo de vocês retorna à
Faculdade de Medicina da UFPE para concluir o curso médico. E tem o desprazer
de presenciar, além de uma espécie de torpor intelectual (em sala de aula quase
não se discutia nada, ao contrário dos anos 67-68 em que se discutia tudo), a
fragmentação da grade curricular. Ao invés de se estudar Clínica Médica, por
exemplo; tinha-se, como se tem até hoje, aulas por curto período de
endocrinologia, nefrologia, reumatologia, cardiologia, gastrenterologia e
outras disciplinas. Ou seja: entráramos na era da especialização precoce, do
conhecimento superficial e desconectado do todo.
Foi a reforma universitária imposta pelo regime
militar.
Agora, mais de três décadas passadas, o PCdoB
inclui entre as reformas que considera indispensáveis e inadiáveis e pelas
quais tenta mobilizar partidos aliados e amplos segmentos da sociedade, a
reforma educacional.
Propõe uma reforma que proporcione a igualdade de
acesso a todos ao ensino básico de qualidade e ao ensino superior; que permita
o controle social do ensino privado e viabilize os investimentos necessários a
incremento da pesquisa científica. Uma mudança sistêmica destinada a assegurar
o direito de igualdade de oportunidade e de condições, reduzindo a imensa
defasagem entre os poucos que hoje conseguem se instruir satisfatoriamente e os
milhões que não têm acesso ao saber.
Que assim seja, para que escola seja o ambiente da
busca democrática do conhecimento libertário, vinculado aos desafios de uma
Nação que se prepara para alcançar seu verdadeiro destino e torne coisa do
passado a crítica de Chico.
*Publicado em minha coluna semanal no portal Vermelho em novembro
de 2007
Veja: Educação e ideologia na reconstrução nacional https://www.youtube.com/watch?v=L6XsaG5YTgg
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