Sinatra, Caymmi e os novos tempos*
Luciano Siqueira
instagram.com/lucianosiqueira65
O tempo não para, ensinava o finado Cazuza. O
repouso é relativo, o movimento é absoluto, aprendemos da dialética. E é assim
mesmo. A vida dá suas voltas e envolve gerações que se sucedem e evoluem no
modo de viver, sofrer, amar e experimentar dor e prazer. Daí, por exemplo, o
gosto musical hoje nem se comparar com o que foi em épocas passadas.
Ruy Castro escreveu sobre isso na Folha de S.
Paulo um dia desses. Reclamou que o site da revista britânica "NME"
-"New Musical Express"- fez enquete com seus leitores sobre os
"20 maiores cantores de todos os tempos". Nada menos que dez milhões
de internautas responderam. Na lista dos escolhidos Michael Jackson apareceu
logo em primeiro, vindo logo atrás Freddie Mercury, Axl Rose, John Lennon,
David Bowie, Robert Plant, Paul McCartney... Da turma da geração do
articulista, que também é a minha, apareceram apenas Ray Charles e Elvis
Presley.
Duas grandes ausências, com toda a injustiça do
mundo: Frank Sinatra e Bing Crosby, dois grandes nomes da canção norte-americana
com fãs no mundo inteiro.
Imagine se enquete semelhante fosse feita no
Brasil. Voaria no pau muita gente boa, pois a memória da maioria dos
internautas não vai tão longe. Não fossem os especiais de TV que de vez em
quando ressuscitam gente que já se foi e deu grande contribuição à música
popular brasileira, em diversas fases, quase ninguém saberia de Sílvio Caldas,
Cauby Peixoto, Luis Gonzaga, Dalva de Oliveira, Nora Ney, Dorival Caymmi, Dick
Farney e muitas outras feras lembradas aqui ao acaso. Correríamos o risco de em
breve ninguém falar mais em Ellis, Tom Jobim, Nara Leão e até nos que ainda
estão aí vivinhos da silva, como Nana Caymmi, João Gilberto, Carlos Lyra e
muita gente de primeira.
Se você não ouve, como pode gostar? O problema,
portanto, não é apenas de gosto, que muda através do tempo; é de
desconhecimento mesmo. No Recife, nos anos recentes, levamos artistas e músicos
de qualidade aos bairros de periferia, e também a Orquestra Sinfônica até para
o ambiente de uma fábrica. Sucesso absoluto!
O que tem valor é reconhecido por plateias pouco
letradas e gerações diversas. Porque a boa música penetra por todos os poros e
envolve a alma, desperta sentimentos e sensações nunca antes experimentados. Em
qualquer um, a qualquer tempo.
*Crônica publicada no Blog da Revista Algomais em agosto de 2011
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